MÁRCIO JONATAN : “Tenho certeza, eu vou voltar”
Márcio Jonatan imagina retorno aos jogos e a retomada dos sonhos
Foram 11 meses de incertezas desde a lesão sofrida no dia 16 de maio do ano passado no primeiro jogo da final do primeiro turno da Divisão de Acesso – vitória do Brasil por 1 a 0 diante do São Paulo no Bento Freitas. Agora, Márcio Jonatan não tem mais dúvida: “Tenho certeza, eu vou voltar”, afirma o atacante rubro-negro. Só não sabe ainda quando exatamente estará em campo. Mas será nos próximos meses. Na Série D do Campeonato Brasileiro. Uma volta lenta, gradual e programada.
A lesão foi grave. “Até agora não caiu a ficha, não tenho noção da gravidade da lesão”, assegura Márcio Jonatan. Diante de uma situação inédita e inesperada, o jogador depositou toda confiança na capacidade profissional dos médicos que o operaram: André Guerreiro e Gustavo Oliveira. Mas a dúvida e as perguntas ocupavam seu pensamento. “Eu ficava pensando: Será que vou voltar a jogar? Será que vou conseguir me recuperar? Como o joelho vai reagir?”, recorda.
Na fase de recuperação, ele trocou o convívio no vestiário com os demais jogadores para passar a maior parte do tempo com os fisioterapeutas. É o momento de contar com os verdadeiros amigos. A família mora longe -em Não-Me-Toque (região noroeste do estado). O apoio principal veio da namorada Luana Finato, que mora em Porto Alegre e é estudante de enfermagem e da sogra que é enfermeira. Aos poucos, Márcio Jonatan foi superando etapas. “Passei três meses sem apoiar o pé no chão. Depois praticamente tive que reapreender a caminhar e fiquei sem confiança para andar”, relata.
Márcio Jonatan buscou também apoio na experiência de alguns companheiros, que, como ele, passaram por cirurgia de joelho e tiveram longo tempo de recuperação. Gustavo Papa se tornou um conselheiro em função do seu histórico na superação de lesões sérias. Bill, Tiago Rannow e William Kozlowsky foram outros exemplos. Da arquibancada, Márcio Jonatan viu o Brasil voltar à primeira divisão, ser campeão do Acesso, disputar vários clássicos no segundo semestre do ano passado, realizar grande campanha no Gauchão de 2014, garantir vagas na Série D do Brasileiro e na Copa do Brasil, e ganhar o título do interior. “Fico triste por não estar em campo, mas feliz pelo sucesso dos companheiros”, afirma.
GRATIDÃO – Esperando pelo momento de voltar a correr – estágio inicial do retorno aos treinos no grupo de jogadores -, Márcio Jonatan imagina o momento de fazer o primeiro jogo, a marcação do primeiro gol… Sua gratidão com o clube será para a vida toda, “No Brasil tive minha primeira grande chance na carreira, ganhei meu primeiro título, tive minha primeira lesão e é onde quero fazer meus últimos jogos no final da carreira. Essa é uma decisão que já tomei”, revela.
Sua estreia foi diante do Metropolitano no Bento Freitas – dia 8 de julho de 2012. Seu primeiro gol foi marcado no empate por 2 a 2 com o Mirassol, no interior paulista. O primeiro jogo em que começou como titular foi o Bra-Pel de 22 agosto – empate por 2 a 2 na Boca do Lobo. Ele marcou o primeiro gol do Brasil nesse clássico. Márcio Jonatan foi o artilheiro do time e vice da Copa Hélio Dourado, com 10 gols – um a menos do que Zulu, do Juventude. Seu último gol foi diante do Farroupilha, dia 24 de março de 2013, na vitória por 3 a 0 no Bento Freitas.
Márcio Jonatan no Bra-Pel de 2012: seu primeiro jogo como titular
Foto: Alisson Assumpção/DM
A lesão adiou o projeto estabelecido na carreira, mas mantém o roteiro traçado – só que agora com a necessidade do recomeço. “Quero voltar a jogar, fazer boas campanhas pelo Brasil e chegar a um time de série A ou B do Brasileiro. Também jogar fora do país”, conta. E assim haverá a justa recompensa por todo o esforço despendido ao longo da trajetória de vida deste jovem de 22 anos.
Muitos “não” antes do primeiro contrato
Um dos traços da personalidade de Márcio Jonatan é o de não desistir nunca na busca da realização de seus sonhos. Antes de se tornar jogador profissional, ele ouviu muitos “não” dos clubes, nos quais chegava para fazer testes. “Eu ficava triste, porque ouvia a explicação que era muito franzino ou que havia outros jogadores iguais a mim que estavam há quatro anos no clube”, conta.
Márcio Jonatan começou numa escolhinha de sua cidade natal (Não-Me-Toque). A primeira tentativa foi no Inter. Reprovado, ele seguiu atrás do sonho de jogar futebol: Grêmio, Juventude e Avaí. Aos 18 anos foi levado para Alemanha, quando ficou um período no Borussia Fulda 04 (ele nem sabe dizer se é time da terceira ou da quarta divisão alemã). Não tinha contrato, mas valeu como experiência.
Na volta ao país, nova frustração: reprovado no teste para ingresso no grupo sub-20 do Avaí. Em seguida, ele conseguiu uma chance no Pedra Branca – time de Alvorada -, sendo levado pelo empresário Jaime Fernandes, que é até hoje seu procurador. Foi quando assinou o primeiro contrato profissional.
Em 2012, Márcio Jonatan foi para o Canoas, onde encontrou Rogério Zimmermann. “Para mim, o Rogério é o melhor cara que existe. Um grande treinador e, com ele, o vestiário é muito bom, unido”, ressalta.
Lesão é debatida em congressos
O médico André Guerreiro defende a necessidade de cautela quanto à volta de Márcio Jonatan ao futebol, após a lesão sofrida em maio do ano passado. “Ele está bem, mas vamos ter que ver como ele vai reagir na volta aos treinos. O fato dele estar bem não apaga a realidade de que foi uma lesão muito grave”, comenta.
Guerreiro diz que a lesão e a cirurgia do atacante têm sido tema em congressos sobre medicina esportiva. “Todos os colegas comentam que foi uma das lesões mais sérias dos últimos tempos no futebol brasileiro. Houve uma antes, do Maicon Leite, quando estava no Vasco”, ressalta.
Márcio Jonatan teve ruptura total do ligamento cruzado anterior, ruptura total do ligamento colateral lateral e ruptura completa do canto póstero-extremo, além de amassamento do menisco lateral. Tudo isso no joelho esquerdo num lance em que foi fazer a conclusão para o gol e prensou, tendo a perna no ar, com um jogador do São Paulo.
O atacante vem realizado treinos na academia da clínica de André Guerreiro, com a orientação do retreinador Jeferson Garcia (profissional que prepara os atletas, antes deles serem liberados para trabalhar com os demais integrantes do grupo).
