LAGOA DOS PATOS : Guarda-vidas que salvaram velejadores são homenageados
A manhã de sábado, foi de homenagens aos guarda-vidas militares que, no último dia 11, salvaram dois velejadores que estavam à deriva na Lagoa dos Patos, em meio a um temporal.
Os soldados Luis Orlando Moura dos Santos, do Corpo de Bombeiros, e Leandro da Cruz Machado, da Brigada Militar, receberam comenda de bravura das mãos do governador Eduardo Leite, acompanhado da prefeita Paula Mascarenhas e de diversas autoridades. A cerimônia foi realizada na Estação Verão Sesc, na Praia do Laranjal.
Paula parabenizou os salva-vidas pelo ato de sensibilidade e bravura, e o professor da UFPel, Fábio Amaro da Silveira Duval, que foi resgatado, escreveu uma carta aberta ao comando do Corpo de Bombeiros como agradecimento aos profissionais. A carta viralizou nas redes sociais. Para Paula, eles representam homens e mulheres da corporação, que se dedicam a salvar a vida de outras pessoas.“Não há nada mais nobre do que salvar a vida de outras pessoas, vocês representam o que há de melhor na segurança pública. Merecem nosso reconhecimento e aplauso constante”, comentou a chefe do Executivo pelotense.
A prefeita lembrou também da parceria constituída a partir do Pacto Pelotas pela Paz, que faz com que os problemas de segurança sejam solucionados de forma coletiva. “Para que a gente possa fincar em nosso território a bandeira da paz”, afirmou.
O governador, Eduardo Leite, falou sobre a bravura dos soldados e sobre este tipo de ação, comumente, permanecer anônima. Ele avalia que, se não houvesse o relato, as pessoas saberiam apenas de mais um resgate. Que ficariam felizes com a ação dos soldados, mas não teriam a dimensão do que aconteceu. Ele estendeu a homenagem a todos os soldados do Corpo de Bombeiros.“Quando me dizem que eu tenho coragem por assumir um Estado com tantos problemas, eu digo que coragem é o que vemos aqui. Obrigado por servir de inspiração para mim e para a minha equipe”, concluiu o governador, dirigindo-se à corporação.
A carta aberta do professor Fábio Amaro da Silveira Duval, ao Corpo de Bombeiros do Rio Grande do Sul:
“Venho perante Vossa Excelência relatar sobre o trabalho exemplar prestado pelo Soldado Cruz e pelo Soldado Santos em uma arriscada operação de resgate dentro da Lagoa dos Patos, no Saco do Laranjal, próximo à Barra do Canal São Gonçalo, na tarde do dia onze de fevereiro do corrente ano.
Eu, Fábio Amaro da Silveira Duval, e Rodrigo Duque Estrada Campos velejávamos a uns 500 metros do Trapiche do Valverde, sob vento NE da ordem de cerca de 10-15 nós, em um veleiro da classe Laser, quando inesperadamente o convés do barco se quebrou na altura da enora ocasionando a brusca queda do mastro, o que deixou-nos à deriva, sem possibilidade de retornar à costa. Nesse momento, no qual ainda portava um telefone celular, comuniquei minha família sobre o incidente e pedi que entrassem em contato com o Corpo de Bombeiros para que fosse efetuado o resgate.
Cerca de trinta minutos depois de feita a comunicação, o vento virou para S e foi bruscamente aumentando de intensidade para uma velocidade certamente superior aos 40 nós. Junto com o vento, assolavam o céu raios com curto espaçamento de tempo em relação aos trovões, indicando que as correntes eletromagnéticas estavam próximas, e uma chuva torrencial que logo transformou-se em chuva de granizo. Nossa visibilidade reduziu-se a um raio de 20 metros, e as vagas, do tamanho de cerca de um metro e picadas, ameaçavam naufragar o barco pelo rombo que se havia formado no convés. Esta situação durou entre de 50 minutos e uma hora, e nisso já estávamos muito mais distantes da praia.
Quando a chuva e o vento amainaram e a visibilidade aumentou, pudemos ver, a cerca de cem metros de nós, dois caiaques. Eram o Soldado Santos e o Soldado Cruz. Haviam remado em meio àquele temporal, enfrentando raios, e vento, e vagas para nos resgatar em dois míseros caiaques, denotando a valentia descomunal destes dois bombeiros que, àquela altura, já estavam arriscando em muito suas próprias vidas para nos resgatar.
Encontramo-nos a cerca de três quilômetros da costa, um barco com um buraco no convés e os dois caiaques, com quatro vidas a eles agarradas. Enquanto amarrávamos as embarcações para proceder ao reboque do Laser pelos dois caiaques, desguarnecidos de motor e dependentes apenas dos remos do Soldado Santos e do Soldado Cruz, o vento voltou a soprar em velocidades crescentes, as quais atingiriam mais de 40 nós novamente. Os raios voltaram a assolar nosso céu e as vagas violentas, que punham água para dentro do casco, eram o presságio de que, em pouco tempo, poderíamos afundar.
Sob o comando do Soldado Cruz, amarramos as embarcações em fila indiana e os dois começaram a remar corajosamente contra o furor das forças da Natureza. Tivéssemos ficado parados, aguardando resgate a motor, certamente as mãos que redigem esta missiva estariam no fundo da Lagoa.
Durante mais de uma hora a proa do Soldado Cruz, seguido do valente caiaque do Soldado Santos, singraram as águas rebocando-nos e atravessando o temporal que castigava. Novamente granizos e vagas e raios e a coragem destes dois soldados em meio a uma tormenta na qual haviam entrado para cumprir sua nobilíssima vocação de salvar vidas.
Depois de muita luta, o temporal começou a se dissipar e nós pudemos ver a costa. Estávamos a cerca de dois mil metros do Trapiche do Valverde e os Soldados Cruz e o Soldado Santos continuavam remando, como haviam feito durante todo o temporal. Exaustos, pudemos ver ao longe uma embarcação motorizada se aproximando. Era o bote do Corpo de Bombeiros que chegava para ajudar esses bravos homens a completar com sucesso a sua missão.
Na chegada à praia, onde meus familiares nos esperavam, meu pai, em extremo agradecimento, ofereceu uma recompensa aos dois soldados. Foi quando, com a postura dos verdadeiros heróis, do tipo daqueles que salvam vidas mesmo que às custas das próprias, o Soldado Cruz e o Soldado Santos disseram: “Nossa recompensa é apertar a mão de quem, em segurança, acabamos de salvar…”.
Diante da narrativa, venho perante Vossa Excelência e perante toda comunidade gaúcha atendida pelo Corpo de Bombeiros Militar, notadamente àqueles lotados nas águas internas, reverenciar o trabalho do Soldado Cruz e do Soldado Santos e recomendar-lhes as mais altas honrarias que esta corporação possa-lhes conceder.
Respeitosamente,
FÁBIO AMARO DA SILVEIRA DUVAL
Cidadão e Professor da Universidade Federal de Pelotas