SOPAPO : Tambor é patrimônio da cultura pelotense
Projeto de lei na Câmara Municipal, para tombamento do “Sopapo”
Por Carlos Cogoy
Após quase doze anos, começa a tramitar no Legislativo municipal, o projeto de lei que declara o instrumento musical Sopapo, como “Patrimônio Imaterial da Cultura Pelotense”. Originalmente, recorda o ex-vereador Luiz Carlos Mattozo, a iniciativa havia sido do então vereador Ademar Ornel – falecido no início deste ano -, que não chegou a protocolar o projeto. A retomada, conforme José Batista – filho do Griô Mestre Baptista, e autor do livro “O Sopapo Contemporâneo – Um Elo com a Ancestralidade”, que será lançado em junho -, é uma iniciativa da sociedade civil, ação dos negros pelotenses. Na Câmara, o projeto foi reapresentado pelo vereador Paulo Coitinho (Cidadania), presidente em exercício do Legislativo. A ideia que valoriza o tambor afro-pelotense Sopapo, já foi encaminhada às comissões, e a perspectiva é que, dispondo dos pareceres, seja votada em poucos dias. Mattozo acrescenta: “O tombamento é o resgate de um importante legado do povo negro pelotense”.
SECULT – Presença no ritmo dos Carnavais de Pelotas, o Sopapo quase despareceu ao fim do século XX. A memória foi preservada por Neives Baptista (1936/2012), o mestre Baptista que, em 2007 foi reconhecido como Griô pelo Ministério da Cultura. O zelo de Baptista, preservando a feitura do tambor, foi essencial para o projeto CaBoBu – homenagem aos carnavalescos Cacaio, Boto e Bucha -, e coordenado pelo músico pelotense Giba Giba, falecido em 2014. No CaBoBu, que teve duas edições em 2000, houve a confecção de dezenas de sopapos. Em 2018, a prefeita Paula Mascarenhas, através do decreto nº 6.130, declarou Pelotas como a cidade do Tambor de Sopapo. Acerca do trâmite do projeto na Câmara, o secretário municipal de cultura Paulo Pedrozo menciona: “Esse ato de tombamento e reconhecimento visa preservar referenciais, marcas e marcos da vida de uma sociedade, e de cada uma de suas dimensões interativas como símbolo de identidade de nosso povo de matriz africana. Portanto, é de nosso interesse e satisfação poder assistir esse grande avanço para a preservação da memória, e referenciais coletivos bem como da salvaguarda desse bem cultural tão pelotense que é o Tambor de Sopapo. Trazer à tona essa discussão sobre o Sopapo, além de ter fomentado a retomada da produção do tambor de Sopapo, também promoveu a recuperação de um legado histórico da cultura de afrodescendentes da região sul do país”.
HISTÓRIA – José Batista desde a infância acompanhou o pai, Griô Mestre Baptista, na confecção dos tambores. Como autor, tem pesquisado sobre a origem do instrumento. Ele divulga: “Sopapo é um tambor, instrumento afro-gaúcho, feito originalmente com troncos de árvore. Alguns de seus primeiros registros indicam que foram os negros escravizados que trabalhavam nas charqueadas, na região de Pelotas, que criaram o Sopapo. Um dos primeiros registros históricos no Estado, identifica o uso em 1826 mas, historiadores e descendentes de charqueadores, afirmam sobre a existência do Sopapo desde 1780, já na primeira charqueada construída na região pelotense. Nenhuma outra ocorrência contraria o nascedouro pelotense do Sopapo, e não há fatos comprovados que possam discordar da criação local do instrumento grave e cônico na região. O mais autêntico e antigo tambor do estado do Rio Grande do Sul, foi peça importante no Carnaval de Pelotas, e na Praiana, primeira escola de samba de Porto Alegre, conferindo sonoridade própria ao samba gaúcho, distinguindo-o assim do samba feito no Rio de Janeiro. O berço do Sopapo, é reconhecido por toda a etnia negra, como tendo sido em Pelotas. Muito embora a primeira escola de samba do Estado seja de Rio Grande, o uso do Sopapo começou em Pelotas, nas charqueadas e nos Batuques, registrados na região entre as duas cidades, vindo a se profanar nos Carnavais, mas tendo origem nas charqueadas e no terreiros de Batuque da região”.