Diário da Manhã

Atriz Rita, artista visual Seli e o poeta Maurício no recital
CRÉDITO:
Cogoy

Ele estava lá. Com capa e suas dezenas de páginas. Como título “Notícias do jardim”. Nas páginas, versos semeados na memória, colhidos nos canteiros do cotidiano. Ele estava lá mas ainda não havia chegado. Um livro inteiro, com seus mergulhos em mares interiores, soçobrando nas feridas da tortura, salvando-se na orla dos afetos e carinhos. O livro pré-lido, escrito há décadas no jardim das dores de uma tempestade verde-oliva. O livro vai chegar como o Natal. Notícia boa, que salva das trivialidades. No jardim de casa, cães, gatos, portões, mate e a mulher Seli. No pigarro do autor, pausa para revelação. No poema lido pela filha Rita, o tempo pede outro verso. E o “Zé” Maurício acrescenta, faltou escrever sobre o sargento Raimundo. Ele, algemado, foi jogado para afundar sem salvação. Ninguém viu, mas Heráclito estava lá. Não se atravessa duas vezes o mesmo rio. Não se lê duas vezes o mesmo verso. E o poema pede sua sentença, cadê o Pinochet, afogou-se em sua própria lama?, inquieta-se o navegante Maurício.

O livro vai chegar, impresso, antológico, salvação num mar de ignomínia. No domingo, recital no Casarão 8 para pré-lançamento do livro de José Maurício. Torturado pela ditadura militar, teve a mocidade “mutilada” em muitos dos seus projetos, sonhos e utopias. Mas o horror não calou a poesia, que jorra pelo jardim do autor. A publicação, com empenho da filha Rita e da esposa Seli, conta com o compromisso da pró-reitora Denise Bussoletti (UFPel). No domingo, ela assegurou que “Notícias do Jardim” estará publicado em dezembro.

(C0G0Y)