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segunda, 25 de novembro de 2024

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Pesquisa enfoca invasão de javalis no território nacional

14 novembro
09:29 2016

A invasão dos javalis em regiões brasileiras começa a ser preocupante para muitos proprietários de terras. No início dos anos de 1990, existiu uma pressão muito grande de comercialização do animal no país. Os produtores importaram matrizes, mas o negócio não deu certo, e o animal foi liberado para a natureza.

“Muitos javalis escaparam porque o animal é agressivo. Muitos outros foram liberados intencionalmente para a natureza, após IBAMA proibir a criação no país no final dos anos 90”, explica Felipe Pedrosa, aluno de doutorado da Unesp de Rio Claro, que desenvolve a tese Ecologia da invasão do javali e a suas consequências para a conservação da biodiversidade.

O objetivo do estudo é verificar se a espécie, o javali, pode ser um substituto funcional para antas, queixadas e cateto. “Quero saber se o javali pode substituir a função ecológica que foi perdida pela extinção local das antas, queixadas e catetos”, diz o doutorando.

Para tanto, ele irá testar se a espécie é um substituto ecológico para as funções de dispersão de sementes, herbivoria, pisoteamento e de revolvimento do solo em fragmentos florestais. Ele iniciou os experimentos em 2014, e em março deste ano foram montadas 15 parcelas de exclusão – espaço reservados da mata onde os animais podem ou não podem entrar – na Estação Ecológica de Angatuba.

“Quando os animais comem e pisoteiam as plântulas (nome que se dá ao estágio inicial das plantas) ou revolvem o solo na parcela, têm um efeito sobre aquelas plantas que acabaram de germinar e estão nascendo. Basicamente, são elas que irão repor as futuras árvores. O experimento de Angatuba visa avaliar este efeito”, diz.

Para o estudo, os pesquisadores cercaram as parcelas de forma a impedir o acesso dos porcos e, de tempos em tempos, eles contam e identificam estas plantas dentro daquele espaço. Foram feitas parcelas abertas (onde os animais circulam livremente) e parcelas fechadas (nas quais eles não entram). “Nós acreditamos que daqui há uns dois anos, se tivermos um efeito marcante, haverá uma diferença entre o número de plântulas e a composição de espécies entre as parcelas fechadas e as abertas, evidenciando o efeito dos porcos sobre a vegetação”.

Pedrosa conta que um dos objetivos da pesquisa também é avaliar a dispersão de sementes realizada pelo Javaporco. Mesmo com a pesquisa em andamento, ele já tem alguns dados relevantes. “Sei que os javalis estão comendo frutos e engolindo as sementes desses frutos. Temos já 19 espécies de plantas em que o javaporco está dispersando suas sementes.

OBJETIVO é avaliar o efeito do animal no meio ambiente

OBJETIVO é avaliar o efeito do animal no meio ambiente

Um dado importante da pesquisa é que no Estado de São Paulo, 86% da dieta do animal se constitui de cana e milho, o restante é material vegetal, folha (como o capim) e fruto. Menos de 2% é carne (de vertebrados, como aves, e invertebrados, como insetos). “O consumo de insetos não é intencional. Ele está revirando o solo, comendo frutos, cana e acaba comendo os insetos que estão ali”, explica o pesquisador.

Já na região Sul, nos pampas gaúchos, onde o animal está muito presente, segundo o doutorando, há uma particularidade. “Os javalis estão comendo as ovelhas nas propriedades rurais. O prejuízo econômico está sendo enorme para os criadores. As estimativas de perdas são de 200 mil a 2 milhões de reais”, diz.

“O impacto econômico é muito grande principalmente com o pequeno produtor, que é mais sensível. Os javalis podem acabar com uma plantação em uma única noite”, ressalta. Além do Sudeste e do Sul o javali está também muito presente no Centro-Oeste. No Nordeste, suas aparições são pontuais. O aluno publicou um artigo, em 2015, na revista Natureza e Conservação, em que mostra a distribuição atual desta espécie no Brasil.

Pedrosa também é co-autor de um artigo publicado na revista Plos One, intitulado: Diet Overlap and Foraging Activity between Feral Pigs and Native Peccaries in the Pantanal, em novembro de 2015. O estudo investiga a competição e coexistência entre o invasor porco monteiro (que é a mesma espécie do javali) e os nativos queixada e cateto no Pantanal. Os autores do trabalho demonstraram que na presença do invasor, os porcos nativos são forçados a alterar o período de atividade.

O trabalho acadêmico investigará, ainda, a ecologia dessa espécie sob o ponto de vista dos isótopos estáveis de carbono e nitrogênio. Foram enviadas 390 amostras de pelos e recursos ao Centro de Isótopos Estáveis de Botucatu e a análise dos resultados e preparação do manuscrito será elaborada em breve. O artigo também será assinado pelo seu orientador, o professor Mauro Galetti, do departamento de ecologia da Unesp de Rio Claro.

O pesquisador também participou nos dia 30 e 31 de agosto do Seminário de Nivelamento de Informações e Conhecimentos sobre a Invasão de Javalis no Território Nacional, promovido pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), o Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Ibama e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), evento que teve como intuito a formulação de uma política pública para o Plano Nacional de Controle do Javali no Brasil. “Minha participação foi mostrar a distribuição atual dos javalis e javaporcos no Brasil e falar sobre suas causas e consequências”. A pesquisa está sendo desenvolvida com o apoio da Fapesp.

JAVAPORCO

O javaporco é uma mistura do javali com o porco doméstico. O javali é um ancestral do porco doméstico. Todos são da mesma espécie biológica. O javali é nativo da Europa e da Ásia e ele foi introduzido no Brasil, para fins comerciais.

Com a chegada no Brasil dos javalis, os criadores de porco viram que o animal não era um negócio lucrativo e na tentativa de salvar o negócio cruzaram o javali com o porco doméstico. Do cruzamento surgiu o javaporco: que é um animal exótico, tão agressivo quanto o javali, e tão grande quanto o porco doméstico.

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