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VILA NOVA : Reunidos “em casa”, moradores endurecem críticas ao governo

23 junho
09:29 2015

Foram quase três horas de pedidos e explicações, na reunião realizada,na semana passada na comunidade Vila Nova, no 7º Distrito, com moradores, lideranças religiosas, vereadores, representantes do governo e até da vice-prefeita. A insatisfação com promessas não cumpridas foi a tônica dos questionamentos tanto para a Secretaria de Desenvolvimento Rural quanto as de Saúde e Educação.

Para os vereadores Marcus Cunha (PDT) e Beto Z3 (PT) a avaliação foi de que o governo está conseguindo atender algumas demandas, mas ainda falta muito para tirar a zona rural do esquecimento. Já o Professor Adinho (PPS) disse que com a chegada dos novos titulares às secretarias o trabalho melhorou. Ele garantiu que tem recebido apoio das três pastas presentes ao encontro, “para diminuir os problemas da zona rural”.

NOVAS cobranças durante encontro no 7º Distrito

NOVAS cobranças durante encontro no 7º Distrito

Segundo Marcus Cunha, ficou evidenciado “o descaso do Poder Público com a zona rural. Nos comprometemos em nos aproximar e fiscalizar as obras, mas vai demorar mais três anos fazendo e refazendo licitações”, argumentou o parlamentar. Ele acredita que a construção de prédios para unidades básicas de saúde “não será para esta administração”.

Ele também lembrou que, em 2013, recebeu um pedido do padre Armindo Capone para conseguir uma ambulância para a zona rural. “Levei o pedido para o governo do Estado e conseguimos a ambulância, mas até hoje não está disponível para a colônia”. Segundo o vereador, depois de encaminhar um pedido à Promotoria Pública, recebeu como justificativa da secretária Arita Bergmann que a ambulância não seria necessária porque tem poucos pedidos na zona rural.

O Professor Adinho lembrou de lei de sua autoria para que os ônibus fossem obrigados a ter banheiros, o que não é obedecido. Também citou o desemprego das mulheres da zona rural devido ao preço das tarifas, e disse que o prefeito garantiu que fará a licitação do transporte da colônia com subsídios do município para baratear as passagens.

Para o vereador Beto Z3 é fundamental que as comunidades “não percam o direito de se indignar. Tem que cobrar das três esferas de governo. A segurança pública é do governo do Estado que nem está aqui. As estradas são questão do município, precisa de mais eficiência, tem que abrir concurso público para operadores de máquinas”.

O encontro foi liderado pelo Padre Armindo Capone e pelo pastor José Signorini. “Esta assembleia é para encaminhar o agricultor, cansado de reuniões que não tem aproveitamento”, afirmou Capone. “Viemos buscar nossas reivindicações e levar resultados concretos. Queremos que os representantes (do governo) digam o que podem e o que não podem fazer, mas com veracidade”.

O pastor Signorini completou suas palavras. Segundo ele, ao final do encontro os representantes municipais precisariam responder aos questionamentos. Por exemplo: a construção da creche para as crianças da comunidade será possível, ou não? Garantir mais segurança aos moradores que enfrentam assaltos em suas próprias casas é possível, ou não? Construir um novo posto de saúde, pois o atual funciona no prédio de um restaurante, sem condições de privacidade para médicos e pacientes é possível, ou não? A melhoria das estradas, a construção de pontes, o transporte coletivo em zonas de difícil acesso é possível, ou não?

VEREADORES também se manifestaram

VEREADORES também se manifestaram

Explicações – O secretário substituto de Desenvolvimento Rural, Ricardo Silveira, garantiu que a SDR “tem feito esforços para juntar equipamentos, e ter duas patrolas e um carro auxiliar e fazer 50, 60 quilômetros de estradas em dois dias”. Ele pediu que as comunidades rurais cobrem mais dos subprefeitos, porque a Secretaria tem 1.500 quilômetros de estradas para cuidar.

