PALAVREADOR : Pampa e sertão nos versos contra a opressão
Sexta às 20h na Bibliotheca Pública, Pedro Munhoz e o sarau “Palavreador”. Às 22h, ele cantará no Rincão Nativo
Por Carlos Cogoy
Sarau “Palavreador” possibilitará reencontro com o cantador e violeiro gaúcho Pedro Munhoz – residiu em Pelotas nos anos noventa, onde gravou seu primeiro disco “Encantoria”. Natural de Barra do Ribeiro, também residiu em Santa Vitória, Porto Alegre e Governador Valadares. Na trajetória, discos como “Cantigas de Andar Só”, “Pátria Mundo”, “C’aminhador”, “Guitarra toda a vida”. E o cantador e violeiro, já levou sua música a países como Canadá, México, Cuba, Uruguai, Chile, Itália e França. No sarau, com a presença do premiado autor Martim César, apresentações de dez canções e dez poemas. Também participará o músico pernambucano Neudo Oliveira, que acompanha Munhoz no espetáculo “Pampa e sertão em Cantoria”. “Palavreador” terá transmissão ao vivo pela rádio COM 104.5.
RINCÃO Nativo – rua Félix da Cunha 859 -, também terá apresentação de Munhoz na sexta. Às 22h, ele e Neudo Oliveira, apresentarão a cantoria que, em janeiro e fevereiro, percorreu Estados nordestinos. Munhoz observa sobre a parceria: “Em 2015, eu e o cantador pernambucano Neudo Oliveira, montamos o projeto ‘Pampa e Sertão em Cantoria’. A ideia é mostrar que temos muitas coisas em comum. No sertão ou na região pampa, a exploração do trabalho é a mesma, a luta pela terra é a mesma. O vaqueiro, o sertanejo, sofre com a seca. Aqui sofremos com as cheias e às vezes com estiagens. O silêncio da pampa e o silêncio do sertão são muito parecidos. O vento que sopra no sertão é parecidíssimo com as ventanias daqui e tudo que causa psicologicamente nas pessoas. O sertanejo tem uma forma de refletir muito parecida com o nosso campeiro. Claro, guardadas as diferenças de clima, geografia e relevo, posso garantir que são formações de povos diferentes, mas em muito nos parecemos. Na relação patrão e exploração, vejo no Nordeste uma situação mais clara. O patrão explora e o sertanejo sabe dessa exploração. Eis uma das razões que muitas vezes o faz migrar para os grandes centros. Já no pampa, região de grandes extensões de terra, o campeiro se sente parte da fazenda, quase um dono e se orgulha de tomar mate ao fim da tarde no galpão, para depois dormir nos pelegos. Mas penso que isso é um tema que passa pela construção de um gaúcho-centauro. Conceito que considero equivocado. Prefiro falar do gaúcho descalço, quebrando geada, juntando graveto para espantar o frio”.
GOLPE – O músico avalia o contexto: “As artes, a mídia, o consumo e o besteirol, são consequência de um governo bancado e exercido pela classe dominante. Cabe lembrar que a classe dominante planejou o golpe debaixo dos olhos dos governos de Lula e Dilma. Foi uma reedição de ‘dormindo com o inimigo’. Santo Deus, tamanha ingenuidade, pensar que compor com a direita, com o conservadorismo arcaico deste País, seria uma forma de avanço a questões sociais. Avançamos somente até onde a direita permitiu. Durante todo esse período, movimentos sociais chamavam a atenção, mostrando que a esquerda brasileira não se resumia no PT, Lula e Dilma. E, para mim, Dilma foi a bola da vez. Sabemos que, politicamente, cometeu inúmeros erros. O que se tornou munição e prato cheio, num jogo para confundir a opinião pública, para que a direita a derrubasse. Chegamos ao ponto de ver camadas pobres da população, que foram beneficiadas pelos projetos sociais, em plena avenida Paulista, pedindo a saída de Dilma, aplaudindo o Bolsonaro e todo o resto da canalha. A direita chegou à internet, teve apoio da mídia e judiciário, e foi bancada pela FIESP. Então, creio que o nosso papel nesse momento é estar ao lado das causas populares, do povo da periferia, dos oprimidos do campo e da cidade. Temos causas comuns, somos classe trabalhadora. Quem nos oprime segue sendo a classe burguesa, com apoio da classe média que sonha ser ‘burguesa’, porém, não detém os meios de produção”.
CANTORIA Pampa e Sertão é a parceria de Pedro Munhoz com Neudo Oliveira (Foto). Nesta quinta, o duo toca em Canguçu. Após as apresentações em Pelotas sexta, os músicos estarão Jaguarão, Rio Branco (Uruguai), Pedro Osório, Veranópolis, Santa Cruz, Pontão e Porto Alegre.
Aproximando o canto do sul e Nordeste do País, o projeto teve etapa em janeiro e fevereiro. Munhoz e Neudo realizaram dezessete apresentações em diferentes cidades da Bahia, Sergipe e Alagoas. Expressando gratidão pela acolhida nas localidades, Munhoz menciona: “Sonhar, sonhar sempre, pois é assim que se faz realidade”.
MARTIM César é letrista, poeta e escritor jaguarense, que participará do sarau “Palavreador” na Bibliotheca amanhã. Suas composições já receberam mais de trinta premiações em festivais no Estado e País. Ano passado, em conjunto com o uruguaio Oscar Massitta, parceria no disco “Canciones que nacen del camino”. Letras de Martim com arranjos e interpretação de Massitta.
Na música, Martim também integrou os discos: “Caminhos de Si” (2004); “Maria Conceição canta Martim César e Paulo Timm” (05); “Canções de a®mar e desa®mar” (06); “Da mesma raiz” (09); “Já se vieram” (11); “Memorial de Campo” (12); “Coletânea dos Festivais” vol. 1, 2 e 3 (13). Em 2015, lançamento do disco “Náufragos Urbanos – Cartas de marear”, que contou com a cantora Rô Bjerk e instrumentista Ricardo Fragoso. Em Pelotas, o disco pode ser adquirido no Stúdio CDs e Woodstock Discos.
No teatro, co-autor da peça “O engenhoso fidalgo Don Quijote de la Mancha” – adaptação da obra de Miguel de Cervantes.
Na literatura é autor de cinco livros de contos e poesia: “Poemas ameríndios” (2000); “Poemas do baú do tempo” (01); “Sob a luz de velas” (03); “Dez sonetos delirantes e um Quixote sem cavalo” (09); “Sobre amores e outras utopias” (13).