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sábado, 27 de abril de 2024

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LITERATURA: Poesia no “Sarau Mandinga”

LITERATURA: Poesia no “Sarau Mandinga”
25 novembro
08:09 2017

Sábado (25) às 19h no Pagu Art Bar – 3 de Maio 711 -, autora Ju Blasina estará autografando “8 Horas por dia”

Por Carlos Cogoy

Ela está retornando à cidade. Porto-alegrense radicada em Rio Grande, escritora Ju Blasina há sete anos tem participado da confraria que promove encontros literários em Pelotas. Conforme menciona, em 2010, convidada pelo poeta Daniel Moreira, participou de sarau na Bibliotheca Pública Pelotense. Na sequência, apresentou versos em edições do projeto “Poesia no Bar”. A iniciativa, que valorizava autores e divulgava criações literárias, também teve três edições em Rio Grande. O projeto que, em fase recente, está designado como “Sarau Mandinga”, nesta semana novamente contará com a presença de Ju Blasina. Na programação ela estará lançando seu primeiro livro “8 Horas por Dia” (104 páginas). Publicado pela editora Concha, o volume reúne 51 poemas. Conforme a autora, houve seleção de versos publicados em meios eletrônicos desde 2009 – ela produziu e editou o blog “Poesias + 2 Tantos” -, bem como inéditos escritos ano passado e 2017.  E acrescenta: “O primeiro bloco será dedicado à apresentação do livro. Após, o microfone estará aberto à participação de todos. No Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, o coletivo Mandinga Arte Cultura convida a todos para que leiam mulheres”. O exemplar será comercializado a R$35,00, e o sarau acontecerá no Pagu Art Bar – rua 3 de Maio 711. ENTRADA FRANCA.

Ju Blasina: “Poesia existe pra incomodar”

Ju Blasina: “Poesia existe pra incomodar”

LER – Ju Blasina recorda: “Minha história com a literatura vem de longe, e acredito que tenha se aprofundado graças à solidão e timidez. Mudei de cidade quando tudo em mim mudava, bem na fase de transição para a adolescência. Sem os amigos de infância por perto. Sem facilidade pra fazer novos amigos. Eu lia muito. Era a forma de isolamento que tínhamos, antes que a internet facilitasse as coisas. Daí, poemas, escrevo desde menina, muito antes de saber que, aquilo que eu escrevia, se chamava poesia. Não tínhamos quase livros em casa, assim como, por muitos anos, também não tínhamos uma tevê colorida ou um rádio que tocasse mais que AM. Ler e escrever eram meus passatempos favoritos. Cedo descobri aquele lugar maravilhoso na escola, chamado biblioteca. Foi lá que, aos onze anos, encontrei o ‘Eu e outras poesias’, obra de Augusto dos Anjos. Foi meu primeiro poeta. Dali em diante, tive interesse em aprender sobre poesia. E tive a certeza de que ela sempre faria parte de mim”.

8 HORAS POR DIA foi lançado há um mês em Rio Grande. Ju explica: “Há cerca de três anos, comecei a selecionar poemas para o livro. Há dois anos, eu tinha ele supostamente pronto em mãos, mas sempre faltava alguma coisa. Até que surgiu o convite da editora Concha e tudo fez sentido, ora, ter meu primeiro livro publicado por uma editora local, que é projeto de uma mulher, escritora, ativista cultural, a Andreia Pires. Isso representa muito. O título do livro se refere ao poema da página 98, que fala sobre o tempo. Eu tenho transtorno de ansiedade, então sempre tive dificuldade pra dormir as tais ‘8 horas por dia’ que nos são recomendadas, sempre me pareceu uma tremenda perda de tempo. Mas e o tanto de tempo que perdemos acordados? Que passa voando e a gente nem sente. Não mais sonhar, sim, é uma perda de tempo. Quer seja dormindo ou não. É disso que trata o poema que dá nome ao livro”. 

Obra reúne 51 poemas

Obra reúne 51 poemas

Criação poética provém da maturação

Ju Blasina é o pseudônimo de Juliana Ruas Blasina que, até os dez anos, viveu com a mãe na capital gaúcha. Como a mãe é natural da Ilha dos Marinheiros, houve a opção pelo retorno a Rio Grande. Na Furg, Ju cursou biologia, onde também realizou o mestrado. Ela conta que chegou a começar o curso de letras português/francês, mas não concluiu. Atualmente trabalha com “cosmetologia natural”, desenvolvendo produtos para barbas. Ela e o marido administram a barbearia “O Bárbaro”.

LITERATURA – Durante fase, Ju foi influenciada pela arte de Charles Bukowski. Ultimamente destaca autoras como: Adelaide Ivánova, Anna Santana e Luiza Romão. Como inspirações permanentes, menciona Líria Porto, Daniela Delias e Alice Ruiz. Durante três anos, foi cronista do caderno Mulher do jornal Agora.

ESCREVER – Sobre o processo criativo, ela diz: “Basicamente escrevo e guardo. Escrevo esqueletos de poemas quando me sinto inspirada. Mas, bem depois, é que trabalho a fim de transformá-los em poemas. Preciso de um certo distanciamento. Às vezes leva dias, às vezes anos. Tenho esses projetos de poemas escritos por todos os lados, blocos de papel, blocos de notas no celular, pastas no google. Tem poemas que visito muitas vezes e nunca considero prontos. Se um poema parece que sai inteiro, sinal que meu senso crítico não está funcionando bem nesse dia (risos).  Já foi diferente. Eu tinha pressa de ser lida. Talvez seja isso a tal maturidade: paciência pra marinar as coisas”.

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8 horas por dia (uma prévia)

Tricot

Desfazer velhos sonhos
como quem puxa a ponta solta
do velho agasalho de lã

Enrolar metros e metros
de fio, de novo e de novo
até ter nas mãos um novelo

Olhar para ele
como se fosse a primeira vez

Tecer com ele uma nova peça
que ao menos sirva

Durante a próxima estação.

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Poema do amor banal

Perdoe-nos, poeta
mas hoje vivemos num tempo
de tanta pressa e tão pouca virtude
de desejos tão rasos e dizeres rudes

que das costelas fez-se grades
do corpo, o próprio leito:
viver agora é estar preso dentro do peito

e o coração apertado se debate
como quem ora tem ânsia de morrer
ora se ilude

a vida agora anda de um jeito
que temo não mais sabermos amar amiúde.

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