SECRETARIA DE CULTURA : Editais, diálogo e visibilidade à negritude
Hip Hop, Carnaval e Diversidade, estão entre as principais áreas de atuação do novo secretário municipal de Cultura
Por Carlos Cogoy
Ao fim de 2020, artistas levaram faixas e protestaram na Secretaria Municipal de Cultura de Pelotas (SECULT). A reivindicação era pela liberação dos valores da lei federal Aldir Blanc, que estabelece auxílio emergencial a artistas, produtores, técnicos e espaços culturais. Um dos interlocutores com o grupo, foi Paulo Pedrozo, então diretor de manifestações populares da Secult. Com perfil sereno e conciliador, Pedrozo há quase nove anos atua na Secretaria. Neste segundo mandato da prefeita Paula Mascarenhas, ele está assumindo como titular da Secult.
Pedrozo menciona sobre o episódio: “No segundo semestre, a Prefeitura lançou editais emergenciais para o repasse de R$ 2.156.000,00, exclusivamente pela Lei Aldir Blanc, e destinados a espaços culturais e artistas que tiveram suas atividades e remuneração afetadas pela pandemia. Devido ao trâmite burocrático exigido para a efetivação dos pagamentos, pois às vezes faltava algum documento, ou algumas contas bancárias tinham alguma pendência a ser resolvida, houve uma certa demora e um grupo de artistas teve receio de que a verba fosse perdida e deixassem de ser contemplados. Mas todos os empenhos haviam sido feitos dentro do prazo, e os pagamentos estavam garantidos e sendo efetuados. No fim tudo foi esclarecido. A classe artística tem cogitado a criação de um edital municipal, de ajuda aos artistas. Esse tipo de decisão não cabe à Secult, e sim ao Conselho Municipal de Cultura (Concult)”.
PANDEMIA – Uma das áreas mais atingidas pela interrupção das atividades profissionais na pandemia, a produção artístico-cultural mantém o permanente debate sobre alternativas. O secretário Pedrozo menciona ações da Secult na quarentena: “Realmente o ano de 2020 foi muito difícil para a cultura em todo o País, devido à pandemia do novo coronavírus. Em Pelotas não foi diferente, a Secult teve que se adaptar à necessidade de isolamento social e realizou alguns eventos virtuais, como dezenas de apresentações artísticas de música, teatro, dança e cinema, através do Sete ao Entardecer Festival; na Semana de Pelotas, de forma virtual em julho, e lives com palestras e bate-papos no Dia do Patrimônio em agosto”.
PERIFERIA – Na campanha eleitoral de 2020, a realidade dos bairros em relação a políticas públicas, foi um dos principais temas debatidos pelos candidatos. O secretário Pedrozo observa: “A ideia do governo Paula, e que daremos continuidade, é manter o perfil de aproximação, de ouvir e dialogar com todos os segmentos, trazer parcerias e trabalhar mais com os bairros. Como está previsto no Plano de Governo, a Secretaria pretende levar mais atividades para a periferia e bairros, para que todos tenham acesso à cultura”.
PERSPECTIVAS – No plano de governo, conforme o secretário, também constam ações para valorização do Carnaval, samba e cultura gaúcha. Mas, as definições dependerão do avanço no combate à pandemia. “Como há muitas incertezas em relação à pandemia e ao acesso à vacina contra o coronavírus, não temos como planejar, por enquanto, a retomada de atividades ‘dentro da normalidade’, nem de pensar o Carnaval. A Secult está sempre aberta, para quem quiser conversar, e faremos reuniões com representantes de cada segmento, para conhecer melhor as expectativas e necessidades de cada um. Manteremos o sistema de editais, lançado em 2014 pelo secretário Giorgio Ronna, porque acreditamos que é a melhor maneira de democratizar o acesso aos recursos públicos disponíveis e descentralizar os eventos culturais, uma vez que aqueles que ocorrem nos bairros e periferia do município recebem uma pontuação maior”, diz Pedrozo.
