Diário da Manhã

sexta, 29 de março de 2024

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MEMÓRIA : A literatura escavada no silêncio da multidão

01 julho
13:56 2020

Falecido há uma semana, Mairo Cavalheiro deixou obras inéditas

Por Carlos Cogoy

Publicado em 1997, o livro de estreia “Malhado e a Fada Volcana – uma história possível” (193 páginas), começou a ser escrito em 1983, hibernou até ser reiniciado em 1991, e está consagrado como símbolo do talento literário do autor pelotense Manoel “Mairo” Cavalheiro. O escritor, que também publicou “Dr Xico Silva – o homem que curava brincando”, filho do jornalista Hernani Cavalheiro, faleceu aos 63 anos no dia 25 de junho.

OBRA – No longo poema “Malhado…” – os 2.158 versos estão numerados -, Mairo expõe a crueza da infância abandonada. Como autor, escava a danação de quem sobrevive após nascer num lixão. Já em “Dr Xico Silva”, narrou a biografia do médico cuja generosidade e irreverência, marcaram gerações de pelotenses. Mas, prospectando o talento de Mairo, no silêncio dos anos, alguns textos permaneceram engavetados.

INÉDITOS – No volume “Malhado…”, o autor expressa que se trata do “(…) primeiro dos quatro poemas que a reflexão determinou-me a escrever”. Vinte anos depois, cabe a curiosidade sobre a sequência da criação literária. Além disso, à época do lançamento, o autor mencionou que havia obras ainda inéditas. O livro “Contestação dos deuses e outros poemas”, escrito aos 21 anos, teria linguagem cifrada por conta do regime militar na década de setenta. O segundo livro “O fuzil e o beijo”, concluído em 1989, foi escrito na então Tchecoslováquia – atual República Tcheca -, onde Mairo durante dois anos, trabalhou na Rádio Praga Internacional.

Jornalista e escritor Manoel “Mairo” Cavalheiro

Jornalista e escritor Manoel “Mairo” Cavalheiro

JORNALISTA com passagens pelo DP, Jornal de Brasília, Correio Braziliense, Folha de São Paulo e Zero Hora, é lembrado pelo senso crítico e texto qualificado. O jornalista gaúcho André Petry, ex-editor de Veja, e atual diretor da revista Piauí recorda: “Tive a sorte de conhecer Mairo Cavalheiro, ‘o Manoel’, para os mais chegados, quando eu ainda cursava jornalismo na Universidade Católica de Pelotas. Logo viramos amigos muito próximos, tínhamos longas conversas madrugada adentro nos bares que ficavam na vizinhança do jornal onde trabalhávamos. Foram anos decisivos na minha formação. Cavalheiro foi um profissional completo, era repórter investigativo dos bons, capaz de jogar luz onde havia sombra, e era também um grande redator, com excelente domínio da palavra escrita, além de ser uma figura humana singular, afável e generoso. Fará muita falta aos amigos, e fará muita falta ao jornalismo”. Mairo e André publicaram “O Arsenal”, jornal dedicado a sindicatos e associações de bairro.

Mairo livro Dr. XicoSAUDADE – O texto e o espírito irrequieto, também são lembrados pelo poeta Alvaro Barcelos, comunicador Régis Oliveira da Rádio COM 104.5, autor Adão Monquelat, jornalista Clayton Rocha. Na trajetória, inúmeros desafios, como a perseguição que sofreu, enquanto estudante de direito na UFPel – ameaça de ter a matrícula trancada -, por conta do  trabalho crítico como assessor de imprensa na Adufpel. Maduro, também enfrentou o preconceito após aprovação em concurso para servidor do IFSul. Num dos exames de admissão, foi considerado “velho”. Mas venceu a batalha, e atualmente ainda estava vinculado. Afastado somente por conta da pandemia. A saudade é expressa pelos irmãos Fernando, Afonso, Fábio, Laura e Ana Lucia, a ex-companheira Pietra Dolamita, e os filhos Hernani e Anna Karenina – homenagem ao russo Tolstói.

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