Secretaria pressiona ONGs à limpeza após as doações
Grupos que distribuem alimentos nas ruas, propõem alternativas
Por Carlos Cogoy
Com o desemprego em alta, e a inflação disparando os preços nas gôndolas dos supermercados, a estimativa é que até o fim deste ano, a pobreza atinja mais da metade da população brasileira. Diante do drama social, que tem aumentado o número de pessoas em vulnerabilidade na rua, dezenas de ONGs, projetos e ações voluntárias, têm percorrido as ruas, para oferecer lanches, refeições e agasalhos. O gesto solidário, que se intensificou durante a pandemia, inclusive distribuindo máscaras e álcool gel, atualmente está sendo pressionado pela Secretaria Municipal de Serviços Urbanos e Infraestutura (SSUI). O órgão, cujo titular é Fábio Suanes, está solicitando que os voluntários recolham, ou evitem, que os resíduos fiquem jogados nas praças e vias públicas. Os grupos, que estão reunidos na rede
solidária “Lideranças que fazem o bem”, rebatem o Executivo, alegando que os beneficiários dos alimentos, são orientados para o descarte correto, e a limpeza é uma responsabilidade da Prefeitura. Para estabelecer um consenso, nesta semana ocorreu o primeiro diálogo entre os voluntários e representante da Secretaria.
IMPASSE – Na segunda à noite, no salão da Igreja do Porto, reuniram-se os representantes dos grupos Amigos do Coração Pelotas, Garagem Solidária, Sopão de Rua, Nós por Nós, Café do Bem, Juntos Somos Mais Fortes, Paróquia do Porto, Pastoral Carcerária, Orumalé Sagrado Pelotas e Projeto Seja Solidário, e o chefe de departamento da Secretaria de Urbanismo, Almir Bastos da Silva Jr. O representante da SSUI, levou sacos de lixo, como forma simbólica para estimular os grupos, à parceria para o recolhimento de resíduos após as doações. Ele lançou o apelo à cidadania, pois reconhece a grandeza das ações, mas considera que também pode haver o viés educativo sobre a limpeza dos espaços. Complementando, alegou que dispõe de equipe reduzida, formada por idosas, para a manutenção de praças públicas. Os grupos também apresentaram ideias, e a reunião terminou num clima amistoso, porém, sem definição de sequência ao diálogo. A perspectiva é que aconteça um novo encontro, para avaliação de propostas.
IDEIAS – Cresmar Rodrigues está à frente do projeto Seja Solidário. Ele menciona sobre a reunião: “Os grupos sugeriram que o órgão, que está efetivando a cobrança, acompanhe os projetos em suas ações. Além isso, com apoio do Núcleo de Educação Ambiental do Sanep (NEAS), seja elaborado um projeto de lixeira social. Outro aspecto, é que os moradores de rua, recebam incentivo à medida que recolham o material reciclável. Ao senhor Almir, grupos podem informar as rotas de distribuição e, se não houver alguém para acompanhar, então que seja designado funcionário da Sersul”.
ROTA SOLIDÁRIA foi sugestão do babalorixá Juliano de Oxum, que está à frente do projeto Orumalé Sagrado Pelotas. Ele explica que, se a equipe para a limpeza, está aquém da necessidade, então deve ser ampliada pelo poder público. Com a Rota Solidária, identificando a trajetória dos grupos, para o acompanhamento da Secretaria, as lixeiras solidárias, e a ação do NEAS, a realidade pode mudar. No entanto, observa que também há marmitas provenientes de empresas, e outros segmentos.
CAFÉ DO BEM é coordenado por Jacqueline Corrêa. O grupo aos sábados às 8h30min, em frente ao Theatro Sete de Abril, distribui kits de higiene, roupas, cafés, sanduíches e bolos. Ela acrescenta: “Segundo a nossa experiência, cem marmitas e cem copos, equivalem a cem pessoas alimentadas. Almejamos que as secretarias municipais, valorizem as ações sociais voluntárias, porque estas ações desoneram os órgãos públicos, não só no amparo, como também nas obrigações sociais e econômicas aos cidadãos em situação de vulnerabilidade. Tiramos dinheiro dos nossos bolsos, doamos nosso tempo e atenção, para alimentar corpos e almas”. Jacqueline menciona que a secretaria, em conjunto com outros órgãos, pode capacitar e qualificar quem está nas ruas, contribuindo para que conquistem uma vida digna. Quanto à limpeza, diz que existe a orientação aos sem-teto, mas a responsabilidade é da Prefeitura, pois são pagos os impostos e taxas.