Diário da Manhã

segunda, 20 de maio de 2024

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NA BATIDA DA SOLIDARIEDADE : Oficinas de percussão no Lar Casa de Francisco

22 março
08:56 2016

Por Carlos Cogoy

A batida da percussão em oficinas para adultos e idosos. A música como estímulo à sensibilidade, imaginação e sociabilidade. O projeto “Na Batida da Solidariedade”, idealizado pelo músico pelotense Renato Popó, durante um ano, foi realizado no Lar Assistencial Casa de Francisco, situado no bairro Fragata. Aprovado na Lei Estadual de Incentivo à Cultura (PRÓ-CULTURA/RS), o projeto proporcionou encontros semanais. E, além de Popó, também participaram músicos convidados. Para assinalar o encerramento do projeto, às 19h30min desta terça acontecerá lançamento do vídeo que registra o projeto. Na Bibliotheca Públia Pelotense (BPP), também haverá apresentações com os artistas Xana Gallo, Dani & Dena, Nuno Moura, Miro Machado, Rodrigo Madrid, Davi Batuka e Rafael Marques. ENTRADA FRANCA.

APRENDIZADO – Popó acrescenta: “O projeto teve duração de um ano, com oficinas de percussão realizadas semanalmente. Durante as oficinas e apresentações, mensalmente houve a participação de músicos locais. A experiência foi registrada em vídeo e imagens, que são o material do documentário sobre o projeto. Com isso, estaremos mostrando um pouco do que foi trabalhado. A ideia da gravação teve como objetivo a divulgação, bem como despertar, além da música, também noutros segmentos artísticos, o interesse por esse tipo de trabalho social, que contemplou adultos e idosos. Em relação ao desempenho dos participantes, posso dizer que o objetivo foi alcançado, pois muitos já haviam tido algum tipo de experiência com a música e a percussão. Alguns em participações no Carnaval, outros na confecção de instrumentos e também aqueles ligados ao tradicionalismo e CTGs. Como metodologia, o ensino durante as oficinas ocorreu através de repetições, percepções, áudios e vídeos. Então, possível afirmar que o projeto foi desenvolvido de modo não formal. Através desse projeto, posso dizer que aprendi muito com eles, e amadureci em vários aspectos, pois descobri que o maior valor é a vida e o viver. Afinal, passamos o tempo todo correndo e sendo escravos de um sistema capitalista. Esse ritmo nos obriga a produzir e otimizar um futuro baseado somente em valores materiais. Com isso, esquecemos de nossos anseios mais profundos”.

Durante um ano houve oficinas de percussão com o baterista e pesquisador Renato Popó

Durante um ano houve oficinas de percussão com o baterista e pesquisador Renato Popó

IDEIA – O baterista menciona sobre a ideia do “Na batida da solidariedade”: “O projeto surgiu a partir de algumas experiências que tive com a cantora Xana Gallo. Em muitas ocasiões ela me convidou para visitarmos os lares assistenciais. Então aos poucos, fui percebendo que algumas dessas pessoas tinham uma certa carência em relação à música, bem como as demais artes. Com essa convivência, pensei em fazer algo que conseguisse levar um pouco de música até eles, foi aí que surgiu a ideia de criar o projeto com oficinas de percussão”.

CONTINUIDADE – Após o encerramento formal, concluído aporte da Lei de Incentivo, projeto depende de novas perspectivas para continuar. “Com certeza quero dar sequência, e espero que os órgãos públicos olhem com carinho esse trabalho, e continuem incentivando projetos com o compromisso social. Sem esse apoio fica bem complicado, pois sabemos das dificuldades financeiras que temos quando vamos realizar qualquer tipo de ação. No momento não há nenhum tipo de patrocínio ou apoio de empresas privadas, mas acredito que poderão surgir alternativas para a sequência da iniciativa”, diz Popó.

Trajetória começou para substituir músico na banda do tio

Há quase vinte anos ligado à música, o talentoso Renato Popó – trabalha com variados ritmos, desde nativismo até jazz -, conta sobre os primeiros sons: “Quando menino tinha o sonho de ser instrumentista e tocar em bandas famosas, fazer sucesso, viver profissionalmente da música. E tudo começou aos dez anos quando comecei a construir meus próprios instrumentos, todos eles na área da percussão. Eram tambores e baterias feitos de latas de ervilha, latas de goiabada com milho dentro para simular o som da caixa com esteira, borrachas de câmaras de bicicleta, náilon de guarda-chuva que serviam como peles, simulando o couro, e baquetas feitas com galhos de árvores”.

Renato Popó iniciou a tocar bateria aos quinze anos

Renato Popó iniciou a tocar bateria aos quinze anos

ADOLESCENTE – O primeiro instrumento que adquiriu foi uma cubana, que levava para rodas de samba e ensaios de grupos carnavalescos. A convite de um amigo, participou da charanga “Garra Xavante”. O contato informal com a música possibilitou tocar em bailes de Carnaval, definindo que o seu futuro seria a música. Encantado pela bateria, após conseguir adquirir uma, dedicou-se a cursos, aulas e workshops. Aos quinze anos, com a ausência do baterista da banda do tio, ele resolveu tentar e percebeu que estava no instrumento certo.

Música transforma

O baterista Popó ressalta a música como expressão que educa e transforma. Além do projeto no lar assistencial, observa que a música também tem proporcionado mudanças a novas gerações. “Esse tipo de iniciativa vem colaborando também com a formação dos jovens, diminuindo a possibilidade do risco da permanência ociosa na ruas, o que favorece ao envolvimento com drogas. Entre os projetos que são bons exemplos, em Santa Maria temos  ‘Atoque’ e o ‘Cuica’. Os projetos sociais oferecem a percussão para jovens.  Já em Porto Alegre, a orquestra Villa Lobos desempenha o mesmo papel”, diz o músico.

DIVERSIDADE – Em relação à diversidade artística, o baterista menciona: “Quase não usamos nossas percepções e nossas escolhas, pois vivemos num mundo onde o sistema é o prato feito. Não se escolhe o que será consumido. Somos estimulados pelas grandes indústrias e o mundo globalizado de informações. No entanto, creio que, ao invés de consumir esse modelo de prato feito, deveríamos optar pelo ‘bufett’. Assim, estaremos escolhendo o que consumir”.

Antropologia

Recentemente Popó concluiu a licenciatura em música na UFPel. Ele diz que já deu sequência à formação acadêmica, ingressando no mestrado em antropologia. A inquietação pela busca por qualificação, é uma constante na trajetória do músico. Nas primeiras batidas, recorda que aprimorou a técnica com bateristas como Maurício Veiras – formado em música pela UFPel -, e o riograndino Marquinhos Fê. Em 2000 na então Musiarte, foi aluno do baterista Luke Faro, referência estadual no instrumento.

EXPERIÊNCIA – No início, Popó ministrou aulas nas escolas Beatriz Rosselli, Rass e Oficina da Música. Após integrar a banda do tio, primeira experiência com grupo, ele tocou com o Lua Cheia, K entre Nós e Artimanha. Em 2007, foi um dos finalistas do concurso de bateria da revista “Modern Drummer”, que congregou participantes de todo o País. Na cena local, Popó acompanhou músicos como Toni Konrath, Zé Ricardo, Forró do Sul, Quebraceira, Giamarê. Em 2013 participou da gravação do disco de Isabel Nogueira. Nos festivais, está em gravações premiadas no Reponte, Terra e Cor, Moenda da Canção, Minuano e Musicanto. Atualmente acompanha a intérprete Xana Gallo.

 

 

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