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segunda, 23 de dezembro de 2024

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Preparação de Goleiros : O voo de pioneirismo de Passarinho

25 dezembro
15:38 2013

Ele foi o primeiro treinador de goleiros do interior gaúcho e, aos 60 anos, mantém a excelência na atividade

Carlos Garcia executa até 800 chutes na bola num dia de treino Foto: Carlos Insaurriaga/Assessoria GEB

Carlos Garcia executa até 800 chutes na bola num dia de treino
Foto: Carlos Insaurriaga/Assessoria GEB

A três dias de completar 60 anos (faz aniversário no dia 28 de dezembro), Carlos Garcia, o Passarinho, mantém a potência na perna direita, a qual é capaz de marcar gols em goleiros na plenitude da forma física. O preparador de goleiros do Brasil é o pioneiro dessa atividade – hoje, essencial na composição de uma comissão técnica – no futebol do interior gaúcho. Uma profissão que é desenvolvida com paixão, mas que tem tempo previsto para parar: daqui a um ou dois anos, Passarinho pretende migrar para outra função, que não exija tanto da condição física.

“A cada sessão de treino são 500 toques na bola. Se houver treinos em dois turnos, são pelo menos 800 chutes por dia. Todos potentes, porque tem ter a mesma força, a mesma colocação, apresentando o mesmo grau de dificuldade para todos os goleiros. Não posso exigir mais de um e não apresentar a mesma exigência para o outro”, diz Passarinho, que geralmente tem três ou quatro goleiros para treinar diariamente. È claro que a repetição de exercício traz lesões e suas consequências são inevitáveis para as articulações e musculatura.

“O treinador manda, o preparador físico manda. O treinador de goleiros manda, mas também executa. Mas minha condição física é muita boa e tenho que agradecer a dois profissionais em especial: o doutor José Raymundo (traumatologista e ortopedista), que cuidou do meu joelho; e o doutor Michel Hallal (cardiologista), que trata de meu coração. Dois amigos. E também o doutor André Guerreiro (médico do Brasil), que está sempre ali para atender as necessidades do dia a dia, com muita competência”, ressalta Carlos Garcia.

Em abril, Passarinho completa 31 anos de atividade em comissão técnica. Mas são 40 anos de futebol (nos nove primeiros como goleiro). A função específica de treinar goleiro começou no futebol riograndino. Primeiro no Rio Grande, atendendo convite de Amilcar Fernandes, massagista do clube. Depois, no Riograndense e, mais tarde, no São Paulo. Em 1991, a primeira oportunidade de trabalhar no Brasil, com Paulo de Souza Lobo, o Galego. “Fui homem de confiança do seu Paulo”, afirma, sem esconder a emoção. “Foi um pai para mim. Mas tive outros dois pais no futebol: José Rodolfo Azocar (ex-dirigente do Brasil) e Bento Castelã (este último fez história no futsal e no Riograndense)”, cita.

Carlos Garcia foi pioneiro na atividade específica de preparar goleiros no interior do Rio Grande do Sul. “Sou de um tempo em que falar de treinador de goleiros era um palavrão”, constata. Ele lembra que o precursor da atividade no país foi Raul Alberto Carlesso – gaúcho, que integrou a comissão técnica da Seleção Brasileiras nas Copas do Mundo de 1970, 1974 e 1978. “Foi ele que desenvolveu os caracteres da atividade”, conta. O Carlesso foi o pioneiro na seleção, mas em clube foi Valdir de Moraes – outro gaúcho, que começou na comissão técnica do Palmeiras. No Rio Grande do Sul, o pioneirismo é de Luis Carlos Schneider, no Internacional. Passarinho acredita que rivaliza em tempo de profissão com Cantarelli, que parou de jogar e imediatamente se tornou treinador de goleiros no Flamengo.

Passarinho é um apaixonado pela profissão, mas constata que é chegada a hora de “pendurar as chuteiras”. “Quero parar em alto nível”, ressalta, prevendo essa decisão para daqui um ou dois anos. Mas o futebol faz parte de sua vida. “Devo migrar para a atividade de coordenador técnico, pois tenho o perfil de controlar a conduta e a disciplina, ajudando o treinador, como fiz no Farroupilha (acesso do clube em 2004), com o Bebeto Rosa”, projeta. Antes disso, Carlos Garcia apela para a valorização da atividade de treinador de goleiro. “É preciso o reconhecimento desse profissional, que pode ser fundamental numa campanha. A conquista de vitórias e títulos passa pela preparação do goleiro. O time pode estar muito bem no padrão tático; no padrão físico, mas se o goleiro não estiver bem preparado, todas as outras virtudes podem ir água abaixo”, completa.

Jogo duro: “É difícil me suportar no treinamento”

“Todos os goleiros em que trabalhei são vitoriosos. Se uns não seguiram em frente foi por decisão pessoal ou porque não tiveram as devidas oportunidades”, diz Passarinho, que molda sua atividade em dois modelos: o de Oscar Modesto Urruty, ex-goleiro do próprio Brasil e ex-treinador; e do lendário Bruce Lee. Do artista marcial, ele segue conceitos como o da capacidade de improvisar, o desenvolvimento de treinos e também algumas teorias filosóficas, que conduz à superação diária.

“O Homem não é o diz, mas o que faz”, costuma repetir. Ou então: “Não existe verdade suprema, o conceito de treinamento muda com a vida”. Passarinho se considera “Jogo Duro”. “Uma coisa é treinar comigo; outra é suportar o meu treinamento. Trabalho a parte física, a técnica, a psicológica e a emocional do goleiro. Isso tem que ser conhecido e testado no dia a dia de treino, colocando o goleiro no seu limite. Assim, quando chega o jogo, o meu goleiro encara a partida como uma água com açúcar”, aponta.

Luiz Müller e Passarinho: o troféu simboliza a recompensa Foto: Carlos Insaurriaga/Assessoria GEB

Luiz Müller e Passarinho: o troféu simboliza a recompensa
Foto: Carlos Insaurriaga/Assessoria GEB

LUIZ MÜLLER – Passarinho e Luiz Müller distribuem elogios de maneira recíproca. Para o treinador de goleiro, o jogador foi simplesmente decisivo no acesso do clube à primeira divisão. Ele cita, como exemplo, os pênaltis defendidos diante do Riograndense (semifinais do primeiro turno); Santo Ângelo (semifinais do segundo turno) e Aimoré (segundo jogo da final do segundo turno).

“O Luiz Müller tem uma média muito baixa de erros. Em termos percentuais deve ser de apenas 1% na relação com os jogos em que disputou desde sua primeira passagem pelo clube em 2010”, afirma Passarinho. Apesar de estar com mais de 30 anos (hoje, o goleiro tem 32), o camisa 1 teve que corrigir algumas deficiências no encontro com Carlos Garcia. A principal delas, o uso do pé no domínio da bola e na reposição. “Já marcamos seis gols em lance com a reposição do Luiz Müller”, aponta.

Passarinho elogia também Anderson, “que se prepara para jogar e não para ser reserva”, e aponta como goleiros promissores os jovens Guilherme e Jonathan.

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