Uso excessivo de celulares e tablets desafia pediatras
Os smartphones estão por todos os lados e se, na vida adulta, já é motivo de muita incomodação pelo uso em excesso, com as crianças o sinal de alerta é ainda maior. Os atrasos do desenvolvimento chegam a afetar uma a cada quatro crianças até o início da vida escolar regular, trazendo dificuldades de aprendizagem e escolares em geral.
Os dados são de um recente estudo, publicado na respeitada revista JAMA Pediatrics em Janeiro/2019, realizado por Sheri Madigan, Phd pesquisador da Universidade de Calgary, Canada, que recrutou mulheres grávidas e seus bebês após nascerem, entre 2008 e 2010, e os acompanhou por 5 anos. Foram 2441 parelhas de mães-bebês. Os bebês foram avaliados aos 24, 36 e 60 meses de idade, usando-se um instrumento (Ages and Stages Questionary-3) para avaliar o desenvolvimento deles nestas etapas de idade. As crianças que passam mais tempo nas mídias sociais e nas telas aos 2 e 3 anos de idade tem piores resultados nos testes de triagem de desenvolvimento aos 3-6 anos de idade.
A Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul trabalha no desenvolvimento de uma campanha institucional sobre o assunto que deverá ser lançada este ano. O consenso é de que não há como impedir o uso, mas deve haver controle e moderação. Por isso, é fundamental na visão dos pediatras tomar medidas educativas do uso consciente destes recursos tecnológicos sob pena de comprometer uma geração de crianças com falhas e atrasos que se somam com o tempo, causando um custo adicional nos recursos de auxílio terapêutico familiar e público. Chegando na vida escolar da graduação com falhas pedagógicas graves e com dificuldades de interação social.
Além do desenvolvimento em si, o objetivo é alertar para a série de riscos que a exposição indevida na internet tem causado.
– A resposta bem objetiva é que é o uso excessivo é perigoso e exige, sim, uma participação efetiva dos pais. Quando se fala em internet, entramos em um mundo virtual muito vasto, no qual é possível fazer pesquisas maravilhosas sobre diversos assuntos, ao mesmo tempo em que se pode cair em vídeos e pessoas mau intencionadas, como por exemplo, a pedofilia. Pessoas que possuem esta característica valem-se desse recurso porque estão em uma condição de anonimato, fazendo de conta que são outras pessoas. A partir disso, aliciam crianças ingênuas. Também existe a preocupação do excesso de violência em jogos ou vídeos. Como os pais vão saber? Só participando – explica o pediatra e membro do Comitê de Desenvolvimento e Comportamento da Sociedade de Pediatria do Rio Grande do Sul -(SPRS), Renato Santos Coelho.
Os pais precisam impor limites e colocar restrições. Para isso, o médico ilustra com um exemplo prático.
– Ninguém deixa o filho de quatro ou cinco anos sentado sozinho em uma praça e vai embora. O que pode acontecer com ela? Uma série de coisas ou pode não acontecer nada. Mesmo assim, ninguém se arrisca. Por que na rede virtual seria diferente? – finaliza.
Estudos mostram, ainda, que somente a partir dos seis ou sete anos de idade, a criança passa a distinguir com mais facilidade o que é uma fantasia da realidade. Por conta disso, é preciso cuidado com jogos que incluem cenas de violência.
Redação: Marcelo Matusiak/PlayPress