PARÓQUIA SÃO CRISTÓVÃO : Senegaleses realizam celebração muçulmana
No dia 1º de dezembro de 1910, o Cheikh Amadou Bamba foi libertado do exílio sob o jugo da França e hoje a data é comemorada pelos muçulmanos senegaleses.
A celebração ocorreu ontem em muitas cidades do Brasil. A iniciativa de emprestar o espaço da igreja foi do Pe. Guilherme, pároco da paróquia São Cristóvão e responsável pela Ação Social da arquidiocese de Pelotas. A celebração é realizada durante oito horas, nas quais os fiéis, vestindo trajes típicos, rezam, dividem a comida e realizam rituais de purificação. Durante a manhã, o Pe. Guilherme rezou junto com os senegaleses e pediu perdão, em nome da Igreja Católica, pelos crimes cometidos pelos franceses católicos no Senegal.
Amadou Bamba, que recebeu o título de cheikh (pessoa louvável e respeitável na religião muçulmana), foi um jurista, escritor e líder religioso.
Nasceu no Senegal em 1853 e almejava combater o colonialismo francês através do pacifismo. Os catequizadores franceses viram em Amadou uma ameaça para seus propósitos e o obrigaram ao exílio em 1903, onde permaneceu por sete anos, sete meses e sete dias, sendo liberado em 1º de dezembro de 1910. A vertente muçulmana de Amadou destaca três virtudes que o homem religioso deve ter: pacifismo, trabalho duro e boas maneiras. Quando estão na África, os senegaleses geralmente fazem uma peregrinação à Touba, cidade fundada pelo líder religioso. Distantes de casa, os fiéis escolhem um lugar para celebrar e servir como uma “Touba improvisada”.
Ana Paula Dittgen, professora de direito na UCPel e membro do Grupo de Estudos em Políticas Migratórias e Direitos Humanos (Gemigra), afirma que tem cerca de 50 senegaleses em Pelotas, todos homens e muçulmanos. A crise econômica e o desemprego enfrentados no Senegal criou essa onda de imigração, a maioria trabalha para mandar dinheiro para a família e muitos têm formação universitária. Aqui em Pelotas, grande parte dos imigrantes trabalham na construção civil ou como vendedor ambulante.
Segundo Ana Paula, o preconceito é muito grande e muitos afirmam que não conheciam esse racismo que ocorre aqui no Brasil.
Mohamed Dame está no Brasil há um ano e trabalha como garçom e porteiro. No Senegal, Mohamed era empresário e dono de uma empresa no ramo da alimentação. Fala português, francês, italiano, espanhol, inglês e wolof (dialeto senegalês). Estudou línguas na Itália, viajou pela Europa e depois voltou ao Senegal para ser empresário. Com a crise, Mohamed saiu novamente do Senegal para a Europa e há cerca de um ano veio para o Brasil.