LITERATURA : Farrapos de tempo, ciência e fé, qual é o y do problema?
Domingo (9/11) às 18h na Tenda Cultural da Feira do Livro, Eduardo Farias estará lançando o livro crônicas “Coisas & Loisas de cá e de lá
Por Carlos Cogoy
A mente humana, mal comparando, assemelha-se à memória de um computador, especialmente daqueles plugados à internet, que recebem arquivos, e-mails, um seu número de informações, que mesmo depois de “deletados” (apagados), deixam um rastro residual que se não for limpo com certa freqüência, chega um tempo, em que a sujeira entulhada emperra a memória e a máquina para. Pois o cérebro humano é uma fantástica máquina de criar e reter memórias, e se as pessoas não se reciclarem diariamente, o lixo acumulado definitivamente fará seus estragos irreversíveis. Trecho da crônica “Velhos são os trapos”, autoria do português-pelotense Eduardo de Almeida Farias. O texto integra o volume “Coisas & loisas de cá e de lá” (106 páginas), décimo livro do autor. Na obra, 39 crônicas que abordam sobre memórias da infância em Portugal, curiosidades históricas, valores comportamentais, religiosidade, descrença, velhice e morte. O livro é publicação independente e poderá ser adquirido no estande da livraria Vanguarda.
TRAJETÓRIA – Eduardo Farias é natural de aldeia no Concelho da Cidade de Águeda em Aveiro. Filho de agricultores, esteve no seminário e, aos dezoito anos, deslocou-se para o Rio de Janeiro. Ele deixou Portugal para vir trabalhar com parentes no Brasil. Após meio ano no Rio, período em Rio Grande, onde trabalhou na Ipiranga. Também teve seu comércio de secos e molhados, e salienta especialidades como vinho do Porto e queijo de Minas Gerais. O balcão não agradou e rumou para Porto Alegre, onde atuou num escritório. A etapa seguinte seria como representante comercial, função que exerceu até a aposentadoria. Na trajetória, etapa em Curitiba até radicar-se em Pelotas há cinquenta anos. Casado com a professora Turene da Costa Farias – docente no curso de educação física -, pai de Maria Luiza que reside em Portugal, Maria Christina – moradora no Rio de Janeiro -, e Eduardo Lessa Farias que mora na Alemanha.
LITERATURA – Na adolescência, Eduardo foi leitor de poetas como Guerra Junqueiro e Antônio Correia de Oliveira. Na prosa destaca Eça de Queiroz. Na literatura brasileira, considera Erico Verissimo como o “maior romancista”. À época do trabalho na refinaria Ipiranga, acidentalmente colega encontrou alguns dos textos de Eduardo Farias. Ele foi estimulado a publicar, e passou a divulgar prosa e poesia em jornais como “O tempo”. O primeiro livro – ver box -, no entanto, surgiria apenas em 1997. E o autor lembra que a filha Maria Luiza é que encontrou alguns dos seus textos numa gaveta. Surpresa ela tratou de incentivar o pai a publicar. Na sequência, o escritor foi convidado a integrar o Centro Literário Pelotense (CLIPE), entidade que presidiu, bem como a Academia Pelotense de Letras, onde ocupa a cadeira 22.
Y DO PROBLEMA é crônica na qual o escritor questiona a consagrada opção pelo “x”. Com bom humor, narra desde os cromossomas masculino e feminino, até o poeta Augusto dos Anjos. Nas crônicas “José Saramago” e “Caim ou cains de Saramago”, Farias debate o alardeado ateísmo do Nobel de Literatura. E especula: “Saramago era um descrente que queria acreditar”. Ciência e fé são temas recorrentes em algumas das crônicas. No texto “Testemunhos de ex-ateus”, o autor menciona conversões religiosas com figuras de destaque na história. E conclui com a reflexão: “Um pouco de ciências nos afasta de Deus. Muito nos aproxima”. Na crônica “Hodie mihi cros tibi”, enfoca nossa finitude. No palco da vida, estamos sem ensaio numa peça tragicômica. E acrescenta: “Somos farrapos de tempo, a tremular nos varais açoitados pelo vento”.
HUMILDE, escritor Eduardo Farias é avesso a badalações. Na crônica “Dia de anos”, repudia a comemoração do aniversário. Talvez pela simplicidade ainda não tenha sido lembrado para receber o título de cidadão pelotense. O “esquecimento”, porém, contrasta com seu olhar sobre a cultura: “É esse acumular de conhecimento, a que chamamos Cultura que nos proporciona um colorido especial à nossa vida. Que nos faz sentir gente, gostar deste mundo em que vivemos, apesar de seus vieses. É a música, é o teatro, é a poesia, a literatura, esse somar de coisas que são parte essencial da nossa vida. Já imaginaram se o homem vivesse só para comer, trabalhar e dormir que chatice não seria?”.
OBRAS de Eduardo de Almeida Farias
O Ontem pode estar onde começa o Amanhã – poesia ano de 1997
SiLêncios que gritam – poesia ano de 1999
Vida Distância de curta medida poesia ano de 2002
Entremeios de um caminho prosa ” 2003
Desenho das horas prosa ” 2004
O Farol ao longe prosa ” 2007
Enigmas de uma musa poesia ” 2007
Antologia poética poesia ” 2009
Caminhos do Viajante prosa ” 2011
Coisas e Loisas prosa ” 2014