LIVRO : A leitura como fonte na formação individual
Pesquisa analisa depoimentos de dezoito professores leitores
Por Carlos Cogoy
Na Escola Estadual de Ensino Médio Areal, ela é docente, há quase vinte anos, de língua portuguesa, literatura e língua inglesa. Mas, na trajetória profissional da pelotense Flávia Griep Mancini, também houve a experiência como docente universitária entre 1995 e 2007. Como pesquisadora, o mestrado na UCPel abordou “A produção de inferências na leitura de narrativas literárias por alunos de Letras”. Ela recorda que o então orientador Hilário Bohn, sugeriu a pesquisa junto aos alunos de letras, abordando acerca das dificuldades de leitura e interpretação. No doutorado, realizado na Faculdade de Educação (FaE/UFPel), com orientação de Lúcia Peres – e coorientada por Eliane Peres -, o trabalho foi sobre a influência da leitura na vida dos professores. Recentemente, a tese foi adaptada e está publicada no livro “Cartas (Auto)biográficas de Leitores Professores” (Editora Appris).
DEZOITO – Na pesquisa, Flávia Mancini enviou convite a 180 professores. O objetivo era reunir depoimentos, contando sobre o impacto da leitura nas histórias de vida. Dezoito responderam, e enviaram material. Como curiosidade, observa a pesquisadora, dezessete mulheres e apenas um homem. Ele ainda ressaltou que não se considerava um leitor, pois encontrara dificuldade com a prática. A limitação, observou o participante, já o havia prejudicado profissionalmente. Como base teórica do doutorado, Flávia Mancini recorreu às abordagens: Antropologia do Imaginário; (Auto)biografia educativa como trajeto de formação; Antropologia da Leitura.
LEITURA – A autora menciona que elaborou análises sobre as cartas enviadas pelos participantes. Ela acrescenta: “Obviamente, que devolvi as cartas com as análises para meus sujeitos, para que eles as lessem e as aprovassem. O que constatei? Algo que já havia estudado, principalmente nos escritos de uma autora francesa, Michèle Petit, que salienta o quanto a leitura impacta nossas vidas. Muitas vezes atuando como uma espécie de ‘tábua de salvação’, isto é, como um equilibrador biopsicossocial na vida das pessoas”.
ACESSO – Flávia Mancini também destaca: “Para a tese, eu queria mesmo pesquisar os trajetos, as caminhadas. As questões da Antropologia do Imaginário relacionadas à leitura. Inclusive, o primeiro capítulo é autobiográfico, onde conto como me constituí uma leitora e como os livros me ajudaram, inclusive em momentos de dificuldade. Também aferi algo que considero importante: para um leitor não há obstáculos, impedimentos. Quem deseja ler, cria estratégias para isso, até mesmo para driblar questões financeiras na hora de conseguir seus objetos de desejo. Algo que já se sabe, entretanto, é que, no Brasil, o livro custa caro. Há ótimas políticas públicas de abastecimento das bibliotecas escolares com obras belíssimas; no entanto, alunos e professores acabam não tendo acesso aos livros porque os bibliotecários foram retirados das escolas. Na escola onde leciono há um vasto acervo, parado, guardado, por falta de um profissional que atue na biblioteca. Ou seja, um enorme paradoxo, pois há livros, mas não se pode acessá-los”.