LIVRO : Entre Nascentes e Poentes
Terça às 18h, Pedro Moacyr Pérez da Silveira autografa “A memória é um cavalo selvagem”
Por Carlos Cogoy
O Cavalo Selvagem conta também um pouco da vida de todos nós, e nos vemos através do espelho, como Alice, muitas vezes esmaecendo, perdendo o tom forte da juventude, cedendo espaço à naturalidade da vida, que a toda hora nos cobra atitudes impetuosas, contra o arbítrio, ou em favor de uma fugaz democracia. Tudo está (estará?) aqui neste livro. Mas quando o autor pensa em nos ludibriar, como sendo este o seu primeiro e derradeiro livro, ele não sabe que apenas abriu a porta das suas/nossas memórias, e terá muito ainda a relatar. Trecho da apresentação de Luiz Carlos Vaz, para o livro “A memória é um cavalo selvagem” (editora Penalux), romance de estreia do cronista e professor Pedro Moacyr Pérez da Silveira. O lançamento acontecerá terça às 18h na Bibliotheca Pública Pelotense.
OBRA – O professor Pedro Moacyr, há mais de trinta anos, leciona na Faculdade de Direito. Na vida acadêmica, foi procurador-geral da UFPel entre 1989 e 1992, e vice-diretor da Faculdade de Direito entre 1994 e 1998. Na Faculdade de Educação (FaE), mestrado e doutorado sob a orientação de Gomercindo Ghiggi. E a ideia do romance teve início durante pesquisa na FaE. O autor explica: “O romance, tal como está, foi terminado recentemente. O conteúdo essencial, contudo, foi escrito no ano de 2013, e originalmente esteve incorporado à minha tese doutoral na área de filosofia e história da educação. Era o segundo tomo. No primeiro, eu formulei uma série de considerações teóricas sobre a ideia de extravio do indivíduo humano de um tempo histórico fartamente identificado como ‘modernidade’ para outro, que é débil e perigosamente identificado como ‘pós-modernidade’. Contudo, esse texto foi simultaneamente concebido por mim como uma possibilidade exclusivamente literária e autônoma, e nos últimos tempos eu trabalhei para torná-lo completamente independente do seu propósito original, que era a confirmação. O texto ‘A Memória é um Cavalo Selvagem’ pretendeu ser um dia a confirmação, através da literatura, de elaborações acadêmicas que escrevi sobre o trânsito, veloz e agônico, de um sujeito entre dois tempos onde a forma de vivermos não pode, sob vários aspectos, ser considerada a mesma”.
LITERATURA – A sugestão de publicação pela editora Penalux, diz o escritor, foi dica do poeta Alvaro Barcellos. Sobre a conotação autobiográfica, Pedro Moacyr menciona: “Sim, há um forte componente autobiográfico, mas há várias passagens inteiramente inventadas. Mesmo quando tudo parece ser fruto exclusivo do engenho criativo, dou-me conta de que estou a escrever de uma maneira que apenas me faz sair de cena mais concretamente, embora eu continue ali, quase invisível. Mas em outros momentos, o contrário também ocorre, pois quando releio algumas passagens em que estive certo de que era claramente sobre mim que escrevia, me apercebo que deixei nas páginas uma pessoa que não reconheço como eu sendo eu. A literatura é um pouco assim, um enlear de rastros figurativos que, distraindo o autor, o faz mentir autorizadamente. Na arte literária, a desfiguração do real é a grande possibilidade revolucionária; o que não deve acontecer é o abandono do pacto com a hipótese de encanto narrativo. Aliás, esse é também o grande teste que todo literato acaba realizando, pois se vai muito mal e o público o recusa em nome da feiura expressional, terá fracassado como artista. Faço agora meu teste, o resultado verei depois, mas em nenhum momento me desprovi da consciência de que o sublime, mesmo não sendo alcançado por falta dos expedientes próprios do talento, não pode ser desconsiderado pelo escritor”.
MEMÓRIA cavalga num tempo íntimo. “A memória é uma condição humana cruel e salvadora, e dela fazemos uso de maneira não obviamente voluntária. Nos exercícios de rememorações é que cultivamos a possibilidade de não sermos fieis ao que se sucedeu, e realizamos uma espécie de hermenêutica retroativa para revelar pessoas, coisas e fatos, quando pensamos que estamos ingenuamente apenas a lembrar do que inequivocamente se passou da forma como contamos. Lembrar é interpretar distraidamente, penso. Por isso a vinculação da ‘memória’ a um ‘cavalo selvagem’, que leva em conta essencialmente o efêmero, o fugidio, o que vai e volta ou que vai e pode nunca voltar, o que é passadiço, morredouro, passageiro, breve, mas que, apesar dessas características, impressiona nossa sensibilidade e se aloja nalgum lugar nosso para uso futuro”, diz.
NASCENTES E POENTES – O tempo e o lugar, conforme Pedro Moacyr: “O romance não se passa entre um tempo muito evidente, mas leva em conta a década de sessenta e o que veio após, levando em conta um período de aproximadamente cinquenta anos. Passa-se em duas cidades de nomes imaginários, Nascentes e Poentes, que são metáforas a serem compreendidas com a leitura do texto, e onde o personagem vive sua infância, adolescência e maturidade”.
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Entre Nascentes e Poentes