CPI DA FERNANDO OSÓRIO : Prefeitura foi alertada sobre problemas nas obras
A engenheira civil Gracielle Bergmann, responsável pela engenharia de produção das obras da Avenida Fernando Osório, no bairro Três Vendas, afirmou, em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito, da Câmara Municipal, que investiga possíveis irregularidades na execução dos serviços, que o consórcio vencedor da licitação enviou 185 ofícios à Prefeitura, alertando para problemas que deveriam ter sido solucionados pela equipe do próprio Executivo antes de as obras iniciarem.
A Prefeitura enviou 56 respostas, mas, segundo a engenheira, em nenhuma concordou com o que foi alertado.
“O consórcio SP (formado pela Construtora Pelotense e a SBS Engenharia, responsáveis pela obra de revitalização da Fernando Osório) executou o projeto conforme a licitação”, afirmou a engenheira. Nos documentos enviados constavam preocupações quanto a fissuras na pista, problemas com drenagem e vazamentos, a sub-base da pista que não era de boa qualidade. “Nas paradas de ônibus, quando o asfalto começou a trincar, o consórcio recolocou o asfalto; quando trincou novamente, removemos a sub-base, colocamos areia, mesmo com a Prefeitura afirmando que a sub-base era de boa qualidade, e sem nenhum custo para a Prefeitura”, explicou Gracielle Bergmann.
Ela afirmou ainda que ao iniciarem a obra não sabiam que havia erros, porque o projeto foi executado por engenheiros da Unidade Gerenciadora de Projetos (UGP) do Executivo. “Se a Prefeitura vai a Brasília com um projeto, vai ao Banco Mundial e consegue verbas, se acredita que o projeto não tem falhas”, disse a engenheira. “Começamos a ver os problemas quando a obra estava sendo executada”.
Presidida pelo vereador Marcos Ferreira (PT), a CPI recebeu grande número de parlamentares na oitiva dos representantes do Consórcio SP. O relator, vereador Marcus Cunha (PDT) e o secretário, Ivan Duarte (PT), basearam-se no projeto e nos demais documentos encaminhados pelo Executivo para encaminhar a maior parte dos questionamentos.
ANHANGUERA – Um dos trechos da Avenida Fernando Osório que apresenta mais problemas é o localizado em frente à Faculdade Anhanguera. Segundo Gracielle Bergmann, a obra foi executada três vezes, na pista sentido bairro/centro, logo após a travessia segura (quebra-molas).
“Devido ao grande fluxo de veículos e ao tráfego pesado, o asfalto começou a escorregar e a formar ondas. Trocamos três vezes, e na terceira alertamos a Prefeitura de que o procedimento mais eficiente seria colocar placa de concreto, mas mandaram colocar asfalto”, contou a engenheira.
Da mesma forma, ela explicou que os problemas na ciclovia, na entrada do Pestano, surgiram, em parte, por causa da tubulação de esgoto, que foi fechada com o mesmo material que havia sido extraído do local onde os tubos foram enterrados. “Alertamos que as condições de compactação não seriam as ideais, mas fizemos a obra com a autorização do engenheiro Lélio Brod, (da UGP) no canteiro central da Fernando Osório, embora avisássemos que havia pontos com vazamento de água e que o consórcio não se responsabilizaria, porque em contato com a água o asfalto perde durabilidade.
O engenheiro civil Marco Antônio Marmitt também depôs. Ele confirmou as informações da colega e disse que junto com a licitação o consórcio recebeu o memorial da obra, o projeto e uma planilha de quantitativos levantada pela Prefeitura, “que deve ser verdadeira e não pode ser modificada”.
Durante toda a realização da CPI, a diretora administrativa da Construtora Pelotense, Helena Fragomeni Bernasconi, esteve presente, acompanhando os depoimentos dos engenheiros. Indagada se poderia avaliar o projeto de revitalização da Avenida Fernando Osório, feito por equipe de engenheiros da Prefeitura, ela preferiu não se manifestar. “Não cabe à empresa avaliar. O que se deve perguntar é qual o objetivo da Prefeitura ao fazer este projeto? Qual a durabilidade que a obra deveria ter? Essas informações não constam do projeto”, afirmou.