PRESÍDIO : Mulheres atrás das grades, mas preocupadas com os filhos soltos
Elas são poucas diante da superlotação do Presídio Regional de Pelotas (PRP). Dos cerca de mil detentos, apenas 50 são mulheres. E entre quase todas elas, mais do que a preocupação com o dia em que terão de volta a liberdade, o pensamento é ocupado diariamente com o que acontece do lado de fora dos muros, com seus filhos.
A incerteza sobre como andam os estudos de Rodrigo, 15 anos, tira o sono de Marisa (nome fictício para preservar a identidade). Restando ainda dois anos para concluir sua pena, ela afirma que o adolescente tem dificuldades na escola devido ao preconceito que sofre por ter uma mãe presidiária. “Os colegas comentam, as pessoas olham diferente. Isso atrapalha a vida dele, que não merece pagar pelos erros que eu cometi”, lamenta.
Sem ter como acompanhar o dia a dia do adolescente e de outro filho bem mais jovem, de apenas três anos, Marisa recorre ao apoio da filha mais velha, de 21 anos. Porém, sabe que a solução não é a ideal. “Ela tem outras três crianças e fica sobrecarregada. O ideal é que houvesse pelo menos uma escola onde todos pudessem estudar e passar o dia inteiro.”
A preocupação se repete com quase todas as apenadas do PRP e em todo o Rio Grande do Sul, onde 1,7 mil mulheres cumprem pena (5,7% do total). Mudam as histórias, porém a falta de uma assistência do Estado que garanta a inclusão dos filhos em programas sociais é a principal demanda.
“São crianças e jovens em uma situação especial, pois são afastadas das mães bruscamente e acabam na maioria das vezes ficando ‘soltas’, sem a presença de alguém que oriente e evite a entrada no mundo do crime”, afirma a deputada estadual Miriam Marroni (PT). Autora de um projeto de lei que estabelece uma política pública de assistência aos filhos das mulheres presas, a parlamentar esteve no PRP na manhã de ontem para levar às mulheres detalhes da proposta. Os dados e os depoimentos serão levados à frente parlamentar que trata do tema na Assembleia Legislativa.
ACOMPANHAMENTO E REFORÇO ESCOLAR SÃO PRIORIDADES
Distantes do principal laço familiar e na maioria das vezes de famílias pobres, os jovens filhos das detentas estão muito mais vulneráveis a seguir o caminho da criminalidade. De acordo com dados do Ministério da Justiça, cerca de 68% das crianças e jovens nessa situação acabam cometendo infrações.
Para a assistente social do PRP Cláudia Adamoli, a falta de uma ação efetiva do Estado agrava a situação. “Quando elas nos trazem o problema nós buscamos fazer o encaminhamento através da pastoral carcerária”, explica. “No entanto, isso não é o suficiente para dar conta de todos os riscos e preconceitos a que esta criança está sujeita”, completa.
Para Miriam, o projeto criará formas de assegurar acompanhamento aos filhos das presas desde o momento da entrada das mães no sistema carcerário. “O tripé da proposta é a escola de turno integral, atendimento de saúde e assistência social. Só assim poderemos criar um cenário positivo e evitar o caminho ruim traçado na maioria dos casos”, destaca a deputada.
O projeto de lei 400/2011 está em análise na Comissão de Constituição e Justiça da Assembleia Legislativa.