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terça, 07 de maio de 2024

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RETA FINAL : Eduardo faz balanço do seu governo – Prefeito concedeu entrevista ao Diário da Manhã

24 junho
13:16 2016

O prefeito Eduardo Leite (PSDB) recebeu a reportagem do Diário da Manhã em seu gabinete na tarde da última quarta-feira (22) para uma entrevista. A ideia era ouvir do prefeito um balanço sobre seu governo.

O clima amistoso foi quebrado logo na primeira pergunta, mas retomado em seguida. Tudo por uma questão de semântica e interpretação. Para ele, as dezenas de obras inacabadas que deixará após concluir seu mantado, são obras em andamento. O prefeito não gostou da comparação dessa prática da “velha política”, com o que deixará. “Concluiremos o governo com muitas obras prontas, que beneficiaram os pelotenses, isso é fazer o que não era feito antes”.

Deixar obras inconclusas, para serem finalizadas (ou, fato comum: abandonadas) pelos próximos governantes não é novo na Política, pelo contrário. É sim uma prática velha, conhecida e abominável. Teremos vários exemplos em Pelotas para apontar em 2017.

Eduardo, mesmo jovem, é hábil político e terminará seu governo com índices de aprovação bastante expressivos. O prefeito, cujo mandato encerra no dia 31 de dezembro, contou o que fará após deixar o poder. Também analisou a experiência de governar Pelotas, uma das cidades mais importantes do Estado. Confira os principais momentos da entrevista concedida ao jornalista Hélio Freitag Júnior:

DIÁRIO DA MANHÃ – O senhor terminará seu mandato e deixará diversas obras inacabadas (cito ETA São Gonçalo, creches, Praça Cel. Pedro Osório, Teatro Sete de Abril, Castelo Simões Lopes, ETE Novo Mundo), e algumas outras apenas projetadas (Parque Linear, Centro Administrativo). Essa prática da velha política não lhe incomoda?

EDUARDO LEITE – “Essa interpretação é absolutamente distorcida. Nós vamos encerrar o mandato com várias obras em andamento, nada inacabado. Obra inacabada é a BR-116, o Contorno de Pelotas, obras sem andamento. Num contexto de crise econômica nacional, um Estado quebrado, temos um governo municipal garantindo a continuidade de obras, com sustentação financeira. Estão em andamento no tempo em que foram possíveis. Você está olhando para um jogo onde o time está ganhando de 5×0 e toma um gol. Não há prática de velha política. Os atrasos tem a ver com a dificuldade imensa da burocracia. O governo fez a sua parte. Estamos na contramão do que está acontecendo no País, que anda para trás. Estamos andando para frente”.

Eduardo Leite recebeu o jornalista Hélio Freitag Jr.

Eduardo Leite recebeu o jornalista Hélio Freitag Jr.

DM – Existe alguma ação do seu governo que o senhor considera equivocada, que se arrepende de ter feito? O contrato com a Falconi, por exemplo?

EL – Não me arrependo de nada do que fiz. No caso da Falconi talvez a forma como foi feito o contrato, não ter trabalhado no convencimento da população. A preocupação sempre foi melhorar a qualidade da educação. Quanto à forma da contratação, estou bastante seguro. Inclusive que nas instâncias judicias superiores isso será resolvido. Teremos perdido tempo na melhoria da educação em Pelotas.

DM – Porque não se avançou no plano de carreira dos servidores municipais?

EL – Nós começamos a trabalhar no plano de carreira dos professores. Há uma enorme complexidade na legislação municipal em relação aos servidores públicos. Uma dezena de leis, com regras diversas. Nós nos comprometemos a iniciar a discussão com o plano do magistério, constituímos um grupo, chegou-se a uma proposta, que tivemos dificuldades de executar na questão financeira. Na questão dos médicos municipários, os estatutários estão demandando melhorias salariais. Nosso governo não deixou a categoria ter perdas. Garantimos todos os anos a reposição salarial da inflação. As outras formas de contratação de médicos têm subsídios federais, que é impossível para o município pagar. Mesmo assim, para garantir um avanço e reconhecendo que pagamos pouco, oferecemos um completivo que foi rejeitado pela categoria.

