Diário da Manhã

domingo, 19 de maio de 2024

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TOCA DIREITO II : A visão sonora que supera o preconceito

15 março
08:35 2016

Sábado a partir das 14h, segunda edição do “Toca Direito”, em frente à Faculdade de Direito da UFPel, terá som do DJ Jader “Fênix”

Por Carlos Cogoy

Formaturas, casamentos, aniversários, confraternizações e promoções em casas noturnas. Algumas das atividades que poderão contar com a “discotecagem” do DJ Jader “Fênix” Nunes. Desde os anos noventa ligado à cultura Hip Hop, o riograndino Jader atualmente está radicado em Pelotas. Como DJ, há quase três anos, dedica-se profissionalmente à sonoridade das “picapes”. Um pouco do seu trabalho poderá ser conferido no projeto “Toca Direito II”. A iniciativa do coletivo “Horto do Capiroto” e Frente Negra Pelotense (FNP), no sábado terá mais de vinte atrações durante doze horas de música. Contatos com Jader podem ser feitos na sua página no Facebook, ou através do fone: 8150.4011.

Jader nas “picapes”

Jader nas “picapes”

VISÃO – Aos dez anos, o menino Jader foi residir no bairro Jardim América do Capão do Leão. Aos quinze anos, porém, numa briga de rua, foi agredido e perdeu a visão. Ele reconhece que a briga foi causada por motivos banais. Porém, alterou totalmente a sua vida. A convivência com a cegueira passou a exigir constante adaptação. Como etapa na nova fase, período na Escola Louis Braille. E Jader salienta que, entre os desafios, uma das grandes dificuldades é a locomoção sozinho. São inúmeras as barreiras e nem sempre a solidariedade está por perto. A limitação física, no entanto, não impediu que Jader desenvolvesse outras habilidades. Ele destaca a fase dedicada à atividade física. Treinando na academia Puwel no Capão do Leão, orgulha-se do bicampeonato sul-americano no levantamento de peso. E o DJ conta que chegou a levantar 160 quilos. Apesar da satisfação proporcionada pelo esporte, optou por parar com o treino para competições, já que o nível técnico de exigência é muito elevado. Em fase recente, porém, Jader encontrou no FutSal mais uma atividade prazerosa e competitiva. No esporte adaptado para atletas cegos, após período em Pelotas, foi convidado para disputar a série B do campeonato brasileiro. Em Porto Alegre, ele integrou o elenco da Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS).

HIP HOP – A ligação com o Hip Hop remonta ao começo da adolescência. Jader aos onze anos, conheceu a cultura de rua através dos movimentos da dança “Break”. Até os quinze anos, dançava no grupo “Comando Rap MCs”. Com a mudança no seu cotidiano, retomou a dedicação ao Hip Hop em 2001. Ele passou a escrever e também se apresentar como MC – vocalista – do “Comando Rap”. Cego, deparou-se e prossegue enfrentando o preconceito. Numa letra escrita para o grupo – integrou o “Comando Rap MCs” até 2003 -, ele conta sobre o descaso e dificuldade de aceitação e inserção do deficiente visual. Sua experiência foi narrada no Rap “Preconceito e discriminação”. A cegueira, no entanto, não impediu que, na então rádio Tropical FM – funcionou no Capão do Leão -, semanalmente apresentasse o programa “O som das ruas”. A emissora fechou, mas o projeto de Jader está em nova frequência. Na rádio América FM 87.9, ele apresenta “Som Rap nacional”. No estúdio, conta com apoio de Serginho, e o programa é veiculado às quintas às 22h. Para ouvir online: radioamericafm.com.br

DJ – Ele ainda está divulgando seu trabalho como DJ, mas já tem realizado algumas “discotecagens”. De acordo com Jader, o preconceito é imediato. Quando o interessado no trabalho, fica sabendo que o DJ é cego, surge a dúvida se conseguirá um bom desempenho nas “picapes”. Jader, porém, supera o preconceito com sua “visão sonora”. Ele dispõe de inúmeros ritmos e gêneros, adequando conforme a promoção. Para auxiliá-lo, o apoio da companheira da Lidiane. Ele conta que já trabalhou em eventos como a Semana do Hip Hop, shows de Hip Hop no então Wong Bar, apresentações na avenida Bento Gonçalves e atuou como DJ do grupo “Seguidores Palavra Rap”. Em visita ao DM ontem, Jader esteve acompanhado de Lidiane e o menino Richardson. 

DJ conta com apoio da companheira Lidiane o menino Richardson

DJ conta com apoio da companheira Lidiane o menino Richardson

Projeto social no Capão do Leão

Jader também se dedica à ação solidária, um dos compromissos que caracteriza o “Hip Hop” enraizado na periferia urbana. Conforme divulga, no Capão do Leão – onde residiu durante bom tempo -, há um ano tem desenvolvido projeto social. As atividades acontecem na Escola de 1º Grau Pref. Elberto Madruga, e contam com apoio da direção.

OPÇÕES – A aula de dança, com movimentos do “break”, de acordo com Jader, é ministrada por Sergio Vaz, que acolheu a sugestão do amigo DJ.  Outra opção oferecida a crianças e jovens leonenses, é a prática da capoeira. Jader menciona que, para o aluno participar das oficinas, é necessário bom desempenho escolar.

DISCOTECAGEM – Uma nova oficina que será oferecida, ressalta Jader, será o aprendizado da discotecagem. Ele pretende oferecer aulas com as técnicas básicas para a função de DJ. 

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