Retomada completa dos serviços eletivos do SUS ainda vai demorar
Falta de pessoal e dificuldades estruturais dificultam retomada total de procedimentos eletivos do SUS em Pelotas
Secretária de Saúde admite ser impossível definir um prazo para serviço ser normalizado
A normalização dos atendimentos ambulatoriais, exames e cirurgias eletivas pelo SUS em Pelotas depende de tantas variáveis que é impossível fixar um prazo para que isso aconteça. A constatação foi feita pela própria secretária municipal de Saúde, Roberta Paganini Ribeiro durante reunião pública online promovida nesta terça-feira pelas comissões de Saúde e Direitos Humanos da Câmara de Vereadores.
A falta de médicos especialistas, espaços físicos adequados e a indisponibilidade de contar com equipamentos usados em exames de imagens que atualmente estão dentro de áreas destinadas à pacientes contaminados por Covid-19, são alguns dos fatores apontados pela secretária para justificar a dificuldade dos hospitais em atender a totalidade dos procedimentos contratados pela Prefeitura. “Não vou dizer para a população que é certo que tudo será retomado, porque não é. O certo é que estamos tentando. Olhamos o coletivo e nos preocupamos, também nos preocupamos com os casos individuais, mas há muitas incertezas, ainda estamos em um quadro de pandemia”, comentou.
Aproveitando a participação dos diretores dos hospitais os presidentes das comissões de Saúde, vereador Marcos Ferreira, o Marcola (PTB) e de Direitos Humanos (CDH), Daiane Dias (PL) questionaram a origem dos problemas e as soluções estudadas por cada instituição. “Precisamos dimensionar o que já foi feito e saber quais alternativas estão sendo buscadas, pois a população está aflita com a espera, pois tudo pode esperar menos um tratamento de saúde”, ponderou Marcola.
A presidente da CDH fez um apanhado das reclamações e pedidos de ajuda que a Câmara recebe semanalmente e cobrou um posicionamento mais direto da Prefeitura sobre o tema. “A gente que vive dentro da vila não pode querer que as pessoas achem que tudo está bem e vai se resolver, a população bate na Câmara querendo solução porque não está encontrando os atendimentos na Saúde”, disse.
DIFICULDADES – O afastamento de médicos por integrarem grupos de risco para Covid-19 e o uso de áreas físicas dos hospitais para instalação de UTI’s e enfermarias para os pacientes da pandemia foram os dois principais problemas apresentados pelos diretores para justificar a demora em retomar a totalidade dos serviços eletivos. “O Hospital Escola foi a referência para Covid-19, então desde março estamos com todos os recursos humanos e estrutura voltado para este atendimento. Abrimos 20 de enfermaria e 20 de UTI e tivemos que mobilizar muitos profissionais que atuavam nos ambulatórios e que passaram a cumprir plantão nas áreas Covid, como equipes de pneumologia e cardiologia que não podem voltar ao atendimento ambulatorial porque são essenciais no atendimento da pandemia”, exemplificou Carolina Ziebell, gerente de atenção à saúde do Hospital Escola da Universidade Federal de Pelotas.
Na Beneficência Portuguesa a reabertura do ambulatório fechado desde abril surge como alento para minimizar parte dos problemas, porém a necessidade de contratar novos médicos especialistas devido o afastamento de profissionais que fazem parte do grupo de risco para contaminação pelo coronavirus impede de se estimar prazos para o hospital atingir o teto dos serviços contratados pelo município. Um dos grandes dramas são os atendimentos oftalmológicos, principalmente as cirurgias de catarata para as quais a Beneficência é referência. Com parte da área destinada para novos leitos Covid a direção da instituição encontra dificuldades para retomar os 800 procedimentos/mês registrados antes da pandemia. “Houve um aumento da fila e hoje temos uma demanda reprimida. Estamos tentando aumentar os atendimentos para novembro, mas ainda é impossível chegar a 100%”, revela.
Os diretores da Santa Casa e do Hospital São Francisco relataram problemas semelhantes e informararm trabalhar para ampliar os serviços eletivo a partir de novembro, mas também fizeram coro aos demais sobre a impossibilidade de prever um retorno completo. “Não temos uma real expectativa de quanto vamos conseguir nos reorganizar de novo”, declarou Fernando Siqueira, diretor de Operações da Santa Casa.
O presidente da Comissão de Saúde da Câmara, vereador Marcola (PTB) avaliou como positiva a reunião apesar das indefinições. “O ideal seria poder apresentar prazos e número concretos para a comunidade, mas é preciso entender que vivemos um momento sem igual na história do mundo e o sistema de saúde está extremamente pressionado, por isso vamos aguardar mais uns dias para então fazer uma nova avaliação da situação”, disse.