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quarta, 25 de dezembro de 2024

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LIVRO : A tecnologia digital como fonte de vigilância, opressão e racismo

LIVRO :  A tecnologia digital como fonte de  vigilância, opressão e racismo
25 agosto
09:02 2022

Nesta quinta às 18h, pesquisador Deivison Faustino, debate e autografa livro no Fica Ahí

Por Carlos Cogoy

Os séculos XV e XVI estão na origem de um conceito que, gradativamente foi se expandindo e consolidando no mundo ocidental. Período histórico que desencadeou as navegações, e consequentemente a invasão de novos territórios, o colonialismo caracterizou-se pela sanha por riquezas e poder. Assim, regiões como o continente africano e a América Latina, passaram a ser saqueadas pelos europeus. Alguns séculos depois, os processos de independência atenuaram a pilhagem, mas a ingerência persiste através de pressões econômicas e políticas. No século XXI, em decorrência de novas ferramentas tecnológicas, a comunicação digital tem transformado o cotidiano. Mas, a conectividade que, presumia-se, possibilitaria uma nova realidade, em geral tem aumentado a desigualdade. Além disso, consolida-se como vigilância e controle, e tem sido questionada através de reflexões como o “Racismo Algorítmico”. Alguns dos temas que estão no livro “Colonialismo Digital – Por uma crítica hacker-fanoniana”, que terá debate e sessão de autógrafos nesta quinta em Pelotas.

LANÇAMENTO – A obra, publicada pela Editora Ciências Revolucionárias, é coautoria dos pesquisadores Deivison Faustino e Walter Lippold. No lançamento que acontece às 18h, no Clube Cultural Fica Ahí Pra Ir Dizendo – rua Marechal Deodoro 368 -, estará presente o autor Deivison Faustino. Doutor em sociologia, ele é professor do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Políticas Sociais da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP). Deivison estará explanando sobre o livro, bem como acerca das pesquisas que tem realizado. A mediação será da professora Miriam Cristiane Alves (UFPel). O livro será comercializado a R$60,00.

FANON – O médico, escritor e filósofo martinicano Frantz Fanon (1925/1961), que integrou a Frente de Libertação Nacional da Argélia (FLN), notabilizou-se por obras como “Pele Negra, Máscaras Brancas” e “Condenados da Terra”. Neste, é antológico o prefácio de autoria do filósofo francês Jean-Paul Sartre (1905/1980). Após os anos setenta, no entanto, o pensamento de Fanon – crítica ao colonialismo -perdeu espaço nas universidades. Conforme o paulista Deivison Faustino, que publicou “Frantz Fanon: um revolucionário, particularmente negro” (2018), “A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos Fanonismos contemporâneos” (2020), e “Frantz Fanon e as encruzilhadas: teoria, política e subjetividade” de 2022, a redescoberta e valorização têm ocorrido no século XXI, em especial na segunda década. Para o pesquisador, o resgate acontece com a chegada de estudantes negros às universidades. Em função das políticas de ações afirmativas, aumentaram os negros na graduação, pós-graduação e também docência. Com isso, a reflexão de Fanon foi deixando a invisibilidade, e aparecendo em pesquisas, obras e debates.

DIGITAL – Entre os principais eixos teóricos, pesquisados por Deivison, estão o capitalismo, colonialismo e racismo. Conforme explica, o conceito de colonialismo digital tem sido recorrente em áreas da computação, e também das ciências sociais. Entre os enfoques, questões como o acesso à tecnologia, mapeando as diferenças entre países, e também no contraste de localidades num mesmo País. Como exemplo, uma rica região paulista, que possui mais antenas e dispositivos, do que a realidade periférica. Conforme o pesquisador, numa área de dez quilômetros, é possível observar o abismo para acessar a tecnologia. “Observamos que, embora as ferramentas sejam importantes e podem ajudar, ao invés do desenvolvimento, têm até agravado desigualdades que já estavam estabelecidas nas relações sociais. Por exemplo, o período da pandemia, que exigiu a educação a distância. As desigualdades sociais apareceram ainda mais, pois muitos alunos não conseguiram o acesso eletrônico à educação”, avalia Deivison.

CAPITALISMO – Outro aspecto do mundo digital, reflete Deivison, é o impacto que tem fortalecido conceitos básicos do capitalismo, como exploração, lucro e acumulação. De acordo com ele, desde o surgimento, que o capitalismo impulsiona técnicas produtivas. “A novidade é que está intensificada a automação. Com a máquina a vapor e os automóveis, a força humana ainda era necessária. Atualmente, porém, a autonomia do processo produtivo, tem provocado a exclusão da força de trabalho. As fábricas demitem em massa, pois é cada vez menor a intervenção humana. Nesse cenário, constatamos que seria formidável a sincronia de diferentes espaços produtivos dentro de um novo ritmo. Mas, somente não é fantástico, por conta do capitalismo, que está baseado na exploração e apropriação. Assim, nunca a humanidade produziu tanto mas, ao mesmo tempo, o resultado não é distribuído pois é privado”.

MERCADO DE DADOS – O conceito de colonialismo, na contemporaneidade, diz Deivison, aplica-se também ao indivíduo. Ele menciona que cinco grandes empresas, controlam quase toda a internet no planeta. E a tendência monopolista tem sufocado outras iniciativas autônomas. Com isso, observa, está reproduzida a lógica colonial do século XVI. O que interessa atualmente, no entanto, são os dados. Há um mercado de dados. Os rastros digitais permitem aferir, a partir de um CPF, qual o perfil de um consumidor, se usa o débito ou crédito, e quais as mercadorias preferidas. Uma simples compra numa farmácia, já contribui para nutrir de dados. Esse volume de informações é negociado, e houve alguns escândalos. O mercado de dados, diz Deivison, em determinadas circunstâncias, vale mais que o petróleo. O colonialismo está na exploração de países que detêm a tecnologia, e os outros que fornecem dados. Para contrapor-se a essa realidade, é necessária uma regulação. Em especial, frisa o autor, a retomada do debate sobre a Lei Geral de Produção de Dados.

RACISMO ALGORÍTMICO – Antes da digitalização do cotidiano, as câmeras foram alardeadas como recursos de segurança. Porém, com os aplicativos de reconhecimento facial, a base é a pessoa branca. Com isso, aumentam as chances de erros e punições, bem como o percentual de criminalização do negro. Na inteligência artificial, menciona o pesquisador, a base está nos cálculos, transferindo a uma máquina, o que seria a responsabilidade da sociedade. “A distopia não é irreversível, pois a máquina é um produto humano, e nós controlamos esse processo. Mas quem nos ameaça é a própria relação social, dependendo do uso que damos às tecnologias”, conclui.

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