PRÉ-CÂNCER : Mulheres protestam na Câmara e Centro Histórico
Elas não concordam com a decisão da prefeita Paula Mascarenhas de realizar novos exames por amostragem. Exigem que sejam refeitos todos os exames sob suspeita
O Plenário da Câmara de Vereadores recebeu, na tarde de ontem, uma reunião pública que debateu a situação dos exames pré-câncer em Pelotas. Após denúncia de médicos e enfermeiros da rede pública, de que os exames não eram confiáveis, publicada no Diário da Manhã, as medidas tomadas pela Prefeitura foram consideradas insuficientes para tranquilizar a população.
Movimentos de mulheres, representantes dos médicos, dos profissionais da área de saúde, todos são unânimes: a resposta da administração para essa crise é inaceitável.
A reunião intitulada “Dia M Pela Vida das Mulheres” contou com a presença da Deputada Federal Maria do Rosário, Deputada Estadual Miriam Marroni, Deputada Estadual Stella Farias, Vereadores Fernanda Miranda, Ivan Duarte, Marcus Cunha, Eder Blank e Antônio Peres. Também participou a vice-prefeita de Capão do Leão Gilciane Baldassari, representantes da 3ª Coordenadoria Regional de Saúde, do Conselho Municipal de Saúde, Conselho Estadual de Saúde, Conselho Municipal dos Direitos da Mulher, SIMP, Sindicato dos Trabalhadores na Saúde, Simers, Asufpel, Adufpel, e GAMP – Grupo Autônomo de Mulheres de Pelotas.
A médica e professora da UFPel Julieta Fripp lembrou que há pouco mais de dois anos realizou um estudo que alertava as autoridades e a sociedade sobre o excesso de casos de câncer de colo de útero e a elevada mortalidade em Pelotas. “A fase de rastreamento não foi efetiva”, disse a médica referindo-se aos exames com resultados inconfiáveis. “Muitas mulheres morreram por conta deste rastreamento deficiente”, completou.
Da tribuna, algumas mulheres depuseram sobre seus casos concretos, contando que realizaram exames Papanicolau na rede pública, com resultados normais, porém estavam doentes.
A dona de casa Ieda Ávila, 51 anos falou que, por 12 anos realizou o exame pré-câncer na rede pública de saúde de Pelotas e os resultados eram sempre os mesmos. “Eu não tinha nada nos exames”. Em uma consulta realizada em 2017 porém, tudo mudou. “A médica viu a ferida e me encaminhou para o Dr. Afrânio no Centro de Especialidades, eu estava com câncer, mas meus exames vinham sempre normal”. A dona de casa passou por tratamento para combater o câncer no colo do útero. “Agora sofro dores do tratamento, a radioterapia me deixou sequelas”, relata. Ela concluiu dizendo que – desde o seu diagnóstico – “ninguém da prefeitura me procurou para acompanhar meu caso”.
Outra mulher que ocupou a tribuna para relatar seu drama foi Ana Maria Nobre, 31 anos. Ela realizava seus exames pré-câncer no Centro de Especialidades. “A médica detectou uma ferida, mas os resultados dos exames vinham normal. Fiz duas cauterizações e não resolveu e então fui encaminhada para cirurgia na FAU”. Ela se refere ao Hospital Escola da UFPel. Porém o caso de Ana Maria já não permitia o tratamento cirúrgico. “Quando cheguei na FAU o médico olhou e identificou o câncer em estágio avançado”. A paciente realizou uma biópsia que confirmou que ela estava com câncer. “Fiz uma tomografia que constatou que o câncer havia se alastrado e a cirurgia já não seria possível”. Ana Maria se submeteu ao tratamento oncológico de radioterapia e braquiterapia. “Já tenho autorização desde abril da secretaria de saúde para realizar uma ressonância e saber se estou curada, mas não me chamam, ainda estou em dúvida”, protesta Ana Maria.
A diretora do Simers Gisele Lobato também se manifestou. Ela lamentou que o trabalho dos médicos não foi valorizado. “Os médicos realizaram estudos e avisaram a administração que havia problemas, mas não foram ouvidos”. Ela segue: “estatística e amostragem não serve para o exame Papanicolau por isso não concordamos com a repetição dos exames por amostragem, como quer a prefeitura. Se precisar coletar 17 mil exames novamente, podem contar com os médicos, estaremos juntos”, diz a diretora. Ela salienta que a investigação médica, o diagnóstico dos pacientes, depende dos exames complementares. “Os profissionais não podiam confiar nos exames”, conclui.
Após a reunião, as mulheres e os participantes realizaram uma caminhada até o Largo do Mercado, onde protestaram contra a decisão da prefeita Paula Mascarenhas de realizar novos exames por amostragem. Elas exigem que sejam refeitos todos os exames sob suspeita.
(Por HÉLIO FREITAG JR.)