Música e memória no projeto Preto de Sapato
Sábado das 15h às 18h, contação de histórias e a arte de Eduardo Freda
Por Carlos Cogoy
Preto de Sapato é referência à distinção entre os negros no Brasil escravista. Os negros descalços ainda eram cativos. Já aqueles com sapatos, estavam alforriados. A designação também identifica a oficina, que será realizada sábado à tarde na Praça Cel. Pedro Osório. Em caso de chuva, será transferido para domingo. Aprovado no Prêmio Palmares de Arte, edital de 2021, da Fundação Cultural Palmares, o projeto “Preto de Sapato” reúne música, contação de histórias, capoeira e bonecas negras. Numa grande roda, interação entre as histórias, que serão narradas pelo professor Caiuá Al-Alam (UNIPAMPA), músicas autorais de Eduardo Freda, bonecas “abayomis”, criadas por Emily Passarinho, e a roda de capoeira com o mestre Jarrão. A comunidade está sendo convidada a participar desse encontro, que evoca o passado e presente da negritude.
PRAÇA – O evento na Praça Cel. Pedro Osório, será gravado pela cineasta Cintia Langie, docente da UFPel, que contará com a paticipação de Jackeline Nunes. Organizadores acrescentam: “A praça foi palco de violências e mortes de centenas de escravizados. Ao centro, onde atualmente está o chafariz francês, ficava o antigo pelourinho. O espaço é considerado, por conta do paisagismo e arquitetura, um dos principais pontos turísticos de Pelotas. No entanto, sua real história é desconhecida da maior parte da população. O desconhecimento se dá pela política do embranquecimento que, na mesma medida em que constrói a história oficial, também apaga a memória do povo negro, que é maioria na cidade. E foram as mãos e corpos negros, que construíram Pelotas, tijolo a tijolo, em meio a sangue, violências e resistência. Porém, essas histórias e personagens, estão vivas na memória do povo negro, e de suas narrativas transmitidas pelas gerações. Como nas palavras de Adão Fernando Monquelat, livreiro, pesquisador e escritor pelotense: ‘A Pelotas do excluídos, os que fizeram o doce e não comeram, construíram a praça e não podiam entrar, onde se consolidou o quadrilátero do poder, o centro histórico’. Preto de Sapato tem produção executiva de Bárbara Hypolito, produção musical de Davi Batuka. Apoio do Ponto de Cultura Outro Sul, e Estúdio Batuka Records.
ARTE de Freda no sábado, terá músicas como “Mão de Pilão”, cuja letra é poema de Oliveira Silveira (1941/2009). Já “Sinhá Maria”, conta a história de uma escravizada que, de acordo com o historiador Mário Osório Magalhães, vendia doces nas proximidades da igreja Matriz. O refrão é uma fala da vendedora: “Sinhá Maria tá aqui o que sinhozinho esqueceu, rapadurinha de amendoim, batata doce, sinhá Maria tem. Se o sinhozinho não quer comprar, não me faça desdém”. Em “Rebento”, compositor aborda sobre as mães que jogavam os filhos no arroio São Gonçalo, uma forma de evitar que fossem escravizados. Na música “Porongada”, o massacre dos Lanceiros Negros em Pinheiro Machado, quando foram traídos por líderes farroupilhas em novembro de 1844. Já em “Oyá”, divulga Freda, a mulher negra e a luta contra a opressão dos senhores, a exemplo de Iansã que deixou os filhos em casa, e seguiu para lutar ao lado de Ogum. Em relação à sonoridade: “As canções misturam as origens e raízes africanas, à música popular brasileira, world music, samba, jazz, música eletrônica, beats, sintetizadores e tambores, dentre eles, como protagonista, o sopapo, patrimônio da cultura pelotense”.
TRAJETÓRIA do músico tem os discos “Raízes e Coração” (2013), e “Roda do Tempo” (2017). Ex-vocalista da Nação Suburbana, integra os projetos “Be Livin” e “Donna Dinah”.