Diário da Manhã

sexta, 22 de novembro de 2024

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NA VISÃO DO MASCOTE : Histórias de Gilnei Vilela, o Índio Xavante

07 maio
08:38 2021

Por: Henrique König

Ele é o responsável pela animação da festa antes dos protagonistas fazerem a bola rolar. A criançada corre perto, quer interagir. Os adultos também querem saber quem está trajando a fantasia. O mascote é uma figura carismática, às vezes, dependendo a intenção, é de meter medo nos adversários. Mas Gilnei Vilela, o Índio Xavante quer mesmo é ajudar o clube do coração. Trabalhando com o Brasil há cerca de 20 anos, ele conta um pouco de sua história de arquibancada.

Atualmente, a pandemia de Covid-19 modificou o panorama do estádio. Acostumado a fazer a festa nas entradas em campo com o Rubro-Negro, o índio está solitário na arquibancada Milton Peil, a tribuna do lado do placar no Bento Freitas. Ele aguarda uma futura e calorosa reunião da tribo xavante. Mas tem de ser assim: enquanto o novo coronavírus circular tanto, o jeito é tomar os devidos cuidados.

Frequentador assíduo do Bento Freitas, Gilnei trabalha e divulga o nome do Brasil

Gilnei Vilela é pintor. Foi assim que o fanático torcedor xavante entrou para lista de trabalhadores da Baixada. Nas histórias anteriores, ele conta que foi o primeiro a entrar no Bento Freitas na mítica noite em que o Brasil venceu o Flamengo de Zico, Andrade, Mozer, Fillol e companhia por 2×0, com gols de Bira e Júnior Brasília, em 1985. “Naquela vez parei de trabalhar ao meio-dia e, pelas cinco horas da tarde, ao abrirem os portões, fui o primeiro a entrar. Mais de 20 mil pessoas. Cabia mais ninguém. Os jogos mais cheios foram este e os 4×0 sobre o Grêmio, em 1983.”

Acostumado a realizar a pintura e a lavagem das arquibancadas do Bento Freitas, Gilnei estava em serviço quando atendeu a ligação. Foi em um dia de trabalho como este que iniciou a trajetória de mascote. “Foi até antes do

presidente André Araújo. Eu fazia as pinturas e descobri, embaixo da arquibancada, a fantasia do mascote índio, que estava esquecido. Achei a figura do índio velho, restauramos e retomei a atividade de mascote.” Conta que sempre que o índio é atualizado, ele guarda a fantasia anterior em casa. “Já tenho umas sete ou oito. Tinha um rapaz que fabricava aqui em Pelotas, mas não gostaram muito. A última eu pedi para fazerem em Osório.”

POR TODO O BRASIL

Gilnei destaca dois pontos que elevam o Índio Xavante à figura de respeito nacional. “Sou o único mascote que não recebe dinheiro do clube. Trabalho por amor. E outra: eu era o único mascote que viajava com o clube a todos os jogos. Agora com a pandemia é que parei.”

As principais lembranças evocam o Maracanã. O carnaval carioca naquela Copa do Brasil de 2015, contra o Flamengo. “Foi a festa mais gostosa de todas. Eram milhares de xavantes” – conta, relembrando que foi a partida com mais companhia rubro-negra desde que viaja com o clube fora de casa. Outra vez no Rio de Janeiro foi em Madureira, na Série C do mesmo ano, em setembro. “Aí o Índio chegou a trancar a rua” (risos).

Pé quente nestas temporadas de acesso até a Série B, Gilnei lembra com carinho das viagens à Santa Catarina, onde o Brasil já jogou em Joinville, Criciúma, Florianópolis e tantas outras cidades. Ele também esteve presente na final da Série D 2014, em Tombos, Minas Gerais, no vice-campeonato nacional do Xavante.

“E foi após eu retornar este trabalho de mascote que muitos outros foram surgindo ou voltando aos estádios. Temos inclusive um grupo de mascotes de todo o Brasil no WhatsApp”, explicou.

A fantasia faz tanto sucesso que nos tempos dos aniversários com a presença do Puff, o urso queria que o Índio Xavante também estivesse nas festividades. Mas Gilnei manteve a promessa de não cobrar dinheiro para animar as pessoas e a parceria não evoluiu.

Durante a pandemia, só foi barrado de participar do Gauchão 2021 na estreia contra outro índio, o Capilé, do Aimoré. Mas já regularizaram os protocolos e ele fica na arquibancada Milton Peil a cada jogo, torcendo pelo rubro-negro, no estádio que ele tanto cuida. “O time não foi bem no Gauchão, mas vamos ver se melhora na Série B”, conta o torcedor.

Para não tomar mais tempo, deixamos Gilnei prosseguir o trabalho de lavagem e pintura do Bento Freitas. Sobre a remodelação da Baixada: “Agora está ficando bonito o estádio, nos dá um grande orgulho. Eles estavam pensando em fazer dois degraus em preto, dois em vermelho, mas parece que mudaram e será quase todo vermelho, com detalhes em preto”, confidenciou para o projeto da Série B.

“Conseguimos a doação das 30 latas de tinta pela campanha na internet. Vamos ver se dá tempo para Série B”, comentou o trabalhador abnegado, que não mede esforços pelo clube e se torna um dos mais queridos frequentadores da história do Bento Freitas.

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