Diário da Manhã

domingo, 17 de novembro de 2024

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QUADRINHOS : Autor pelotense publica HQ no exterior

29 junho
09:33 2016

Estudante da licenciatura em artes visuais na UFPel, pelotense Rafael Santos desenha HQs desde a infância

Por Carlos Cogoy

Aos treze anos ele trabalhou como jornaleiro. Morador na periferia, Rafael Santos com o dinheiro que recebia, comprava lanches e Histórias em Quadrinhos (HQs). Desenhando desde a infância, conta que ganhou a primeira HQ em 1993. Ele destaca o incentivo da mãe e da avó. Na Escola São Vicente de Paula, era assíduo frequentador da biblioteca. Motivado por heróis como “He-Man” e “Conan”, criou sua primeira história. Era a época na qual colecionava HQs da Marvel e DC Comics. Também assistia filmes de ficção científica, terror, aventura, desenhos animados e seriados japoneses. Autodidata no desenho, criava com lápis de cor, giz de cera, esferográfica e régua. “Lendo inúmeras vezes as HQs, fui entendendo sobre as culturas de outros povos, história, geografia, língua estrangeira e política”, diz o autor que neste ano está com ilustração publicada no exterior.

Rafael Santos durante visita à 31ª Bienal de Arte em São Paulo

Rafael Santos durante visita à 31ª Bienal de Arte em São Paulo

Rafael Santos HQSUÉCIA – Entre as referências artísticas de Rafael, desde Da Vinci, passando por Rembrandt, até o roteirista Alan Moore, Hitchcock, desenhista John Romita Jr, Jim Lee, Frank Miller, Will Eisner e o sueco Henry Lange. E foi na Suécia que já chegou a arte de Rafael Santos. HQ criada pelo autor pelotense, integra tese de doutoramento de arquiteta, e o trabalho está sendo publicado na Suécia. Ele acrescenta: “Cada estilo de desenho ou pintura, independente da técnica, é a característica, a marca pessoal de um ser humano. Pode ser numa folha, parede ou na câmera, isto sem dúvida já é uma mensagem. Sobre a questão social, penso que é preciso sim desabafar minhas críticas através da arte, coisa comum nos quadrinhos. Mas é lógico que o espectador precisa ter conhecimento sobre o assunto, para entender a arte representada e o contexto da obra. Porém, acredito que arte é para ser admirada e criticada, para fazer o homem pensar mais, refletir, imaginar, e até mesmo criar através da visualização da imagem, da escrita, da música ou de um objeto artístico”.

TRAJETÓRIA – Durante período, Rafael desenhou “mangás”. Porém, conta que foi definindo estilo próprio. Em 2004, o desenhista André Macedo esteve na escola que Rafael cursava o ensino médio. Empolgado, após o contato, Rafael foi procurá-lo no estúdio. Ele foi acolhido mas ouviu que “a alma do artista é a persistência”, dica que não esqueceu. E, ano seguinte, cursou desenho animado com Macedo, que o isentou do custo. “Minha vida artística estava em conflito com minha situação financeira e também com a ‘cor de pele’. Sabendo que minha cor e renda definiriam o andamento dos meus projetos, tomei uma decisão. Defini que, após a conclusão do ensino médio em 2006, iria trabalhar e somente voltaria a pensar em ser um desenhista, quando tivesse um diploma universitário ou técnico”, recorda.

UFPEL – Em 2007, menciona Rafael, foi incentivado por Vitor Abreu da editora Signus, para a sequência às HQs. À época, também no DIÁRIO DA MANHÃ, contou sua história e foi motivado para chegar à universidade. Em 2012, Rafael investiu ainda na formação em web design. No entanto, o segmento não se mostrou atrativo, e o desenhista rumou para a licenciatura em artes visuais da UFPel, onde é bolsista e tem descoberto a arte digital.

Oficina de quadrinhos na Escola Estadual Francisco Simões

Oficina de quadrinhos na Escola Estadual Francisco Simões

Publicações, projetos e oficinas em escolas

Como bolsista do projeto Arte na Escola do CEARTES da UFPel, Rafael Santos ministrou oficinas na Escola Alfredo Dub e Escola Francisco Simões. Ele planeja prosseguir com as oficinas em escolas. Além disso, dedica-se aos projetos de HQs, com novas técnicas e também o uso de softwares. “Por tudo que passei, por todos os empecilhos que tive como cidadão pelotense para ingressar na universidade pública, já me considero um vencedor por estar na licenciatura em artes visuais. Então sinto uma revolta muita grande com o preconceito que os gaúchos sofrem por parte dos alunos de outros Estados. Não é algo claro, mas a dificuldade que a classe mais vulnerável aqui da cidade tem em cursar o ensino superior, se faz presente dentro do curso, pois o ar de superioridade, falta de educação, respeito, ética, entre outros detalhes, me faz pensar que poderia estar no curso errado. Porém é preciso lutar, pois quero ser um bom profissional, preciso suportar isso para ser melhor do que sou hoje”, desabafa.

Rafael Santos HQ SuéciaEm 2014 no Jornal “Digraça” – núcleo de HQs da UFPel -, Rafael teve história publicada. Ano passado no Facebook, criou o espaço “Caderno de Quadrinhos”, onde publica desenhos de diferentes fases. Em 2016, integrou a coletiva “Passeios Artísticos”, monitorada pelo quadrinista e autor Jonas Fernando. Também esteve na competição de desenhos digitais Novos Talentos FNAC 2016. Em andamento, HQ “Caso 97 – Duas Luas’, baseada em fato real, “Ovni” avistado em Pelotas nos anos noventa. E Rafael também finaliza HQ de terror, bem como aguarda o livro “De Quadrinhos”, sob a coordenação de André Macedo. 

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