Diário da Manhã

segunda, 21 de outubro de 2024

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PRESÍDIO : Mulheres atrás das grades, mas preocupadas com os filhos soltos

28 abril
09:54 2015

Elas são poucas diante da superlotação do Presídio Regional de Pelotas (PRP). Dos cerca de mil detentos, apenas 50 são mulheres. E entre quase todas elas, mais do que a preocupação com o dia em que terão de volta a liberdade, o pensamento é ocupado diariamente com o que acontece do lado de fora dos muros, com seus filhos.

A incerteza sobre como andam os estudos de Rodrigo, 15 anos, tira o sono de Marisa (nome fictício para preservar a identidade). Restando ainda dois anos para concluir sua pena, ela afirma que o adolescente tem dificuldades na escola devido ao preconceito que sofre por ter uma mãe presidiária. “Os colegas comentam, as pessoas olham diferente. Isso atrapalha a vida dele, que não merece pagar pelos erros que eu cometi”, lamenta.

Sem ter como acompanhar o dia a dia do adolescente e de outro filho bem mais jovem, de apenas três anos, Marisa recorre ao apoio da filha mais velha, de 21 anos. Porém, sabe que a solução não é a ideal. “Ela tem outras três crianças e fica sobrecarregada. O ideal é que houvesse pelo menos uma escola onde todos pudessem estudar e passar o dia inteiro.”

DEPUTADA Miriam Marroni explicou detalhes do seu projeto

DEPUTADA Miriam Marroni explicou detalhes do seu projeto

A preocupação se repete com quase todas as apenadas do PRP e em todo o Rio Grande do Sul, onde 1,7 mil mulheres cumprem pena (5,7% do total). Mudam as histórias, porém a falta de uma assistência do Estado que garanta a inclusão dos filhos em programas sociais é a principal demanda.

“São crianças e jovens em uma situação especial, pois são afastadas das mães bruscamente e acabam na maioria das vezes ficando ‘soltas’, sem a presença de alguém que oriente e evite a entrada no mundo do crime”, afirma a deputada estadual Miriam Marroni (PT). Autora de um projeto de lei que estabelece uma política pública de assistência aos filhos das mulheres presas, a parlamentar esteve no PRP na manhã de ontem para levar às mulheres detalhes da proposta. Os dados e os depoimentos serão levados à frente parlamentar que trata do tema na Assembleia Legislativa.

ACOMPANHAMENTO E REFORÇO ESCOLAR SÃO PRIORIDADES

Distantes do principal laço familiar e na maioria das vezes de famílias pobres, os jovens filhos das detentas estão muito mais vulneráveis a seguir o caminho da criminalidade. De acordo com dados do Ministério da Justiça, cerca de 68% das crianças e jovens nessa situação acabam cometendo infrações.

Para a assistente social do PRP Cláudia Adamoli, a falta de uma ação efetiva do Estado agrava a situação. “Quando elas nos trazem o problema nós buscamos fazer o encaminhamento através da pastoral carcerária”, explica. “No entanto, isso não é o suficiente para dar conta de todos os riscos e preconceitos a que esta criança está sujeita”, completa.

Para Miriam, o projeto criará formas de assegurar acompanhamento aos filhos das presas desde o momento da entrada das mães no sistema carcerário. “O tripé da proposta é a escola de turno integral, atendimento de saúde e assistência social. Só assim poderemos criar um cenário positivo e evitar o caminho ruim traçado na maioria dos casos”, destaca a deputada.

O projeto de lei 400/2011 está em análise na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa.

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