SÃO LOURENÇO DO SUL : Inscrições para o 30º Reponte nas linhas campeira e regional
Até sexta-feira poderão ser efetuadas inscrições ao 30º Reponte da Canção. Referência à arte nativista, a coordenação do festival está recebendo inscrições nas linhas campeira e de manifestação regional. O evento que destaca São Lourenço do Sul, neste ano será realizado entre os dias 4 e 6 de abril. Como local, o Galpão Crioulo do Camping Municipal. A Comissão Organizadora do festival sugere “especialmente àqueles que pretendem enviar seus trabalhos via Correio, que o façam em tempo hábil, devido ao feriado de Carnaval”. Inscrições por via postal ou no site: festivalreponte.com.br. Informações nos fones: (53) 3251.9599 ou 3251.9519.
ATRAÇÕES – A programação de shows terá talentos que se destacam na região, Estado e País. Dia 4, dupla César Oliveira e Rogério Melo no Galpão Crioulo. No espaço Praça da Alimentação, o consagrado grupo fandangueiro “Os Serranos”. No sábado, dia 5, show nacional com Sérgio Reis. O intérprete de “O Menino da Porteira”, será a atração no Galpão do Camping. Já na Praça da Alimentação, o piratiniense Cristiano Quevedo e Cristiano Vieira. No domingo, show com o humorista Paulinho Mixaria.
SELEÇÃO dos inscritos foi antecipada e acontecerá dias 8 e 9 de março. Em cada linha, campeira e regional, serão escolhidas sete composições. Também serão selecionadas duas composições do 22º Pérola em Canto, promoção que valoriza a arte lourenciana. Organizadores acrescentam: “As músicas selecionadas receberão, a título de premiação, direitos autorais e artísticos, o valor de R$4 mil. Já as músicas oriundas do Pérola em Canto, receberão a quantia de R$3 mil. Informações também no site: saolourencodosul.rs.gov.br
JURADOS da linha regional: letrista Rômulo Chaves (Palmeira das Missões); prof. e músico Paulo Gaiger (Pelotas); músico Oberdan Wasckow (São Lourenço). Linha campeira: letrista Gujo Teixeira (Lavras do Sul); intérprete Leo Almeida (PoA); músico Maykel Paiva (Dom Pedrito).
EVENTOS paralelos ao Reponte: 22º Pérola em Canto; 9º Encontro Estadual de Invernadas “São Lourenço em Dança”; 10ª Feira de Economia Solidária.
A importância do Reponte da Canção
Por Maurício Raupp Martins*
Toda forma de resgate e manutenção de identidade é importante. Somente estes fatores já tornam um festival de música nativa importante, mas quando um festival consegue fazer isso durante 29 anos de forma ininterrupta, ele passa a ser visto como um pilar de sustentação e como referência de um evento que deu certo. Poucos festivais conseguiram isso ao longo do tempo. O Reponte goza desse privilégio. Mas a importância do Reponte não se restringe ao número de edições ininterruptas. O Reponte dialoga com o rural e o urbano, com o passado e o presente e lança propostas para o futuro. Faz isso através da manutenção de duas linhas distintas que se complementam e permitem a oxigenação dos temas que são abordados.
Na linha campeira, os temas do universo rural, mas sem se descuidar dos temas atuais e inerentes a todo ser humano. Na linha livre, não existem condicionantes com relação aos temas, mas se busca respeitar a cultura do sul, seus ritmos, realidades específicas de cada região do Estado. Uma proposta que busque conciliar um campeiro universal e uma projeção com raízes, mantendo a identidade, respeitando a diversidade e dialogando com todos os públicos. Além disso, tendo ciência de que o tipo humano denominado gaúcho ou gaucho é comum ao Uruguai, Argentina e Rio Grande do Sul, em especial à região sul de nosso Estado, o Reponte abriu suas portas e estendeu suas fronteiras aos compositores destes dois países, buscando um efetivo intercambio cultural, o qual vem surtindo bons resultados tanto em termos musicais, culturais, como de divulgação de São Lourenço do Sul para com relação a estes dois países.
Toda esta mistura de tendências, ritmos, culturas, faz do Reponte mais do que um festival, o torna um encontro cultural regional e internacional. Mas não bastaria tudo isso se não houvesse democracia e transparência com relação ao critério de escolha e seleção das músicas participantes do evento. O Reponte, então, mais uma vez inovou. Os integrantes do corpo de jurados são eleitos pelo público durante a realização do evento do ano anterior. São colocadas à disposição do público 4 listas contendo 3 nomes para cada uma das linhas, sendo um letrista, um músico e um intérprete. O critério para a escolha dos nomes é a capacidade de cada um dos indicados e o fato de que nenhum dos jurados possua entre si relação profissional ou artística ou, ainda, vínculos de amizade e que sejam de regiões diferentes do Estado. O objetivo é, além de assegurar transparência quanto à escolha dos jurados, que o júri seja formado por pessoas com gostos e culturas musicais distintas, o que assegura uma maior independência na decisão de cada um dos jurados e que nenhuma expressão artística seja ignorada. Além da eleição dos jurados, outras importantes alterações privilegiam a participação. Foi criado um critério objetivo para a classificação de cada uma das concorrentes, sendo atribuídos pesos à letra, música, interpretação, arranjo e palco. O somatório destas notas indicará o resultado final. Esse critério encontra-se inserido em programa de computador criado especialmente para o festival.
Cada jurado conta com um computador à sua disposição, que somente ele pode manusear e impostar suas notas, o que ocorre ao final da apresentação de cada uma das concorrentes. Para coroar a transparência, na noite final do evento, as notas proferidas pelos jurados a cada uma das participantes é lançada em telão que se encontra no interior do Galpão Crioulo, à disposição de todos os participantes do evento.
Todas essas alterações demonstram que o Reponte tem uma visão de participação, de democracia, de solidariedade e igualdade. Essa visão se reflete na busca da qualidade artística, na participação com qualidade e não à competição. Como forma de privilegiar a participação em detrimento da competição, o Reponte adotou mais algumas posições que foram inovadoras no mundo dos festivais: 1) fixou ajuda de custo elevada (próxima à premiação paga por muitos festivais) para todos os concorrentes; 2) nenhuma das músicas classificadas é eliminada, todas integram automaticamente o CD e DVD do festival; 3) as vencedoras do festival recebem apenas troféus, não havendo premiação em dinheiro. Como resultado disso, o espírito que reina no festival é o de harmonia e cooperação, de alegria de estar participando.
Portanto, são 29 anos de Reponte, sempre inovando, procurando contribuir para, à sua maneira, instigar o futuro desse movimento que é tão importante para a manutenção da nossa identidade. Essa é a maior importância do Reponte. Não são apenas 29 anos de festival, mas a permanente busca pela combinação arte com vida, vida democrática e transparente.
*Integrante da Comisão Artística do Reponte da Canção.