Diário da Manhã

domingo, 12 de maio de 2024

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“Morte e vida Severina” no Sete ao Entardecer

02 junho
09:07 2017

Segunda às 19h, Sete ao Entardecer terá apresentação teatral com a montagem “Morte e vida Severina”. Entrada franca

Por Carlos Cogoy

A narrativa dorida de João Cabral de Mello Neto (1920/1999), que apresenta o sofrimento do retirante, numa inescapável condição cujo desfecho é a cova rasa, remete à constatação “somos todos severinos”. Na segunda-feira, espaço ao teatro no Sete ao Entardecer da Secretaria Municipal de Cultura. Trata-se de adaptação de “Morte e Vida Severina” de João Cabral, que será interpretada pelo elenco com Teci Jr, Régis Caetano, Fábio Barbosa e Chico Meirelles. Participação dos músicos: Amadeu Machado e Rafael Porfírio. O diretor Carlos Finger informa que, originalmente, a montagem foi elaborada para a disciplina de Encenação Teatral 2 do curso de teatro da UFPel. Desde o início, em julho do ano passado, mais de oito atores e técnicos já integraram o projeto. Conforme acrescenta, a 1º de julho acontecerá exibição na Bibliotheca Pública Pelotense. Também estão sendo organizadas apresentações no Instituto Assis Brasil, Canguçu e a Escola Manoel Ribas em Santa Maria. O grupo está aberto a convites. Na segunda, espetáculo terá início às 19h no pátio 1 do Mercado Público.

MERCADO – O diretor menciona: “A montagem para o mercado foi adaptada para o local, assim como será nos outros. Não temos um modelo fechado, pelo contrário, é desafiador para o artista esta adaptação a lugares não-convencionais. O figurino se aproxima do ambiente do texto. As técnicas de interpretação variam. Na maior parte é naturalista. Em cenas específicas, nos utilizamos também de técnicas anti-naturalistas, numa linguagem mais simbólica e também a linguagem de clown”. Em relação ao embasamento estético da interpretação, o diretor expressa que são trabalhados: “De Constantin Stanislavski, interpretação naturalista e também a disciplina do ator. Já Jerzy Grotowski, Viola Spolin e Augusto Bola, nos guiaram em aquecimentos, alongamentos e preparação antes dos ensaios. Vsévolod Meyerhold, com seus ensaios, que enfatizam a plasticidade no movimento, e Artaud sobre a expressividade no gestual, também nos inspiraram na composição da concepção de interpretação e estética”.

REALIDADE brasileira motivou a montagem. “Há algum tempo esta obra me interessava à montagem, antes mesmo de vir para a universidade. Muita relação com o Brasil atual e a pessoas próximas de mim que vivem numa condição de vida precária. Sempre tive muita empatia social. Empatia mais aguda com os pobres deste país. Pessoas que passam necessidades e lutam para sobreviver neste país tão desigual economicamente. Digo que essa obra é uma homenagem poética minha, e de João Cabral, a todos e todas, pobres e desempregados deste país que vivem penosamente por culpa de uma política gerida pelo interesse das elites nacionais e multinacionais. País que nem chamo de país, e sim, colônia”, diz Finger.

Carlos  Finger

Carlos Finger

Trajetória de Finger

Em Pelotas há três anos, Carlos Finger está cursando teatro na UFPel. Natural de Santa Cruz do Sul, o diretor de “Morte e Vida Severina”, almeja lecionar na área, dedicar-se à pesquisa, e prosseguir realizando espetáculos. Além disso, também se dedica à produção cultural. E um projeto no qual está participando, que tramita na Lei Rouanet, será o Festival de Teatro Profissional do RS. O evento, informa Finger, será em Pelotas.

SHAKESPEARE – A 14 deste mês, estreia de cenas baseadas em William Shakespeare. Conforme Finger, a atividade no curso de teatro, contará com o trabalho no programa institucional de bolsas para iniciação científica à docência, o PIBID. Como bolsista “pibidiano”, Finger desenvolve “metodologias para aulas interdisciplinares, em conjunto com outras licenciaturas da UFPel”. Na trajetória, desde 2015 ele integra a Cia. Ubuntu de Teatro. Ele acrescenta: “Na Cia. atuei com dramaturgia, e também no projeto ‘Permuta’, que divulga poesia pelo canal da Cia. no Youtube. Além disso, ator no espetáculo ‘Sangue e Suor’. No momento estamos construindo o espetáculo ‘Lê: do outro lado da palma’. E trabalhei no projeto Teatro do Oprimido na Comunidade, o ‘TOCO’, onde estudávamos Augusto Boal e as técnicas do Teatro do Oprimido, aprendizagem aplicada em oficinas à comunidade”.

Teatro local é valorizado no Sete ao Entardecer

Política cultural deve valorizar espaços e grupos locais

O diretor teatral Carlos Finger destaca aspectos positivos e negativos da cena cultural. Como positivos menciona: “Ressalto a bravura e empenho de diretores como Chico Meirelles e Flávio Dornelles que, há tempos, resistem produzindo trabalhos na cidade. A produção dos grupos: Filhos de Tereza; Cia. Ubuntu; Você Sabe Quem; Teatro do IFSul; Teatro Cassiano; Teatro Escola Pelotas ‘TEP’; produção do curso de teatro da UFPel.  Outro diferencial, são os fundos de cultura. Sete ao Entardecer e Procultura, são exemplos para outros municípios, em relação ao fomento da cultura, oferecendo espaço e valorização aos grupos locais. Também destaco a Virada Cultural e Feira do Livro”.

SETE DE ABRIL – Finger também observa: “O lado negativo é justamente o Sete de Abril fechado, o Teatro Avenida, o COP, e outros teatros que estão abandonados. Com isso, falta espaço público de referência, tanto para a produção artística local, quanto para uma programação de fora. É preciso que o município, junto com a sociedade e os artistas, criem a política cultural da cidade e que ela de fato avance da fase do planejamento“.

 

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