UCPel lidera no Brasil estudo que define novas curvas de crescimento mundial
Criar novas curvas de crescimento fetal e de recém-nascidos pré-termo foi o trabalho realizado por pesquisadores de diferentes locais do mundo, integrantes do Consórcio Internacional sobre Crescimento Fetal e de Recém-nascidos para o Século XXI (Intergrowth), sediado em Oxford, Inglaterra. Única representante brasileira no estudo, a Universidade Católica de Pelotas (UCPel) integra o grupo formado por oito países e que estuda, há oito anos, padrões mais precisos para definir faixas de crescimento consideradas ideais durante a gravidez e logo após o parto.
O estudo foi realizado em cidades da Inglaterra, Brasil, Estados Unidos, Itália, Quênia, Índia, China e Omã, representando quatro continentes. Pelotas foi a única cidade brasileira a participar da pesquisa, informa o pesquisador da UCPel responsável pelo estudo no país, professor Fernando Barros. “A escolha de distintos locais do mundo para a realização do projeto teve como finalidade obter uma representação do todos os grupos étnicos, para que as curvas pudessem ser utilizadas por todos os grupos humanos”, explica.
Para desenhar novas curvas de crescimento fetal e de recém-nascidos pré-termo (ou prematuros), mais de 20 mil de mulheres grávidas em adequadas condições de saúde foram acompanhadas durante toda a gravidez e parto. Seus filhos também foram acompanhados durante os primeiros dois anos de vida.
De acordo com Barros, um dos diferenciais das curvas do Intergrowth em relação aos outros estudos existentes é que elas são prescritivas e indicam como fetos e recém-nascidos até dois anos devem se desenvolver em situações de saúde completa, explica. “As novas curvas são produzidas para funcionar como padrões de como crianças em condições adequadas devem crescer durante a gravidez”, pontua.
As curvas disponíveis anteriormente, provenientes de estudo realizados nos anos 1970 e 1980, eram de tipo descritivo, baseadas em populações de grávidas em que não existiam todos esses cuidados para evitar fatores de restrição ao crescimento. O pesquisador da UCPel ainda menciona que os estudos anteriores não contavam com a padronização necessária para obtenção das medidas antropométricas, utilizavam populações de regiões específicas do mundo, usualmente com dados coletados há muitos anos.
Na avaliação do pesquisador da UCPel, havia a necessidade da criação de um padrão internacional correto de crescimento de crianças, especialmente no período fetal. “Precisávamos saber se os bebês estavam nascendo saudáveis e com o tamanho adequado, e se este crescimento adequado era observado em qualquer grupo étnico”, complementa o professor.
Para realizar a avaliação, o estudo utilizou cinco parâmetros para medir o crescimento fetal – três medidas da cabeça, comprimento do fêmur e circunferência do abdômen – realizados através de exames de ultrassom feitos em diferentes idades gestacionais. Nos recém-nascidos, foram levados em consideração o peso, a circunferência da cabeça e o comprimento total do bebê.
Uma das descobertas mais interessante do estudo, destaca Barros, foi a identificação de que o crescimento fetal foi comparável em todos os locais no qual o estudo foi realizado. Houve mais diferenças de crescimento entre as crianças de um mesmo local, do que quando se comparou crianças de um local em relação a outro. “Isso foi o mais bonito, comprovar que crianças de qualquer cor ou raça têm o mesmo potencial de crescimento, desde que se eliminem fatores externos”, comentou pesquisador.
De acordo com o professor, o acompanhamento do crescimento de crianças pré-termo também foi parte importante do projeto, pois as curvas atualmente utilizadas para recém-nascidos foram criadas a partir de estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde somente com crianças nascidas a termo (entre 39ª e 41ª semana de gestação). “Nossas curvas para pré-termos vêm, portanto, completar as ferramentas que temos para acompanhar o crescimento infantil”, salienta.
Divulgação dos resultados
O Projeto Intergrowth trabalha atualmente na divulgação das curvas produzidas para o acompanhamento do crescimento fetal e de crianças nascidas pré-termo. O Ministério da Saúde do Brasil já adotou as curvas fetais, e as curvas de pré-termo começam a ser adotadas em Unidades de Terapia Intensiva Neonatais de diferentes locais do mundo.
De acordo com Barros, no Brasil vários hospitais localizados especialmente no Rio Grande do Sul e em Minas Gerais já iniciaram a adoção dos novos resultados. “Aqui no Brasil vamos começar a trabalhar em cidades que possuem maternidades e UTI’s Neonatais com crianças prematuras para utilização das práticas”, explica. No Hospital Universitário São Francisco de Paula (HUSFP) da UCPel, existe um planejamento para implantação das novas curvas em curto período de tempo.