LIVRO : Desconcerto dos afetos na cultura que desumaniza
Nesta quinta das 16h às 18h, Olga Pereira lança “DesHumanidade: a cultura do medo”
Por Carlos Cogoy
A fluidez do mundo líquido do polonês Zygmunt Bauman (1925/2017), a reflexão sobre a linguagem de autoria do russo Mikhail Bakhtin (1895/1975), estudos culturais do jamaicano Stuart Hall (1932/2014), a luta social do sul-africano Nelson Mandela (1918/ 2013), a sensibilidade poética da Cora Coralina (1889/1985), e o humanismo da indiana Madre Teresa de Calcutá (1910/1997). Algumas das referências dos ensaios que estão coligidos no livro “DesHumanidade: a cultura do medo” (editora Versejar), autoria da escritora e pesquisadora Olga Pereira. Conforme acrescenta, a publicação que resulta do pós-doutorado realizado na UFPel, terá lançamento hoje na Bibliotheca Pública Pelotense (BPP). Olga estará autografando das 16h às 18h, numa iniciativa do Coletivo de Autores de Pelotas.
ENSAIOS integram o livro que, diz Olga, enfoca a “desumanização do ser humano diante de um mundo envolto pela brevidade de relações tão superficiais”. A autora menciona os capítulos: DesHumanidade; Territórios do medo; Desafetos sociais; Templos do silêncio; Conexões traumáticas; Cultura dos contrastes; O desumano mundo dos humanos; Porões da memória; Refugiados urbanos. No décimo capítulo, síntese de princípios dos pensadores Bakhtin, Bauman e Stuart Hall. O prefácio é autoria do professor dr. Adail Sobral (FURG), e a apresentação é da dra. Raquel Sparemberg (FURG).
DESACERTO – Olga reflete: “Nossa sociedade é a de seres apressados que não mais se reconhecem como espécie única e irrepetível. Somos tais quais andarilhos atônitos nessa selva que engole sonhos promovendo constantes pesadelos. Experienciamos uma forte contradição: viver numa era a qual o contemporâneo já é pretérito e o agora não mais nos pertence. Fazemos parte de legiões de humanos que há muito já perderam suas referências e identidades, de uma cultura emoldurada pelo apagamento proposital da história de seus sujeitos. A serenidade está morrendo e carregando consigo a lucidez que tanto nos diferenciava dos demais animais. Nessa caminhada, o remorso rouba sonhos, e as emoções são abduzidas, deixando dentro de nós uma imensa cratera desconcertada e deprimida”.
SOLIDÃO – A escritora acrescenta: “Emoções e laços afetivos são facilmente substituídos e, nessa perversa permuta, a despedida provoca formas invariáveis de solidão e de desencantamentos. Analisando, embora superficialmente, a história da humanidade e, de forma mais amiúde, o comportamento dos seres humanos no decurso dos séculos, podemos deduzir que, em se tratando de evolução afetiva e solidária, o tempo não foi suficientemente capaz de torná-los menos egoístas. Assim vamos pintando esses quadros fantasmagóricos e pitorescos de uma sociedade que agora sobrevive apenas como mero e empobrecido conceito. Trata-se de um mundo onde cenários perigosos e confusos se perdem na miséria psicológica alimentada por egos desorientados, que relegam a segundo plano o abraço e a escuta. Trata-se de uma coletividade de servos adestrados em constante surto psicótico buscando as sobras de uma pseudoidentidade sobre si e os outros, e mais, de uma humanidade se desumanizando pela omissão e negação de laços afetivos. Estamos imersos na cultura do medo segundo a qual o medo mais gritante é aquele que se cala em razão da agressividade e da anulação da dignidade do outro”.
OBRA – A autora já publicou: Reinterpretando silêncios: reflexões sobre a docência negra na cidade de Pelotas-RS; Cicatrizes da Escravidão: da história ao silenciamento; O negro no espelho: legado e oralidade; Dias em que o Ego precisou dormir mais cedo; Vozes& Versos: o dito e o que ficou por dizer; Roza Gonzales: a mulher que driblou a loucura; Racismo no Barbante da Pipa. Em 2020, Olga estará lançando o romance homoafetivo “Adhara & Sankofa: a travessia de um amor valente”, “Colo de Mãe” e “O grito das palavras.