DM – O modelo de Carnaval financiado pelos cofres públicos, em Pelotas, está acabado?

EL – A questão do Carnaval precisa de uma revisão ampla, porque precisa ser sustentável. Neste ano, excepcionalmente, com grande crise, tivemos que fazer escolhas e a verba do Carnaval foi direcionada para a UPA (Unidade de Pronto Atendimento). O Carnaval é uma manifestação cultural popular importante, deve se reconhecer. Mas deve ser repensado, o modelo de extrema dependência da Prefeitura, se esgotou. Ainda assim, nos dispomos a aportar recursos para as entidades. O Carnaval deve se sustentar independente do poder público.

DM – Como o senhor avalia a equipe que lhe acompanhou durante o governo? O secretariado foi competente? Qual área o senhor destaca e qual acha que foi a que mais lhe decepcionou?

EL – Creio que a equipe não decepcionou. Buscamos constituir uma equipe que nos desse condições de ter politicamente o espaço para agir e tecnicamente as condições para trabalhar. Essa é a conciliação que o político busca. Acho que formamos isso. Conseguimos avançar na cidade em diversos temas. Mais de R$ 110 milhões em obras de infraestrutura. Uma carteira de projetos muito substancial. Conseguimos apoio político sem subjugar nenhum outro agente. Mesmo os vereadores da base, que fazem suas demandas e críticas. Com isso conseguimos constituir um grupo heterogêneo. Eu seria injusto se apontasse uma área de destaque. A cidade tem hoje obras de pavimentação, a licitação do transporte coletivo com 110 novos ônibus, obras na educação, garantido 2.500 novas vagas. Na saúde, reforma de unidades básicas, a primeira UPA entrando em funcionamento, redução da mortalidade infantil. Pegando esses três pontos, que são demandados pela população, que são saúde, educação e infraestrutura, nosso governo garantiu grandes avanços.

Eduardo : "Pelotas é uma cidade cheia de contrastes"

Eduardo : “Pelotas é uma cidade cheia de contrastes”

DM – O senhor afirma que a cidade de Pelotas foi bem governada no seu mandato?

EL – Essa afirmação eu deixo para a população. As pesquisas indicam que a população tem essa consideração. Isso eu aprecio. Significa mais responsabilidade para nós até a conclusão do mandato em 31 de dezembro.

DM – Seu partido, o PSDB, criou a figura da reeleição para o Executivo. Contrariando essa diretriz partidária, o senhor anunciou há pouco tempo que não será candidato. Sua decisão não foi muito próxima do momento eleitoral? Vai participar ativamente da campanha eleitoral deste ano, mesmo não sendo candidato?

EL – Em primeiro lugar meu partido não criou a reeleição, foi decisão do Congresso Nacional. Não temos como diretriz partidária. A reeleição surgiu num contexto histórico e no nosso sistema político foi mal assimilada. Mesmo que o PSDB tenha apoiado e de fato apoiou, mesmo aqueles que criticaram a medida e se valeram dela como o próprio Partido dos Trabalhadores, a questão objetiva é ter a capacidade de entender que uma decisão num momento histórico não é absoluta. No nosso sistema político não foi bem assimilada e deve ser revista.

Minha decisão (de não concorrer) não foi próxima do período eleitoral. Já acalento comigo e reservei para não contaminar nenhum processo de discussão de candidaturas. Entendi que o momento era esse, ainda assim, anterior ao processo eleitoral já que os partidos nem começaram o período das convenções. Poderia ter declarado em julho, durante o período das convenções. A minha decisão causou surpresa justamente por ser algo novo na política. Entendo que posso continuar colaborando com a cidade, independente de ser prefeito. A cidade e a região sofrem hoje com a falta de representatividade. Essa fragilidade tem muito a ver com o sufocamento do surgimento de novas lideranças, o que eu não vou patrocinar, pelo contrário, estou procurando patrocinar a renovação.

Vou me engajar como cidadão no processo eleitoral, para que todas as conquistas obtidas neste período de governo sejam mantidas. As conquistas precisam se manter.

DM – Quais são os planos imediatos do futuro ex-prefeito de Pelotas? O que fará a partir do próximo ano?

