SOLIDARIEDADE : Sobrevivente da Covid-19 lança campanha de apoio à Beneficência
Por Carlos Cogoy
No dia 9 de março ela começou a sentir febre. Em poucos dias, o estado agravou-se, com as dores se intensificando pelo corpo. Residente no interior do município, a professora Jara Lourenço da Fontoura (FURG), observou que o corpo enfraquecia. Com a ajuda de familiares e amigos, realizou o teste para Covid-19. Pouco depois, foi avisada por uma das irmãs que a mãe Nilza Rita Lourenço da Fontoura, havia recebido o resultado do exame realizado em Rio Grande, e estava infectada. Diante da notícia, a professora percebeu que o mal-estar possivelmente fosse consequência do coronavírus, já que ela havia, durante algumas semanas, cuidado da mãe de 83 anos. E o resultado do teste comprovou a suspeita, ela também estava com a Covid-19. Como os sintomas pioravam o estado de saúde, e o tratamento com antibióticos já não surtia efeito, houve a internação na UTI da Unimed. Posteriormente, seguiu para a Beneficência Portuguesa, onde permaneceu durante sete dias. Enquanto estava internada, a professora Jara Fontoura soube do falecimento da mãe. Sem poder se despedir, teve a solidariedade e carinho da equipe da Beneficência. Até a alta, no entanto, ela foi observando que havia inúmeras dificuldades para o trabalho cotidiano dos profissionais. Assim, ela divulga campanha para sensibilizar a população em relação à Beneficência. Conforme a professora constatou, nem sempre há materiais suficientes, em especial sabonetes, álcool, luvas, máscaras, água e material de limpeza.
CORREDOR DA MORTE – “Hospitalizada, sentia muita febre, dores nas pernas, náuseas constantes, dificuldades para respirar. Doía para ir ao banheiro, e coração estava batendo diferente. As pernas e os braços foram afinando, e recebi muitas injeções, para evitar que o sangue coagulasse. Como a Covid tira a fome, não conseguia comer. Naquele corredor era possível sentir o cheiro da morte, devido à infecção dos pacientes. Às veze escutava gritos, e sabia de tentativas de fuga dos quartos. Diante de tanta dor, alguns enfermeiros choravam. Nunca imaginei que iria sentir isso, num processo hospitalar, mas era o cheiro da morte”, relata a professora.
CURA – A ambientalista e pesquisadora, menciona que a cura aconteceu gradativamente. Assim, diariamente contava com a compaixão da enfermeira Marli, e a equipe que foi sendo identificada como o médico “pássaro azul”, fisioterapeuta “beija-flor” e a enfermeira “borboleta da esperança”. Os apelidos afetuosos, decorrem do cotidiano na área rural. A professora destaca o vínculo estabelecido num momento delicado. E ao poucos ela foi conhecendo um pouco mais a equipe, os enfermeiros, e suas histórias de vida. A cura, no entanto, conforme recorda, ocorreu numa noite na qual um grupo de voluntários, na área externa do hospital, entoou cantos de fé e esperança. A energia da música, estimulou a motivação pela recuperação. Para Jara Fontoura, a cura também está no acolhimento e amor, proporcionados pelos profissionais do setor que atende infectados pelo coronavírus.
MÃE Nilza – nascida em Pelotas – foi o grande exemplo para a professora, que se emociona ao lembrar do falecimento enquanto estava internada na Beneficência. Ex-docente na FURG, Nilza Rita Lourenço da Fontoura foi patrona da Feira do Livro da Furg em 2005. Aos noventa anos, estava com sintomas de Alzheimer quando, em fevereiro foi contaminada na visita de uma neta. A menina estava assintomática, e os familiares desconheciam que era portadora do coronavírus. Jara frisa que a mãe foi uma lutadora, incansável, amorosa com os filhos, estimulando a todos para que não desistissem diante das adversidades. No Natal de 2020, a senhora Nilza enviou aos filhos: “Mais uma vez celebraremos o nascimento do JESUS, ocorrido há 2020, numa manjedoura em Belém. Que presentes trocaremos neste Natal? Covid! Isolamento! Solidão! Comércio fechado! Hospitais lotados! Sepulturas abertas! Corações feridos!… Infelizmente, tudo isso é verdade, mas também um recado de Deus. ELE nos pede que redescubramos e vivenciemos a FRATERNIDADE! Com ternura, Nilza Fontoura”.