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segunda, 23 de dezembro de 2024

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LIVRO : História e ficção na obra sobre a tradição pomerana das noivas que casavam de preto

05 abril
13:28 2022

Após quinze anos de pesquisa, escritor Jairo Scholl Costa lança o livro “Noivas de Preto”

Por Carlos Cogoy

Na realidade do sistema feudal, a primeira noite de uma noiva, muitas vezes era com o dono da terra. A submissão era justificada pelo “jus primae noctis” – direito da primeira noite, ou direito da pernada -, o que reiterava o poder do senhor feudal. Porém, como indignação, revolta e protesto, as mulheres trajavam preto. A tradição das noivas de preto, chegou ao Brasil com os imigrantes pomeranos. No interior de São Lourenço do Sul, a tradição resistiu até a década de quarenta do século passado. Para o vestido preto, no entanto, também há outras possibilidades. Numa delas, a falta do tecido branco, em decorrência das dificuldades financeiras nas primeiras décadas no Brasil, ou também uma opção pelo preto estar associado à realeza. A história e suas nuances, é a base do livro “Noivas de Preto” (336 páginas), autoria do advogado, historiador e escritor lourenciano, Jairo Scholl Costa. O livro parte de quinze anos de pesquisa, para uma realidade ficcional, sobre as noivas de preto. O lançamento da obra, publicada pela editora Pragmatha, será sexta a partir das 17h, no restaurante Nona Bray – rua Marechal Floriano 1.118 – em São Lourenço do Sul. A partir das 20h, jantar por adesão. Aquisição pode ser feita diretamente com o autor no email: [email protected]

HISTÓRIA – O autor menciona acerca da pesquisa sobre a tradição: “A busca de dados é muito difícil. Há referências sobre o ‘jus primae noctis’ por Voltaire, Marx, George Orwell, Dias Gomes, há a ópera Bodas de Figaro até o filme Braveheart. O que eu obtive de mais consistente no meio pomerano, foram versões nas quais o vestido preto era o luto, porque a noiva saía da casa dos pais, ou, que o tecido preto era identificado com os vestidos das rainhas, e também que o preto era mais solene para a cerimônia do casamento. No entanto, conforme a narrativa dos mais velhos, as abordagens até podiam ser verdadeiras, mas ainda havia a interpretação na qual o vestido preto significava o luto das noivas, já que teriam a primeira noite com o dono das terras, o senhor feudal. Observo que não foram todos os pomeranos, que se dispuseram a falar sobre o tema. Então, embora eu já ouvisse sobre o assunto desde a adolescência, a pesquisa e o trabalho de escrita do livro, exigiram mais de quinze anos”. A obra literária conta com o apoio cultural de Coopar/Pomerano Alimentos, Wolgast Bier, Caminho Pomerano e Ruralidades Sul.

POMERANOS – Jairo Scholl Costa acrescenta: “Os idosos falavam que vestir preto era um protesto. Era como usar uma mortalha. Mas as noivas também atavam um fio verde na cintura, o que significava a esperança de que o costume viesse acabar. O costume de casar com vestido preto alcançou até os anos 1940 na colônia de São Lourenço. A coleta de informações orais foi difícil, pois não era fácil encontrar idosos com desejo de falar sobre isto. Embora, estivéssemos falando de um costume que teria vigorado por mais de oitocentos anos. Para alguns dos idosos, é o traje preto é considerado como lenda. Mas, para outros, prevalece o suposto direito dos senhores. Enfim, para aqueles idosos que encontrei, era sofrido falar porque, mesmo transcorrido tanto tempo, isto trazia à tona o sofrimento do povo pomerano. Um povo que nunca foi sujeito, mas objeto de sua própria história. E, em mil anos, teve a média de uma guerra a cada 4,5 anos, quase sempre pela cobiça dos estrangeiros, que desejavam conquistar o território”. O escritor observa que teve acesso a uma fotografia de 1965, que ainda registra uma noiva de preto em São Lourenço do Sul.

PROTESTO – Em relação ao vestido preto como indignação, Jairo Scholl Costa afirma: “Segundo as fontes, que ouviram a história oral de seus ancestrais, através dos séculos até nosso tempo, o vestido preto teria também uma conotação revolucionária. Era uma forma de protesto contra a violência que as mulheres, em nome de uma tradição, eram submetidas. Aliás, uma tradição que tinha suas raízes ainda no mundo pré-cristão. De alguma forma, na atualidade restou a violência contra as mulheres, pois elas continuam vítimas da violência. Veja-se o número de estupros, feminicídios, agressões de todo o gênero, discriminação e preconceito”.

TRADIÇÃO – “A história da realização de casamentos tradicionais de noivas de preto, são abundantes no Espírito Santo, inclusive há um autor capixaba que já escreveu sobre a questão do ‘primae noctis’ durante o feudalismo. Existe ainda um detalhe interessante, isto é, que as noivas não servas, casavam com vestidos coloridos. Parece que, em Pomerode, Santa Catarina, existe num museu de cultura pomerana, um vestido de noiva que é vermelho”, diz o pesquisador lourenciano.

AUTOR João Scholl Costa é mestre em navegação e já publicou três livros: “Centenário de São Lourenço do Sul 1884/1984”; “Navegadores da Lagoa dos Patos: A Saga Náutica de São Lourenço do Sul”; “Pescador de Arenques”. Também publica artigos sobre os pomeranos, e a formação da Serra dos Tapes.

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