Pacto pela Paz aposta na escola como centro de prevenção à violência
O poder transformador da educação e dos vínculos familiares vem sendo, há dois anos, aliado do Pacto Pelotas pela Paz para combater a violência na cidade a partir da prevenção.
São milhares de bebês, crianças e jovens acolhidos pela rede do Município, que acredita na formação escolar e no fortalecimento de laços afetivos para modificar realidades e, consequentemente, diminuir a criminalidade na cidade. A aposta, apesar de buscar refletir em grandes mudanças a longo prazo, já pode ser evidenciada em diversos lares e educandários pelotenses.
LARES MAIS SEGUROS
Através do programa – implantado como política pública no município de forma pioneira no Brasil –, 218 pais, mães e cuidadores foram capacitados para educar seus filhos sem nenhuma forma de violência, utilizando o diálogo e o afeto como palavras-chave para embasar relações mais saudáveis e construir ambientes mais seguros. A partir de agosto, outras 200 famílias serão alcançadas. “Minha vida melhorou bastante porque ‘vejo eles’ bem; tudo que faço é pelos três. Com o grupo do ACT podia trocar experiências e ver que não era o único que enfrentava algumas situações, o que era confortante. A gente aprende a ter mais controle e reaprende a amar, cuidar e proteger uma criança”, disse o avô.
MUDANÇA EFETIVA
Para a prefeita Paula Mascarenhas, a família e a escola são os grandes centros de prevenção à violência e, por isso, o Pacto confia nestes projetos para transformar vidas e tornar histórias mais felizes. “São programas que preparam os pais para criarem vínculos afetivos mais fortes com seus filhos, que deem confiança, segurança, autoestima e capacidade para lidar com frustrações no futuro, sem fazer o uso da violência. O afeto, o diálogo e a atenção às crianças são fatores que, a médio e a longo prazos, vão trazer transformações significativas para Pelotas”, defendeu a prefeita.
CONSTRUINDO SABERES
Evitar a evasão escolar – fator de risco para a violência –, resgatar a autonomia e autoestima dos jovens, consolidar a relação professor-aluno e minimizar as situações de distorção entre idade e ano norteiam outro projeto bem-sucedido do Pacto, o Construindo Saberes, que registra resultados que comprovam a eficácia do papel da educação. Neste ano, 20 educandários mantêm a iniciativa, que ocorre sempre no turno inverso ao da aula. Por intermédio de pequenos grupos de estudo, o conteúdo é reforçado, as dúvidas são tiradas e o conhecimento se multiplica a partir das explicações de professores dedicados do Município, como Jacqueline Braz, da Emef Ferreira Vianna, na Balsa.
“Não trabalhamos somente português e matemática; realizamos trabalhos de história, arte, geografia… Passamos técnicas de memorização, interpretação e formas de relacionar o conteúdo com a realidade dos estudantes. O vínculo entre professor e aluno fica mais forte e isso faz toda a diferença”, opina Jacqueline.
Dos 12 jovens, de 7º e 9º ano, que integram o projeto, 11 foram aprovados e avançaram do primeiro trimestre. “Os outros professores relatam que os percebem mais comprometidos, concentrados e interessados em sala de aula”, complementa a docente, que compartilha a realização da iniciativa com a professora Mariza da Costa.
A construção coletiva dos saberes é refletida positivamente através dos números: no ano passado, dos 112 estudantes atendidos, 92 avançaram de ano; em 2019, dos 369 envolvidos, 208 foram aprovados.
ESPÍRITO EMPREENDEDOR PREVINE VIOLÊNCIA
A escola também tornou-se lugar de fomentar a capacidade empreendedora dos alunos e estimular o espírito de liderança em crianças, jovens e adultos. A implantação da Educação Empreendedora – parceria entre Prefeitura e Sebrae – alcançou mais de 2.750 estudantes das zonas urbana e rural de Pelotas por meio dos programas Jovens Empreendedores Primeiros Passos (JEPP) e Começar Bem. As atividades desenvolvidas nos espaços escolares têm o objetivo de encorajar os estudantes ao protagonismo juvenil e à gestão da própria vida.
O comportamento empreendedor vai além da ideia de abrir uma empresa: representa a aquisição de habilidades que poderão ser aproveitadas em todas as etapas da vida. É o que conta a professora da Emef Independência, no Sítio Floresta, Noslen de Oliveira, ao mencionar as competências conquistadas pelos alunos do JEPP. “Eles ficam mais criativos, disciplinados, desinibidos, aprendem a trabalhar em equipe, adquirem senso de responsabilidade e entendem a importância de planejar ações e medir resultados. É gratificante ver essas mudanças e perceber que isso chega até as famílias”, comentou Noslen, destacando que alguns estudantes passam a identificar negócios e iniciativas empreendedoras dos pais, que antes eram despercebidas. “Eles se propõem até em ajudar nesses projetos”, acrescentou a professora.
Na escola do Sítio Floresta, a atividade é praticada desde 2017 e, nestes quase três anos, 190 crianças e adolescentes, de 9 a 15 anos, foram beneficiados com aulas que instigam a confiança nas próprias escolhas e decisões. Nos dois primeiros anos, por exemplo, a professora relata que os alunos organizaram uma locadora de livros, filmes e fantasias, e criaram uma cabine fotográfica – ideia deles para aumentar o lucro.