LIVRO : O proibido romance pelotense de Garibaldi
“O mundo de Manoela Amália”, autoria do professor e pesquisador Pedro Fickel, teve mais um lançamento com autógrafos
Por Carlos Cogoy
Somente no Arquivo Público do Estado em Porto Alegre, ele esteve 33 vezes. Desde 2009, intensa e extensa pesquisa que, além da capital gaúcha, também teve etapas em Pelotas, Rio Grande Bagé. Para apreender o contexto e a biografia da pelotense Manoela Amalia Ferreira – falecida em 1903 -, o professor e tradutor Pedro Luiz Brum Fickel, verificou registros de nascimentos e óbitos em arquidioceses da região, jornais do século 19 e início do século 20, cartórios e museus. O desafio era conhecer a vida da pelotense que, proibida pelos pais, abdicou do romance com o líder “farroupilha” Giuseppe Garibaldi. O resultado da dedicação está no livro “O mundo de Manoela Amália, a noiva gaúcha de Garibaldi”. E o autor salienta que são mais de quatrocentas notas de rodapé. Com isso, destaca o empenho pela amplitude de fontes e referências. Neste ano houve lançamentos em Pelotas e Porto Alegre. Na Bibliotheca Pública Pelotense (BPP), programação sob a coordenação do Instituto Histórico e Geográfico de Pelotas (IHGPel). Em Porto Alegre, organizado pela Chiado Editora, lançamento ocorreu na Livraria Cultura do Shopping Bourbon. No começo de abril, lançamento no Rincão Nativo. O evento foi sábado e, além da sessão de autógrafos, houve música com Frederico Viana e a poesia de Wlademir Walerko.
IDEIA – Pedro Fickel afirma sobre a curiosidade pelo tema: “Manoela despertou meu interesse desde o primeiro momento que soube de sua existência. Em 2001 ou 2002, li que Letícia Wierzchowski estava escrevendo um romance histórico intitulado ‘A Casa das Sete Mulheres’. A resenha do livro mencionava Manoela, a pelotense que fora ‘noiva de Garibaldi’, e teria morrido solteira numa espera sem fim por seu amado. Lembro que me indaguei, na ocasião, como eu nunca tinha ouvido falar de sua história, mesmo sendo seu conterrâneo. Em 2003, logo após a publicação e leitura do livro, resolvi, movido pela curiosidade, descobrir mais sobre a Manoela real, e fui pesquisar na Bibliotheca Pública Pelotense sobre seu óbito, e se realmente os jornais da época teriam registrado, na ocasião, sua ligação com Garibaldi. Cheguei a seguir algumas pistas erradas. Por exemplo, a data da morte de Manoela estava equivocada no livro. Mas acabei encontrando o registro de seu óbito em jornais de Pelotas e Rio Grande. Além disso, também obtive cópia de sua certidão de óbito num cartório de registro civil local. Satisfeita minha curiosidade inicial, parei por aí”.
PESQUISA – O autor explica sobre a retomada do tema: “Em setembro ou outubro de 2009, me deparei, finalmente, com uma foto da ‘Manoela real’ na Internet. A foto despertou um turbilhão de emoções e uma grande vontade de saber mais sobre essa até então misteriosa personagem. Levei, na ocasião, os poucos documentos que havia reunido e uma foto ampliada de Manoela ao IHGPel. Lá, fui gentilmente convidado a fazer uma apresentação sobre Manoela e me tornei sócio da Instituição. E foi lá que, também já determinado e convencido de que deveria fazer uma pesquisa mais abrangente, recebi as primeiras orientações indispensáveis para iniciá-la. Sempre digo que foi no Instituto Histórico de Pelotas, do qual tenho grande orgulho de ser membro, que foi lançada a semente da extensa pesquisa com a qual estive envolvido de 2009 a 2015”.
MANOELA de acordo com Fickel: “Em Pelotas, sua terra natal, ainda há pessoas que questionam sua própria existência. Muitos automaticamente identificam Anita e sabem de sua heroica participação na Revolução Farroupilha ao lado de Garibaldi, mas não têm ideia de que Anita somente entraria para a história com a inviabilização do romance entre Manoela e Garibaldi, por interferência dos pais dela. Manoela é, e continuará sendo, uma personagem única de nossa história, pela forma também única em que sublimou seu grande amor. Mesmo sabendo que jamais se reencontraria com Garibaldi, ela permaneceria solteira sem jamais abrir mão desse amor durante toda a sua longa existência. Seu amor foi incorruptível e único. Já avançada em anos, vertia lágrimas ‘de afeto e saudades’, nas palavras de um sobrinho seu, com a mera menção do nome de seu amado. Ela é a nossa ‘Julieta dos pampas’, cuja história toca fundo na alma de todos aqueles que conseguem entender que o amor é a única resposta para o dilema de nossa existência”.
ESCRAVOS – O pesquisador acrescenta: “Como biografia da ‘heroína do amor’, tento narrar a história real. E, na medida do possível, esclarecendo sobre a personagem principal, sua família e conflitos. Obviamente tive de me assessorar e buscar mais informações sobre o próprio Garibaldi. E foram vários os livros nos quais também estudei a Guerra dos Farrapos e alguns de seus principais personagens, considerando o contexto vivido mas concentrando-me em Manoela, sua família e a Pelotas de então. Quando opino, o que ocorre geralmente ao final do capítulo, expresso nas ‘Considerações Gerais/Finais’, deixando bem claro ao leitor que somente ali há um texto opinativo. Mas há um contexto histórico inescapável que cerca os inúmeros personagens reais, como os escravos que a família de Manoela possuiu. Já ao final do livro, fiz um capítulo intitulado ‘Aos Escravos’, onde presto homenagem e reconhecimento àqueles que inegavelmente também fizeram parte dessa história”.
UNIVERSAL – A pesquisa de Pedro Fickel tem despertado interesse em diferentes países. Ele conta sobre as mensagens que recebe, tanto de Tiago e Angelina em Lisboa, quanto de jovem do Kosovo. Na senda pela divulgação, observa que os próximos lançamentos serão em Pinheiro Machado e Bagé – datas ainda estão sendo definidas. E conclui: “A meu ver, Manoela é uma mulher que descobre no amor a razão de sua existência, apesar da dor da separação. É exatamente essa capacidade de amar que sobrevive a todas as adversidades, o que ainda nos fascina nos dias de hoje. Manoela é a fênix do amor que renasce das cinzas”.