Cobrado quanto ao péssimo estado das estradas secundárias que, segundo os produtores, são tão importantes quanto as estradas principais, pois é por elas que circulam os alimentos, Silveira pediu que informem “quantos quilômetros de estradas estão péssimos”. Ele também disse que existe um cronograma para pontes, pontilhões e sinalização das estradas principais.

A professora Luci Santos Bilhalva, da Escola Municipal de Ensino Fundamental Nestor Eliseu Crochemore, precisou ler todas as demandas para não esquecer de nenhuma. Seu primeiro questionamento foi sobre a licitação do transporte coletivo para a zona rural e sobre a situação das estradas. “Estamos há dois anos sem patrolamento das vias por onde passam o microônibus e o carro que leva os estudantes para a Escola. Em dias de chuva eles não podem estudar, aí temos que recuperar as aulas nos sábados”.

Ela também questionou a Smed sobre a lei que obriga crianças de quatro anos a frequentarem a escola. “Não temos sala de aula para eles e nem banheiro. Nosso banheiro é na rua. Nossos alunos choram para sair na rua, porque têm medo de irem sozinhos”. Segundo a professora, desde 2010 está no corredor da Secretaria de Educação um “banner” informando sobre a ampliação da Escola. “Mas até hoje estamos amontoando alunos nas mesmas salas”.

Em resposta, a vice-prefeita afirmou que não conhecia o projeto de ampliação da Escola Eliseu Crochemore, e que ia se informar, mas deixou claro que a obra “não é para já”. Ela citou como prioritárias as creches do Monte Bonito e da Colônia de Pescadores Z3, para as quais a empresa vencedora da licitação se comprometeu em realizar as obras.

Muitos questionamentos surgiram na área da saúde. A situação dos postos na Vila Nova e na comunidade quilombola, “que tem tanto problema que não dá nem para guardar remédio”, afirmou o presidente da Associação de Moradores. A falta de banheiro nos ônibus, que obriga muitos passageiros, principalmente idosos que usam medicamentos, a descer para urinar na estrada, a demora na marcação de exames, de até um ano e meio, e a cobrança pela ambulância para atendimento da população rural.

A diretora de ações em saúde, Eliédes Ribeiro, representou a secretária de Saúde, Arita Bergmann, e coube a ela responder as questões. Eliédes disse que “existe um rito para usar o dinheiro público. Tem que ser feito um projeto, encaminhado para Brasília para ser aprovado, para ser feita a licitação, depois uma empresa vencer e iniciar a obra. Isso pode levar de um a dois anos”, afirmou.

Ela justificou o atraso em exames, dizendo que a Secretaria está “com sérias deficiências nessa área”, da mesma forma que na coleta de exames laboratoriais que são terceirizados. “Estamos com uma licitação em andamento para coleta na zona rural”.

Uma questão em particular chamou a atenção de todos. Anderson Rafael Kluck Sievers, de 20 anos, sofreu um acidente, em janeiro de 2014, quando tomava banho em uma cachoeira na região. Desde então perdeu os movimentos das pernas e dos braços, e precisa fazer fisioterapia quatro vezes por semana para ter uma chance de recuperação.

Ele recebeu ajuda do gabinete do vereador Professor Adinho no deslocamento para a cidade uma vez por semana e a Secretaria da Saúde também o encaminhava mais duas vezes. Mas a irmã de Anderson, Paula Goeritz de Sievers, inconformada porque o jovem precisa aumentar o número de atendimentos em Pelotas, para depois ser encaminhado ao Hospital Sarah Kubitschek, em Minas Gerais, ingressou com ação na Justiça. Até agora, a Secretaria não atendeu a ordem judicial.

Na reunião, a vice-prefeita disse à Paula que levará o assunto à secretária Arita para buscar uma solução. Anderson, que se encontrava dentro do carro da Prefeitura, para ser levado ao centro da cidade, disse que quer receber atendimento como qualquer pessoa. “Sou de Pelotas, não preciso morar no centro para ter os mesmos direitos. Posso voltar a andar, nem que seja de muletas, mas tenho que fazer o tratamento”.

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