LITERATURA : Solidão como itinerário poético da memória
Quarta-feira pós 19h no Sarau Artístico PoeticaMente, escritora Fabíola Weykamp estará autografando “Ensaio sobre a solidão”
Por Carlos Cogoy
Amor desfeito, resta a memória. No itinerário do afeto que se quebrou, a dor da partida machuca e lanha. No percurso solitário, fragmentos do que já foi. Na madrugada, o silêncio que grita, transforma reminiscência em invenção poética. Esse reencontro, misturando real e ficção, está em livro. Trata-se de “Ensaio sobre a solidão”, autoria da jovem escritora Fabíola Weykamp, cujo lançamento acontecerá dia 25 em mais uma edição do “Sarau Artístico PoeticaMente”. A programação, sob a coordenação do professor e poeta Fábio Amaro da Silveira Duval, também contará com a música de Celso Krause e convidados. O sarau, que acontece na última quarta-feira do mês, ainda proporciona microfone aberto ao público. Como local, Diabluras à rua Félix da Cunha 954.
ITINERÁRIO – Fabíola Weykamp nasceu em Brasília, mas está radicada em Pelotas desde a infância. A então menina introspectiva, que a tudo observava atentamente, teve o estímulo da leitura em família. Ela e uma das irmãs, mantinham a escrita de diários, também prática da mãe quando adolescente. Já em relação ao pai Paulo Weykamp, recorda do interesse por livros, discos e CDs. Além disso, juntos ouviam bossa nova, música erudita, tangos e trilhas clássicas do cinema. “Minha escrita vem muito da música, minha referência mais norteadora, para ser mais precisa”, diz Fabíola. Adolescente, ela lia autores como Augusto dos Anjos e Cecília Meireles, em volumes do pai que tinha a coleção Mestres da Literatura Contemporânea. Fabíola menciona: “Eu tentava ler um e outro, mas assim que começava a ler uma narrativa, tinha de interromper a leitura para escrever, não conseguindo manter a atenção simplesmente na leitura e muitas vezes não conseguindo voltar para elas”. Já no ensino médio, a descoberta de Clarice Lispector, em especial a obra “A hora da estrela”. Sobre o período, Fabíola observa acerca dos primeiros textos: “Meu interesse pela escrita poética e totalmente intimista aconteceu nessa época, em que eu começava narrativas, não as terminava e as desmembrava até ser possível formar estrofes, que era o que me deixavam, de todo, satisfeita”. Com uma colega de escola, motivou-se pela leitura de narrativas, escritas de si, como diz, cujo contexto eram extremamente opressores. A exemplo, Alemanha nazista e a ditadura civil-militar no Brasil. Conforme Fabíola, livros com “temática intimista, porém de dor coletiva”.
ESCREVER – Em 2013, Fabíola concluiu a formação em letras na UFPel. Estimulada pela professora Beatriz Viégas Faria, participou do concurso nacional “LiteraCidade”, conquistando o primeiro lugar. Assim, como premiação, teve a publicação do primeiro livro “Resenhas da solidão – um livro de poesia e dor cotidiana”. A autora ressalta: “Minha escrita aconteceu sempre a partir da observação, e qual não é?!. Eu sempre fui muito quieta, observadora, e também contestadora de tudo e todos. Escrevia alguns poemas e depois os jogava fora, porque eu tinha a sensação de não serem meus. Sou muito crítica e demorei um pouco para aceitar minha própria escrita”.
LANÇAMENTO – “Ensaio sobre a solidão” conta sobre o fim do primeiro amor. Numa madrugada em 2015, Fabíola parou e escreveu, concluindo ao amanhecer. “Esse é o livro mais pessoal que já escrevi, e ainda estou me acostumando a falar sobre ele em público ou em voz alta. O ensaio precisou acontecer após o término de um relacionamento muito longo que tive. Eu já havia acumulado algumas perdas até aquele momento, e o término veio acompanhado de depressão. Obviamente que tem muita ficção nele. Nada ípsis-litteris, tem um tanto de autoficção, se posso dizer assim, com pano de fundo real”.
LIVRO
Com 125 páginas, “Ensaio sobre a Solidão” reúne poemas e alguns textos breves. A publicação, diz a autora Fabíola Weykamp, surgiu numa conversa com Morgana Rech, editora da revista “SubVersa”. Colaboradora da revista eletrônica, onde assina a coluna “Astronauta de Pulôver Azul Neón”, Fabíola comentou que tinha um texto guardado, porém não seria para publicação. Mas, Morgana leu, gostou, e sugeriu a publicação. Houve contato com Tonho França e Wilson Gorj, e a editora Penalux viabilizou a obra. O exemplar custa R$35,00, pode ser encomendado junto à editora, ou diretamente com a escritora.
APRESENTAÇÃO – Num pequeno texto, Fabíola divulga sobre a obra: “ensaio sobre a solidão é para todo mundo que foi e que veio; que virá e igualmente partirá. eu tenho a ciência de contar o que ficou, o que meus olhos agarraram enquanto vocês estiveram na importância de cada um que foi e souberam ser no momento em que deveriam ser e puderam ser. porque o inexplicável dessa vida é que, às vezes, simplesmente não se pode ser, mas num momento futuro em que a gente nem espera: se pode voltar para terminar de ser aquilo que faltou ser”.
ESCREVER para Fabíola é “uma necessidade. Comunicar é uma necessidade. Que são frutos de minha inquietação. Sinto-me terrivelmente desconfortável nesse mundo, estrangeira, agoniada com o ser humano”.