VAR é bom… quando funciona
Poucos assuntos têm sido tão discutidos no futebol brasileiro quanto o VAR
Desde sua implantação, em 2018, o sistema de vídeo para auxílio da arbitragem tem passado por altos e baixos, mas tem fixado – e até aumentado – sua presença em competições importantes. Este ano de 2021 marca a entrada da tecnologia na série B do Campeonato Brasileiro. E parece que nele o VAR tem pisado na bola com mais frequência.
O uso de tecnologia em jogos não é uma novidade. Nos cassinos, todas as mesas são filmadas, para dirimir qualquer dúvida. Evidentemente, nas versões online isso não é necessário, restando apenas a diversão do momento. Mas os esportes são acontecimentos ao vivo e, por isso, o replay é bem-vindo. E o sistema de revisão em vídeo funciona maravilhosamente bem no vôlei, no tênis, no futebol americano… raramente há polêmicas. Mas por que no futebol ainda topamos com acontecimentos desagradáveis como no jogo do Xavante contra o Remo?
Nessa partida, o Brasil teve um gol – fruto de uma bela jogada – anulado por um impedimento milimétrico determinado pelo VAR. Muitos dirão que é um lance factual – ou se está impedido, ou não está. Mas a questão é a dúvida sobre a precisão da medição eletrônica. Para começar, tudo depende do momento exato em que se congela a imagem. Um frame para frente ou para trás altera o resultado de um lance como o do referido jogo. Pode-se ter certeza de que a imagem está corretamente congelada?
Também há a espessura dos traços. Quantos centímetros de campo são representados nas linhas vermelha e azul, de ataque e defesa? Em um lance tão ajustado, a grossura da linha pode ser fatal.
Os ingleses, inventores do jogo, já perceberam que, levado ao pé da letra, o VAR pode ser um gigantesco estraga-prazeres. E o prazer do jogo é o gol. Por isso, na liga inglesa, há uma margem de tolerância que anula essas questões milimétricas. Dentro de tal margem, o jogo segue. Porque a ideia da lei do impedimento é evitar que os banheiristas tenham uma vantagem em relação à defesa. E milímetros à frente não são vantagem alguma. De quebra, o jeito inglês de usar a tecnologia evita as paradas longas e irritantes, nas quais um juiz oculto fica brincando no computador – e matando a graça do espetáculo.
Outra fonte constante de reclamação é a aparente incapacidade de seguir um simples protocolo. Há instruções de como e quando o sistema de vídeo deve interferir na partida, mas, visivelmente, muitos árbitros esquecem o documento em casa. Ou o juiz de campo é chamado, mas decide ignorar seu auxiliar. Essa falta de clareza sobre o que está sendo feito, e por quem, poderia facilmente ser dirimida com a divulgação instantânea das conversas entre a equipe de arbitragem. Dessa forma,todos saberiam, em tempo real, o que está sendo analisado, e como o protocolo está sendo seguido. No futebol americano, os juízes declaram, para todo o estádio, o que viram e o que decidiram. Por que não no futebol brasileiro?
Muleta eletrônica
Outra situação que se tem visto em terras nacionais é a vídeo-muleta. Lances capitais, como um pênalti, simplesmente deixam de ser marcados em campo, jogando a responsabilidade da decisão para a cabine do VAR. Se nada é dito, segue o lance. Se, contudo, o auxiliar vê algo, chama o juiz de campo e o pênalti é marcado. O problema é que, em um replay, quase tudo é pênalti. Qualquer esbarradinha de mão, qualquer tranquinho no corpo, tudo isso vira algo cinematográfico no slow motion. E o juiz, que já foi até o monitor, prefere não assumir o que viu (ou o que não viu).
Quando o VAR chegou ao Brasil, muita gente pensou que seria o fim das encenações de jogadores e dos erros grosseiros da arbitragem. Passados três anos, parece que não é bem assim. O teatro futebolístico continua, mas agora adaptado para enganar o vídeo, não mais o juiz. E os erros dos apitadores também permanecem, mas agora com a possibilidade de errar não só ao vivo, mas também no replay. E em câmera lenta.