“Não se pode misturar política com quartel. Portanto, é hora do quartel sem partido”, diz deputado gaúcho líder do PT
Líder do PT na Câmara, deputado Elvino Bohn Gass critica “toma lá da cá” de Bolsonaro
Por Carlos Cogoy
O governo de Jair Bolsonaro tem contrariado os compromissos da campanha em 2018. O ministro da economia Paulo Guedes, diante do contexto de catorze milhões de desempregados, e a inflação acumulada de 9% neste ano, o que tem causado a elevação de preços no supermercado, não é o “posto Ipiranga” que alardeava o então candidato à Presidência da República pelo Partido Social Liberal (PSL). A bandeira contra a corrupção, simbolizada pela presença do ex-juiz Sérgio Moro como ministro da Justiça – contemplado com o cargo, após prender o principal oponente de Bolsonaro na disputa presidencial -, não se consolidou por conta de uma gestão pífia, que desmoronou após os vazamentos de mensagens no Telegram, nas quais o magistrado combinava ações com o Ministério Público. Além disso, Bolsonaro cedeu ao “Centrão”, recorrendo ao “toma lá dá cá”, que libera emendas com valores generosos, em troca do apoio de parlamentares do baixo clero em Brasília. As observações são do deputado federal Elvino Bohn Gass (PT/RS), desde março líder do PT na Câmara dos Deputados. Recentemente, com apoio do ex-vereador Ivan Duarte – candidato a prefeito ano passado -, ele esteve cumprindo agenda em Pelotas. Em visita ao DIÁRIO DA MANHÃ, o parlamentar natural de Santo Cristo, e oriundo da agricultura familiar, também abordou sobre os escândalos, revelados pela CPI da Pandemia, em torno da aquisição de vacinas contra a Covid-19, o ódio desencadeado pelas milícias digitais, a ineficiência da gestão pública para conter o aumento dos preços da gasolina e gás de cozinha, o Lawfare que culminou com o impeachement de Dilma Rousseff em 2016, e os quase sete mil cargos ocupados por militares na máquina do governo federal. Como contrapartida, diz Bohn Gass, o compromisso do PT para vencer a eleição de 2022: reconstrução e transformação do Brasil.
GASOLINA E BOTIJÃO – Em Pelotas, o botijão de gás passou dos R$100,00, e o litro da gasolina está beirando os R$7,00. O dobro do valor em 2015 que, no governo de Dilma Rousseff, levou uma mulher a protestar num posto de combustível. As imagens viralizaram à época, e têm sido lembradas diante da passividade atual dos consumidores. Para o deputado federal Bohn Gass, ao contrário da justificativa para a elevação, apresentada pelo governo Bolsonaro, a questão não está relacionada com os percentuais de ICMS – âmbito dos Estados -, mas decorre de gestão alinhada com os interesses dos acionistas de estatais privatizadas. Com o fatiamento da Petrobras, que sistematicamente tem sido repassada ao capital financeiro, o País está abrindo mão do refino de petróleo. Assim, o petróleo tem sido vendido, para a fase de refino. Posteriormente, é adquirido na forma líquida. Um processo que fere a soberania, e atende o interesse de poderosos acionistas. “Essa dinâmica alimenta o novo dono, e prejudica a população”, afirma o parlamentar gaúcho. Outro aspecto é a alta inflacionária, que pode chegar a dois dígitos até o fim do ano. Bohn Gass, avalia que a instabilidade política tem contribuído para o cenário de insegurança nos investimentos. “O Brasil voltou ao mapa da fome, e tem ocorrido aumento da desigualdade social”, assinala.
FIM DO SERVIÇO PÚBLICO através da Proposta de Emenda à Constituição (PEC 32), que tramita na Câmara dos Deputados, é um dos desafios da atual legislatura. Conforme o parlamentar, a proposta destrói o serviço público no País. Outra questão que vai polemizar a esfera legislativa, refere-se ao orçamento para 2022. Enquanto o governo mantém congelado o salário mínimo, o que diminui o poder aquisitivo da população, também insiste com as privatizações. E o deputado alerta para a possibiliade de privatização da Eletrobras. O risco acontece num ambiente, com iminência de apagões no fornecimento de energia ao País. Outro aspecto é a sistemática retirada da gestão pública, do compromisso com a geração de desenvolvimento, transferindo a responsabilidade ao setor privado, cuja prioridade é o lucro e não o fomento de perspectivas cidadãs.
LAWFARE é a roupagem jurídica para ações golpistas. Na história recente do Brasil, a “Lava Jato”, capitaneada pela “República de Curitiba”, impulsionada pela pretensa cruzada contra a corrupção, revelou-se como estratégia com ramificações no exterior, que atingiu em cheio o setor econômico nacional, transformando-se num mecanismo de perseguição, e fez da delação premiada uma moeda de troca. Como suporte desse contexto, a grande mídia sustentando a narrativa de uma “faxina” moral, cuja meta estava focada na eleição de 2018. Para tocar corações e mentes, milícias digitais propagando fake news, e instigando um anseio autoritário retroalimentando pelo ódio cotidiano. “A elite brasileira não aceita a emancipação do povo, e prefere mantê-lo na invisibilidade, fora da universidade. E a internet, que tem sido uma fonte para instigar a cultura do ódio, precisa de uma regulação, pois não pode ser um instrumento para mentir, agredir, exaltando crimes e torturas”, afirma Bohn Gass. O Brasil que já foi respeitado internacionalmente, tendo voz ativa no BRICS, depara-se, muito em função das redes sociais e grupos em aplicativos, com um insensato “medo” do comunismo, e mercadores da fé.
MILITARES – “Não dá pra unificar, mas no governo federal, são quase sete mil militares ocupando funções que, ao agregar remunerações, em alguns casos têm ultrapassado R$100 mil num mês de trabalho. Então, alguns generais estão recebendo acima do previsto em lei, o que não é permitido ao servidor público. Já o papel das forças armadas deve ser de defesa da soberania, sem agressões ideológicas. Não se pode misturar política com quartel. Portanto, é hora do quartel sem partido”, observa o deputado gaúcho.
IMPEACHMENT prossegue sendo costurado pelas lideranças partidárias em Brasília. Nesta semana, o líder do PT na Câmara, tem agenda com DEM, MDB, PSD e setores o PSDB. Boh Gass menciona que a CPI da Pandemia, mostrou aos brasileiros, que a demora na vacinação foi causada por atravessadores, ligados ao Palácio do Planalto, que procuravam embolsar propinas.
ESTADO – Em Pelotas, o parlamentar comprometeu-se com a destinação de emenda para a Faculdade de Odontologia, que está necessitando de equipamentos. Já em relação ao governador Eduardo Leite observou que, embora esteja se esforçando para desgarrar a imagem do apoio a Bolsonaro na campanha eleitoral, na prática mantém o receituário das privatizações, como a entrega da Corsan, contradizendo o que havia prometido na campanha ao Piratini. E Bohn Gass frisa que o PT vai vencer a eleição de 2022, comprometido com a reconstrução e transformação do Brasil.