NEGRITUDE – Primeiro secretário de cultura negro de Pelotas, Paulo Pedrozo ressalta que a visibilidade à negritude, já tem trajetória consolidada. “É importante destacar que a Prefeitura de Pelotas, através da Secult, vem há algum tempo desenvolvendo um trabalho de reconhecimento da cultura e da história do negro no nosso município. O tema do Dia do Patrimônio, em 2014, sob o título ‘A herança cultural africana’ é um ótimo exemplo, celebramos a diversidade étnica e a contribuição afrodescendente na construção da história da cidade com os milhares de cidadãos, que na época participaram com grande interesse das atividades propostas. Esta atividade e o projeto do Museu Parque da Baronesa sobre a Visibilidade do Negro, obtiveram premiações em nível nacional. E meu pertencimento, advindo de um bairro como o Simões Lopes, e minha colaboração através da diretoria de Manifestações Populares, trabalhando com o Conselho da Comunidade Negra na organização da Semana da Consciência Negra e ativamente, com a causa, em todos os segmentos, apontam para o que o mundo hoje grita: ‘Vidas Negras Importam’. As atividades envolvendo a Cultura Negra só aumentaram desde 2014, e assumir o principal cargo da pasta talvez seja uma consequência natural desse crescimento e valorização. Daremos continuidade a essas atividades e, nos Editais, também vamos seguir trabalhando com cotas”, explica.
Trajetória ligada às manifestações populares
No setor público, Paulo Augusto Pedrozo (50 anos), atua desde abril de 2012. À época, governo Fetter, ele havia sido convidado por Daniel Amaro para trabalhar na organização do Carnaval. Desde então, etapas como chefe de gabinete dos então secretários Ulisses Nornberg e Beatriz Araújo – com ela, também responsabilizando-se pelo Carnaval. Desde 2014, esteve à frente da diretoria de manifestações populares. Pedrozo também avaliou projetos, como representante da Prefeitura, no Concult. “Participei de diversos eventos, mas tive uma ligação mais direta com alguns, como a Semana do Hip Hop, Carnaval, considerando os eventos e editais, programação da Semana da Consciência Negra, Samba no Mercado, promovido pelo Grupo Renascença. Além disso, integro a comissão de organização da Parada da Diversidade”, acrescenta.
CARNAVAL – Filho de pai ferroviário e mãe dona de casa, Pedrozo nasceu no bairro Simões Lopes. O pai faleceu quando ele estava com dez anos. Durante o período sem receber a pensão do marido, a mãe mantinha os cinco filhos, lavando roupa para a clientela. Paulo Augusto, o caçula dos Pedrozo, ajudava nas entregas. A família sempre foi ligada ao Carnaval, sendo que a mãe foi diretora da Academia do Samba.
Pedrozo ajudou a criar o grupo jovem da escola de samba, e uma das irmãs estava à frente da ala Sangue Azul. “Em época de Carnaval, nossa casa virava um barracão, com tecidos, cola, purpurina para todo lado. A gente até almoçava trabalhando nas fantasias. O samba sempre esteve presente, na nossa casa e na nossa vida. Um simples churrasco virava uma roda de samba”, diz o titular da Secult, que também recorda o esmero do trabalho do estilista Pompílio. No Carnaval também integrou o bloco Bafo da Onça.
MÚSICO – Uma recordação do então 1ºGrau, foi a professora de música Moema na Escola Estadual Francisco Simões. E foi no curso de Eletromecânica que começou a participar da banda da então Escola Técnica – atual IFSul. Pedrozo tocava sax soprano e, com o professor Luz, aprendeu a ler partituras. No bairro, participa da Associação do Simões Lopes – a irmã preside a entidade -, foi diretor do Clube dos Ferroviários, e organizador da roda semanal “Armazém do Samba”, que ocorria no DC Eventos. Em 2009, convidado para relações públicas da Associação das Entidades Carnavalescas de Pelotas (ASSECAP). Desde então, passou a envolver-se com a organização do Carnaval.