LABORATÓRIO DE MÚSICA : Davi batuca no ritmo das viagens e vivências
Rodas de samba no Porto, candombe no Chuí, reggae em Florianópolis, percussão em Portugal. Andanças de Davi “Batuka”
Por Carlos Cogoy
Entre 2005 e 2008, ele residiu em Portugal. Além de trabalhar na construção civil, lancheria, vendedor, e locutor de comerciais, Davi Mesquita, multi-instrumentista natural de Santa Vitória do Palmar, conseguiu espaço para apresentar sua música. Mas, definida a agenda de apresentações em diferentes regiões do país, faltava uma identificação artística. E Davi acatou sugestão, passando a agregar a designação que usava no email. Como não conseguia inserir Davi Mesquita, improvisou o “Batuka”. Com a identificação, ainda participou da gravação de disco, integrando a banda portuguesa “Quaiss Kitir”. Também esteve na Espanha e Marrocos. Ao retornar, participou da efervescência na então Casa do Joquim, ingressou na primeira turma de produção fonográfica na UCPel, e chegou ao cinema através da equipe Moviola. Davi Batuka criou trilhas para filmes como “Estacionamento”, “Futebol Sociedade Anônima” e “Marcovaldo”. Como técnico de som, captou o áudio no documentário “Ô Liberdade”, com Avendano Jr. O período também assinalou a parceria com o ponto de cultura “Outro Sul”, que contava com Betinho Mereb e Edu “Caboclo” Damatta. Entre os projetos, participou das gravações de inúmeros discos, entre os quais de músicos como Solon Silva, Dija Vaz, Marco Gottinari, Serginho Ferret, Eduardo Freda, Celso Krause, e a coletânea “Bandito Dios”. Há três anos, em conjunto com o conterrâneo Dhyan Diano, Davi está à frente de estúdio.
BATUKA RECORDS – Na infância em Pelotas, residia com os pais nas imediações do Porto. Na vizinhança, a sonoridade do bloco Bruxa da Várzea, e a boemia que frequentava o Bar do Moreno e clube Rui Barbosa. Davi recorda que por lá tocavam instrumentistas como Paulino, Jacó do pandeiro e José Chagas. Ao contrário da violência atual, era a época do churrasco na calçada e o samba de roda. Em família, os discos do pai que ouvia rock e jazz, e o samba que era a preferência materna. Adolescente, retornando para Santa Vitória, lembra da loja de música “Bazar Camponês”, que pertencia ao avô. Além da mãe, que tocava harpa e piano, o ambiente da loja também influenciou o jovem. Um tio-avô percebeu a curiosidade, e construiu uma bateria para Davi. Aos doze anos já participava de apresentações na escola. Um pouco do início artístico do músico que divulga o estúdio “Batuka Records”, onde além do som, também são produzidos vídeos. No local, que é uma “embaixada” musical da cidade, recebendo diferentes artistas, também funciona a DFD Soluções em Áudio, sob a coordenação de Dhyan Diano. O trabalho, espécie de laboratório de música, como prefere Davi, acontece em parceria. Contatos: [email protected]; [email protected]
Coletivo Marambaia e Quintal de Sinhá
Reunindo músicos de Pelotas e Rio Grande, o Coletivo Marambaia estará tocando em Moçambique. Na formação, Davi Batuka, Freda, Matheus Menega, e os riograndinos “Luquinha Fê” e Dionisio Souza. Para conhecer o som, sábado pós 23h o grupo estará tocando no Galpão. No evento também a DJ Helô. Já o “Quintal de Sinhá”, grupo autoral que conta com Davi Batuka, em abril lançará o segundo disco “A Roda do Tempo”. O primeiro foi “Raízes e coração”.
REGGAE – Aos quinze anos, Davi Batuka providenciou a então Carteira de Músico, exigência para atuar nos grupos de baile em Santa Vitória. Também foi a fase de aprendizado em relação à técnica de som, participação no Fest Chuí, contato com o candombe e convivência com músicos como Alcione e Pepe Guerra. Na cidade natal integrou o grupo “Extintos do reggae”. Em 2001 foi para Florianópolis, onde trabalhou com marceneiro, e integrou equipe do grupo Dazaranha, até descobrir a banda Nyabingui Reggae. O repertório com covers de Bob Marley, percorria a orla catarinense, e proporcinou temporada no Rio de Janeiro. Com o fim do projeto, Pelotas e o contato com Cardo Peixoto, Dija, Giamarê, Freda e Ana Mascarenhas. Na cidade, Davi tocou na banda “Alma Roots”.
SEM TEMER – Davi observa que o País está num momento crítico. Projetos sociais estão sendo colocados à margem, aumenta a pobreza e se intensifica a violência. Para sobreviver e manter dois filhos, dedica-se diariamente à música, seja como técnico, instrumentista ou arranjador.