PELOTAS : Felipe Müller acredita na base como solução futura
Lobão está sem equipes jovens voltadas para Campeonato Gaúcho e nacionais desde 2014
Por: Henrique König
“Os times mudam demais a fotografia. A cada seis meses, trocam atletas, eles acabam indo embora e seguem a vida.” É o desabafo sobre o futebol contemporâneo em geral, feito por Felipe Müller, treinador na base do Esporte Clube Pelotas. O profissional defende as categorias adolescentes como essenciais para a manutenção de um clube forte, com atletas que possam integrar futuramente os profissionais, identificados com a identidade de cada agremiação, se importando e sendo reconhecidos pela torcida.
Felipe vai na contramão dessa lógica de elencos e comissões técnicas semestrais. Está na Boca do Lobo desde 2004. Por muito tempo, dirigiu a categoria sub-17, um dos acessos ao elenco profissional. Personagem de confiança e pronto para desafios, já dirigiu o time principal em pelo menos quatro partidas como treinador interino. Atualmente ele segue à frente das categorias mais velhas entre os garotos, mas a idade para jogarem no Pelotas estaciona nos 16 anos. O módulo também não está plenamente voltado aos torneios, como estaduais ou nacionais; está mais direcionado para o modelo de escolinha.
“Hoje trabalhamos até a categoria sub-16. Queremos o retorno das equipes de competição, uma sub-15, uma sub-17 e até uma sub-20, para disputar o Campeonato Gaúcho e até competições nacionais”, projeta Felipe.
O técnico dos guris do Lobão conta que o Pelotas tinha esse modelo competitivo, voltado ao alto rendimento até 2013, último ano de disputa estadual. A queda do clube para a Divisão de Acesso foi um baque em 2014, congelando esse investimento ao futuro da alcateia. Havia a projeção das categorias retornarem
com a volta ao Campeonato Gaúcho, mas está sendo decorrido o segundo ano de elite estadual com os profissionais e a base segue paralisada nesse sentido.
“Foram conversas pautadas no fim de 2019 e no início de 2020. O clube busca recursos e espera investimentos vindos de fora”, afirma Felipe, em compasso de espera desse panorama incerto.
Acompanham Felipe Müller na base do Pelotas, o também treinador Josué Martins e geralmente um rodízio de estagiários, de auxiliares, como atualmente há o jovem Richard. O preparador de goleiros é o experiente Álvaro. Os treinos ocorrem sumariamente no Parque Lobão. Apesar da boa estrutura presente no Centro de Treinamentos, um dos problemas é o deslocamento, que também envolve custos. Materiais de treino, de bolas a coletes, tudo isso entra em uma caderneta de recursos apertados.
Assunto sério
“Temos que voltar a investir nessa base. Os clubes gastam com jogadores e comissões técnicas que passam muito rápido. Pode ser que mudemos essa mentalidade, mas é para resultados a longo prazo, em um trabalho que começa de formiguinha.”
Felipe Müller elogia o profissional Luciano Proença, que reestruturou a base no Grêmio Atlético Farroupilha. Segundo o áureo céruleo, o trabalho no Fragata está bem apontado, com parcerias, como as firmadas com o Grêmio e com a UFPel.
O recado é este: é necessário procurar a formação de atletas, para integrar o elenco profissional, o que diminui gastos com contratações. Os que atuam juntos desde cedo fortalecem o entrosamento e a identidade com o clube. Ganham reconhecimento e o respeito dos torcedores, que são fidelizados. No capitalismo do mundo da bola, é também importante projetar vendas, decolagens para voos maiores.
As categorias de base demonstram essencialidade para um Pelotas que precisa reagir em saúdes identitárias e financeiras.
Roberto Recart e a preocupação com a preparação física
No E.C. Pelotas, o preparador físico Roberto Recart segue repassando atividades para os atletas do grupo principal realizarem de forma residencial. Ele aborda a necessidade de uma volta aos treinos qualificada antes da bola rolar pelo Campeonato Gaúcho.
“O trabalho em casa é de outra intensidade, de outro monitoramento. Não é a mesma coisa o atleta em casa na esteira e quando ele está no clube, com o incentivo, com a cobrança. No Campeonato Alemão, que voltou fim de semana passado, foram seis jogos que tiveram oito lesionados. Lá são clubes estruturadíssimos e mesmo assim ocorreu. Aqui no interior não seria diferente.”
“Estamos há muito tempo nessa pausa e o futebol é cada vez mais intenso, de força, competitivo e, para competir, você precisa estar muito bem fisicamente. Nesse período, pudemos acompanhar jogos antigos na televisão e a gente vê como era outra intensidade”, afirmou Recart, para o repórter Marcelo Prestes.
Apesar do grupo hoje ser reduzido, o preparador quer mobilizar os atletas que estão com contrato e fazer com que os futuros contratados também subam no trem de atividades.