EL – Meu foco – no momento – está em governar. Há um processo eleitoral, há uma crise econômica forte, há tudo o que um governo precisa fazer para um encerramento de mandato. Não concorrer não significa menos trabalho. A partir do ano que vem, se antevê para mim uma oportunidade de estudos, de qualificação, posso e devo me qualificar na área de gestão pública, para colaborar no que vier pela frente. Não tem nenhuma decisão, nada fechado com relação ao futuro.

DM – É difícil governar uma cidade como Pelotas? Qual sua impressão dessa experiência? Voltaria a repeti-la?

EL – Pelotas é uma cidade cheia de contrastes, fruto dos seus 200 anos de história e de um período de riquezas que a fez referência na cultura, na educação. Ela tem vestígios desse período de riqueza mas também tem um passivo de décadas de problemas econômicos, que um governo sozinho não resolve. Nem um, nem dois, nem três. Temos que ter uma geração de bons governos na cidade, independente de linha política, uma geração de governos responsáveis, que não deixem novos problemas surgirem e que busquem resolver os problemas mais urgentes. Quem sabe assim, em uma geração, conseguimos nos tornar a cidade que desejamos de ser. Sempre haverá demandas por infraestrutura, pressionando o governo. Não é possível resolver todos os problemas. Definir prioridades gera questionamentos. É desafiador.

Não está imediatamente nos meus planos repetir a experiência de voltar a ser prefeito. Mas não teria nenhum problema com isso. O desafio de governar Pelotas eu sabia muito bem qual era. As dificuldades e o momento adverso que viria, eu sabia que aconteceriam pois tinha sido vereador, secretário municipal. Esse modelo econômico que se apresentava no País poderia vir a estourar no meio do nosso governo, como de fato aconteceu. Isso não me abala.

DM – A grande mídia e a imprensa de um modo geral tem contribuído para denunciar maus feitos em todas as esferas dos poderes constituídos. Também é aliada para mostrar as ações positivas dos governos. Como o senhor vê o papel da imprensa na organização social? E em Pelotas, como o senhor avalia sua relação com a imprensa?

EL – A imprensa tem um papel fundamental e deve ser livre para exercer toda a crítica que mereça ser feita. Acho que a imprensa, muitas vezes, tem dificuldades em lidar com as críticas que são feitas a ela, imprensa. Cada crítica que se faz a imprensa, ela interpreta como uma tentativa se censura. Não é verdade. Eu tenho várias críticas quanto a forma como a imprensa se comporta em Pelotas, porque acho que é muito difícil garantir que haja isenção. Todos tem suas histórias de vida, suas circunstâncias que vão lhes colocar numa inevitável posição.

Se você pegar qualquer fato isolado deste governo, poderá tecer toda a crítica sobre ele, se não considerar que este governo lida com tantos outros fatos também. De certa forma é olhar para a árvore e desprezar a floresta toda.

Sempre haverá oportunidade de atacar um governo. O fato para mim é que, se você quiser falar sobre os problemas de Pelotas terá, seguramente, muitas edições do Diário da Manhã ou qualquer outro jornal. Pelotas tem imensos desafios, muitos problemas a serem superados. O que eu fico satisfeito, neste período final do governo é que, se você quiser falar das coisas boas que aconteceram, também muitas edições do jornal terão que ser utilizadas. Houve muita coisa boa. Tive uma boa relação com a imprensa, republicana e aberta.

Caberá ao leitor ou ao expectador e ouvinte formar seu juízo, porque mais do que nunca, hoje temos diversas formas de comunicação para que as pessoas se informem. A imprensa, especialmente veículos como o Diário da Manhã, que tem uma tradição na cidade, precisam ter – e acredito que tenham – ciência da responsabilidade, em função da sua tradição e sua história.

Muitas informações chegam através das redes sociais, de blogs, sites criados para gerar notícias, como se tivessem uma credibilidade aquilo. Eu sempre recomendo para as pessoas, procure nos veículos mais tradicionais, se estão repercutindo as notícias mais espetaculares. De certa forma, para aferir se uma notícia é verdadeira ou não, busque a credibilidade dos veículos mais tradicionais, como o próprio jornal Diário da Manhã, que deve cumprir essa missão de registrar a história. Essa é a grande responsabilidade que a imprensa deve ter.

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