Pesquisas feitas na UFPel ajudam a desvendar como funciona o câncer
Conjunto de pesquisas desenvolvidas no Laboratório de Biotecnologia do Câncer da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) está ajudando a comunidade científica a entender melhor como funcionam os tumores malignos e como o câncer reage a novos quimioterápicos.
O Grupo de Pesquisa em Oncologia Celular e Molecular (GPO), atuante na área de Biotecnologia aplicada à Saúde, trabalha em colaboração com pesquisadores de outras áreas como Biologia, Bioquímica, Biomedicina, Farmácia, Nutrição, Odontologia, Medicina e Veterinária. O GPO está ancorado ao Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia da UFPel, onde são feitas as pesquisas e atividades de desenvolvimento tecnológico. Conta com estudantes em Biotecnologia nos níveis de graduação, mestrado e doutorado.
Desde 2009, quando foi constituído, o Grupo desenvolve pesquisas nas áreas de avaliação de novos quimioterápicos; de vacinas usando a BCG modificada geneticamente no tratamento do câncer de bexiga; de nanotecnologia na entrega de drogas e fármacos, no estudo da relação da oncologia com a embriologia; e de uso de modelos animais, basicamente suínos, visando à observação de como a imunologia do animal reage aos tumores.
O Grupo é coordenado pelos professores Tiago Collares e Fabiana Seixas, já teve 12 doutorados, 19 mestrados, dois pós-doutorados e oito bolsas de Iniciação Científica concluídos. Estão em andamento na área quatro mestrados e quatro doutorados. São 60 artigos científicos publicados em revistas internacionais de impacto, 29 solicitações de patentes no Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) e quatro livros lançados, destacando o titulo Oncologia Celular e Molecular: Inovações Biotecnológicas. O Laboratório de Biotecnologia do Câncer tem origem na fusão do Laboratório de Embriologia Molecular e Transgênese com o Laboratório de Genômica Funcional, do Núcleo de Biotecnologia do CDTec da UFPel.
Quimioterápicos
A primeira linha de pesquisa desenvolvida pelo Grupo é a que diz respeito à avaliação de novos quimioterápicos sintéticos. Em parceria com pesquisadores da área de Química Sintética da Universidade, são feitos ensaios em linhagens tumorais humanas. “Queremos entender como a genômica da célula tumoral se comporta sob o efeito do quimioterápico”, conta o professor Collares.
O trabalho é realizado em conjunto com a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e uma curiosidade, ressalta o coordenador, é que nesta linha está sendo “ressuscitado” o AZT, agora modificado sinteticamente, para uso nos bioensaios. Fruto das pesquisas, algumas patentes de novos quimioterápicos já foram solicitadas, especialmente para o tratamento de câncer de mama e de bexiga.
BCG X Câncer
Ícone histórico no combate e na prevenção da tuberculose, a vacina BCG hoje é usada, eficazmente, no tratamento do câncer de bexiga. A versão empregada neste fim é modificada geneticamente, passando a se chamar BCG Recombinante. E são exatamente pesquisas envolvendo o desenvolvimento desta vacina transformada que compõem a segunda linha de investigações do GPO.
“Ela (a BCG Recombinante) em ensaios in vitro tem demonstrado resultados bastante promissores. O próximo passo será aprofundar os estudos utilizando BCG Recombinante em modelos in silico alternativos e posteriormente em modelos biológicos complexos para avaliação da resposta imunológica”, analisa a professora Fabiana Seixas.
Oncologia, Embriologia e Nanotecnologia
Aproveitando a semelhança que há entre o desenvolvimento celular nas fases embrionárias e o crescimento que ocorre nos tumores, a terceira linha de pesquisa do Grupo atua, lançando mão de recursos da nanotecnologia, no estudo de novas formas de entrega de drogas e de fármacos nas células. O estudo tem aplicações nas áreas da Embriologia e da Oncologia. Para tanto, são usados células-tronco embrionárias, com até dez dias de desenvolvimento, de bovinos e de suínos, fertilizados in vitro. “Entendendo o comportamento do embrião através de suas células tronco-embrionárias, estaremos também compreendendo melhor o desenvolvimento das células tronco-tumorais, pois os processos iniciais são muito semelhantes”, explica o professor Collares. O trabalho é feito por meio das análises das células-tronco embrionárias e tumorais.
Oncopig
Para compreender a biologia do câncer, e também avaliar a ação de quimioterápicos, a quarta linha de pesquisa feita no Laboratório estuda como a imunologia de porcos geneticamente modificados para terem tumores reage à doença. “É o que chamamos de projeto Oncopig, que usa modelos animais para estudo do câncer”, disse o coordenador do Grupo. Neste caso, os genomas dos suínos são alterados em dois genes, para que o tumor apareça e os estudos possam ser feitos.
O trabalho é realizado em conjunto com as universidades de Illinois e do Missouri, nos Estados Unidos, onde este modelo de estudo surgiu, em parceria com os pesquisadores brasileiros que coordenam o Laboratório de Biotecnologia do Câncer na UFPel. Em função das pesquisas, dois estudantes de graduação, dois de doutorado e dois docentes da UFPel realizaram intercâmbio nas instituições americanas.