SÃO LOURENÇO DO SUL : Reponte premia música afro-pelotense
Música “Passarinho, homem que avôa”, evocando a negritude, com o toque do tambor e batida do Rap, premiada como “Melhor tema litorâneo”
Por Carlos Cogoy
A fase de apogeu das charqueadas em Pelotas, segunda metade do século 19, foi marcada pela exploração, sofrimento e massacre dos trabalhadores escravizados. O período, embora ainda reverenciado por alguns segmentos conservadores, tem sido repensado e questionado. Alguns dos autores que têm lançado olhar crítico sobre a história, são descendentes daqueles negros cuja vida era abreviada pela brutalidade da rotina na charqueada. O poeta, compositor e intérprete pelotense Eduardo Amaro Radox, inspirou-se na dramática realidade do negro na Princesa do Sul, para criar a música “Passarinho, homem que avôa”.
Inscrita no 32º Reponte da Canção em São Lourenço do Sul, em fevereiro a música foi uma das doze selecionadas. E o autor, “Radox”, salienta que o festival teve mais de mil inscrições. Na apresentação – Reponte ocorreu entre os dias 11 e 13 deste mês -, ele contou com os talentos de Daniela Brizolara e Dena Vargas (vocais), Davi Batuka e Gábi Mesquita (percussão), Gil Soares (flauta). Em destaque, o figurino criado por Sirley Amaro – griô, mãe do Radox. No palco, ele conta que usou saia e asas estilizadas. O resultado foi a conquista do prêmio de melhor tema litorâneo.
TAFONA da Canção Nativa em Osório, é o próximo desafio de Radox. O autor pelotense informa que inscreveu duas músicas. Ele está na expectativa pela seleção das composições “Frio Grande do Sul” e “Cores que aproximam”. A 26ª Tafona da Canção Nativa será realizada entre os dias 27 e 28 de maio. No dia 26 será realizada a terceira edição da mostra “Osório canta a Tafona”, espaço a músicos osorienses.
TRAJETÓRIA – Criativo e talentoso, Radox tem trajetória de destaque: melhor performance no 1º Festival Nacional de Música da Reforma Agrária (1999); composição ‘RAP/Ampeando’ no CD do 1º Festival da Canção do Trabalhador/RS (2000); música ‘Cantos Contos e Lendas’ premiada no “melhor conjunto vocal” da 14ª Moenda da Canção em Santo Antonio da Patrulha (2000), também inserida no álbum Arte Daqui da Rádio COM 104.5; 2º lugar com ‘Te Aprochega Vivente’ na 19ª Moenda da Canção; finalista com ‘O Cozinheiro’ na 22ª Tafona da Canção Nativa de Osório (2012); “Flor do Sal” no disco e DVD do 29º Reponte em São Lourenço (2013); quarto lugar na seleção de projetos à Feira do Livro de Pelotas em 2015. Ano passado, Radox lançou o livreto “Gaúcho suburbano”, onde reuniu dez letras premiadas. A publicação teve distribuição gratuita. O livreto foi viabilizado com apoio da Prefeitura, Coletivo Ocupação e Nativudesign.
PASSARINHO HOMEM QUE AVÔA
Letra e Música: Eduardo Amaro Radox
Gênero: Afoxé e Rap
A cintura requebrando como fosse menina
Lá vem Sebastião o negro canela fina
Na pesada lida da vida do senhor trabalho braçal
Vem cantando antigas cantigas do acervo cultural
Batucando o grande tambor às margens do rio
E da sociedade no sul do Brasil ecoou
Trovoada trovão musicalidade
Assum preto quero-quero
Sabiá e bem-te-vi
Passarinho homem que avôa
No infinito quiriquiri
Ser feliz é o que se quer
Cantar e dançar é uma sina
Bate palma e bate o pé
Lá vem o negro canela fina
Sujeito de grande valia
Do tipo trabalhador
O negro canela fina
É negro de valor
Na província da liberdade
Bateu asas e voou
Em busca da liberdade
Que o vento forte levou
Distante do grande ninho
Na aurora escura pousou
Trazendo em si um bucado
Da essência banto nagô
Cabinda congo benguela
Ganga Zumba Mandela Zumbi
Passarinho homem que avôa
No infinito quiriquiri