Sobre Mayras e Rebecas
Por: Vernihu Oswaldo
Editor do canal Allímpico
As Olimpíadas ocorrem de quatro em quatro anos. No período de 15 dias, todos os olhos do mundo são postos em cima de alguns atletas que têm a missão de defender as cores de seu país. Apesar de todos esses olhos sobre, pouco é visto. Vemos resultados, medalhas ou não. Mas não vemos os atletas de verdade, não sabemos quem são. E, provavelmente, iremos esquecê-los pelos próximos quatro (ou três) anos.
Mayra Aguiar é um fenômeno. Aos 29 anos, ela é dona de três medalhas olímpicas. E não me surpreende se voltar em Paris. Três bronzes. Ela está entre as melhores do mundo há mais de dez anos. Nós podemos comemorar sua medalha, podemos até nos emocionar, mas dificilmente iremos entender que cada uma daquelas lágrimas que ontem molharam o kimono de Mayra tem um significado pessoal.
Cada lágrima representa uma cirurgia, uma dor, uma vontade de desistir. Hoje o Brasil tem uma campeã. Porque, sim, ter uma conquista olímpica sem apoio maciço da mídia e do público por quatro anos e com uma cobrança monumental a cada 15 dias, é inumano. Mayra é uma gigante por chegar onde chegou!
E o que falar de Rebeca Andrade, a ‘Daianinha’? Menina negra, pobre e criada apenas pela mãe. Aos 23 anos, conquista a primeira medalha da ginástica feminina brasileira na história. A herança de Daiane, de Daniele e de Laís é incontestável. Mas a primeira medalha tem nome: Rebeca Andrade! E segunda-feira podemos ter a segunda e a terceira, com o mesmo nome. Hoje é dia de baile de favela! Hoje é o dia em que a favela chegou ao asfalto e pôde gritar bem alto, para o mundo inteiro ouvir: “SOU CAMPEÃ!”