PRONTO SOCORRO : Idosos demoram conseguir vagas na rede hospitalar
Aldiva Gonçalves, 78 anos, tem câncer e infecção pulmonar. Há sete dias está internada no Pronto Socorro Municipal, à espera de um leito hospitalar. Ontem, finalmente, saiu a ordem para que seja transferida.
Mas só porque o genro, que é advogado, ameaçou denunciar o caso ao Ministério Público, que, desde 2015, cobra multa diária do PS por paciente que fique mais de 48 horas à espera de leito em UTI, e mais de 72 horas à espera de leito clínico.
A iniciativa da promotora Rosely Lopes baseou-se em denúncia do vereador Marcus Cunha (PDT), apresentada em 2015, quando o PS apresentava superlotação, com pacientes idosos em macas ou cadeiras nos corredores, porque não conseguiam leitos. “Há dois anos já denunciávamos que pessoas com mais de 60 anos são as que têm menos chance de conseguir um leito porque são pacientes mais caros, que demandam mais tempo de leito hospitalar”, disse o vereador, da tribuna.
Na visita realizada na manhã de ontem, que contou com a presença da secretária de Saúde Ana Costa e de vereadores, a secretária disse que mais de 50% das pessoas internadas no PS são idosos com mais de 70 anos e que são pacientes oncológicos, e que mais de 80% são pacientes com mais de 60 anos.
Para esses pacientes, a internação é fundamental. Breno de Souza Brunes, de 68 anos, tem um tumor maligno no pescoço. Não consegue engolir alimentos. Foi encaminhado para uma consulta no Ceron, Centro de Radioterapia e Oncologia da Santa Casa, mas somente para daqui a 30 dias. “Não dá para esperar”, disse sua esposa. “Trouxe ele pra cá, mas ele tem que ser hospitalizado”, pedia.
Aos 75 anos, Julieta Vaz, cardíaca e com infecção renal, estava há dois dias em uma maca à espera de um leito. Asdrubal Borges, acompanhado da esposa Eva, com 75 anos, está desde segunda-feira em uma maca, só recebendo soro. “Ele teve um AVC (acidente vascular cerebral)”, explica Eva.
Ilda Oliveira nasceu em 1931, está com 86 anos. Sofre de anemia crônica. A cada duas semanas precisa receber sangue. Nesta quarta-feira, a sobrinha foi informada que, apesar de ela precisar ser hospitalizada para receber três bolsas de sangue, receberia duas e seria mandada para casa pela falta de leitos.
“Este é o mesmo quadro de dor que narrei há quatro anos quando me elegi vereador”, disse Marcus Cunha. “Crianças dividindo a mesma maca. Idosos sentados em cadeiras de praia porque não têm mais onde sentar. Macas até na recepção”.
“Se sabemos que Pelotas tem esses problemas todos os anos quando chega o inverno, porque a Saúde (Prefeitura) não se prepara para atender esses pacientes?”, indagou o vereador em seu discurso.
“Dizer que esta situação é igual em todo o país não convence. Podemos resolver colocando mais dinheiro na saúde, mas isto é uma decisão política. Outras cidades podem não querer fazer, mas o meu município pode fazer”, alertou o parlamentar. (Assessoria)