Diário da Manhã

segunda, 18 de novembro de 2024

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LITERATURA : Crônicas do amor como ele é

16 dezembro
09:20 2016

Sábado às 17h na Pane Mio Gourmet, Charlie Rayné autografará “Memorial de amor inquieto”

Por Carlos Cogoy

Trabalhar com arte neste país é um desafio imenso. Poucas práticas de fomento e muito desinteresse por parte do poder público. No entanto, a arte é uma luz na escuridão. Já vi drogado se recuperar, já vi tímidos dominarem plateias e já vi monstros chorarem. Onde tem dança, teatro, literatura, existe sempre uma ponte para a beleza do mundo. Observação do jornalista, diretor teatral e escritor pelotense Charlie Rayné. Ele amanhã estará autografando o livro de crônicas “Memorial de Amor Inquieto” (editora Berthier). O lançamento será encontro da literatura e teatro, pois Charlie planeja ler duas das crônicas. As escolhidas “O voo rasgado” e “A velha avó”, no entanto, poderão ser trocadas. Ele explica: “Vou sentir minha plateia primeiro. Já aconteceu de mudar o plano na última hora”. A programação terá início às 17h, e o local será a Pane Mio Gourmet – rua Rafael Pinto Bandeira 2.086.

LIVRO reúne crônicas inéditas, bem como publicadas em jornais locais. Charlie acrescenta: “A experiência com teatro me deu base para a criação de personagens. Eu, como ator, pude experimentar emoções vastíssimas que puderam compor todos os meus personagens, tanto de teatro, como de romances ou crônicas. ‘Memorial’ sempre teve este título, pois foi a primeira coisa que nasceu do projeto. Os títulos sempre chegam primeiro para mim. ‘Memorial’ está pronto há sete anos, assim como outras três obras que aguardam publicação. Títulos simples. Textos curtos. Gosto de leitura curta, mas de bastante consistência dramática. Uma frase pode trazer um mundo. Sou minimalista na crônica. Amo muito a metáfora. A metáfora é sempre uma chave para novas descobertas. Meu tema central é sempre o desmoronamento e encantamento do amor. E o amor de todas as formas. De pais e filhos, irmãos, amantes, meninas e meninas, cães e seres humanos, amor entre inimigos, por que não? O amor que nos faz acordar para coisas que sequer imaginamos que somos capazes de ser e fazer. E isto inclui todo bem e mal do mundo”. De acordo com o autor, algumas das crônicas já foram adaptadas para apresentações teatrais no Rio de Janeiro e Araçatuba.

Charlie Rayné é o autor

Charlie Rayné é o autor

PUBLICAR – O autor menciona acerca da publicação da obra: “O livro é produção independente, com patrocínio de dois laboratórios de Passo Fundo. A cidade, considerada capital nacional da literatura, me recebeu com muito amor. Minha produtora é de lá também, Cleci de Biasi. A Editora Berthier, quando recebeu o material, se interessou muito no projeto e deu muito incentivo financeiro também. Tanto é que ano que vem teremos um novo livro”.

ESCREVER – Fragatense, Charlie ganhava livros com frequência na infância. Obeso, identificou-se com a história do Patinho Feio. Refugiando-se na literatura, começou a escrever aos nove anos. Com onze e doze anos, criava histórias em quadrinhos (HQs). Cópias eram feitas no mimeógrafo, e colegas do pai distribuíam aos filhos. O primeiro poema surgiu aos treze anos. “Meu futebol foi sempre a leitura, o teatro e a escrita”, diz.

TEATRO – Como ator e diretor, trabalho mais recente de Charlie foi a montagem “Flor de Obsessão”, baseada nas crônicas de “A vida como ela é” de Nelson Rodrigues. “Eu era um gordinho muito tímido, instrospectivo, mas muito fantasioso. Estudava no Colégio Cassiano do Nascimento e aos sete ou oito anos me deslumbrei com uma peça de teatro amadora. Foi paixão à primeira vista. Aos catorze entrei no Teatro do COP, onde iniciei meus estudos. O gordinho começou a atuar e se mostrar mais. O teatro foi a minha salvação como ser humano. Na adolescência, entrei no Teatro Escola de Pelotas e conheci o diretor Valter Sobreiro Júnior. Hoje, quase vinte anos depois, dou aula para crianças neste mesmo grupo, agora coordenado por Barthira Franco”.

TRECHO da crônica “O Circo de Agosto”

“Coloca o revólver na cintura. Olha-se no espelho. Lembra-se do palhaço Darci. O palhaço Darci era apaixonado pela mulher barbada que amava o trapezista. Darci tentava se matar com um bodoque. Bodoque existe ainda? Hoje se mata gente mais do que passarinho. Pausa…

– Saio de casa e da vida para entrar no abismo? Saio de casa? Morrer só é muito triste! Saio de casa e da vida para entrar na rua. Mendicância? Jamais! Sai. Toma um táxi.

Ele entra no circo. Águas dançantes ao som de flamenco falam da vida que se renova e o fazem lembrar da mãe. O palhaço entra. Atrás do palhaço, Getúlio lhe acena e ele, decidido, invade o picadeiro. O palhaço lhe coloca um nariz e o faz cair da cadeira. Gargalhadas. Ele ergue o revólver e engatilha. O palhaço lhe tira o revólver da mão. Gargalhadas. Eles lutam. Eles engatinham. Ele retoma o revólver e aponta para si. Mamãe está lá e faz sinal de reprovação. Ele guarda o revólver. O palhaço o abraça. Ele chora. Gargalhada geral. Policiais o imobilizam. Aplausos!”

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