O DRAMA DE MARLI : “Deus vai me dar essa vitória”
Marli Matias correu por 25 anos, mas está há oito meses numa cadeira de rodas. Ela treinava praticamente todos os dias. Agora sua rotina são as sessões de fisioterapia. Um drama que desafia sua fé. “Deus vai me dar essa vitória.”
Tudo mudou de repete na vida de Marli Matias, 51 anos. Ela se preparava para viagem a Rio Grande e ajudar na organização da XXII Supermaratona de Rio Grande, que foi realizada no dia 15 de março. “Estava com uma lesão no tendão e não ia competir, eu ia ajudar o pessoal (atletas) como massagista. Senti uma dor do lado, que se deslocou para a lombar e não caminhei mais”, recorda a atleta.
Do Pronto Atendimento da Unimed para a internação no Hospital São Francisco de Paula. Um mês de hospitalização. O diagnóstico é de isquemia medular. As causas não são conhecidas. “Tem muita gente com essa doença por causa de uma infecção, até uma infecção de garganta mal curada… No meu caso não foi. Não foi vírus, nem bactéria”, afirma Marli, sem entender o que causou a paralisia nos membros inferiores.
Em casa, Marli Matias enfrenta a “maratona” para a recuperação dos movimentos das pernas. “Antes, eu não sentia as pernas. Agora sinto dormência e alguns puxões”, conta a maratonista, que se anima com a resposta da fisioterapia. “Já consigo ficar de pé. Se eu puder voltar a andar, abraçar as pessoas, que sempre tiveram muito carinho comigo, já vai ser muito bom.”
FÉ – A rotina de treinos, competições, vitórias, troféus e medalhas foi substituída pela limitação de uma cadeira de rodas e a incerteza em relação ao futuro. A única certeza do momento é que a fé torna-se a fonte da esperança. “Para Deus nada é impossível”, diz Marli Matias. “Tenho momentos de tristeza, mas nesta hora entrego tudo nas mãos de Deus”, completa.
Patrocinada pela Unimed-Pelotas, Marli realiza fisioterapia com a equipe de fisioterapeutas da cooperativa médica. O acompanhamento é com o neurologista Otávio Freitas e generalista Gustavo L. Uliano. De todos eles, a paciente houve a mesma resposta para as dúvidas: a recuperação é possível, mas demorada. É preciso ter muita persistência.
CARREIRA – Por muito tempo, Marli Matias foi a principal referência do atletismo de Pelotas. Falar no seu nome era como falar de atletimo. Primeiro, competindo em provas curtas, nas quais era preciso ter exploração e velocidade; depois, as maratonas, com a necessidade de possuir resistência. Nas duas modalidades, uma vencedora. Colecionou título e premiação – inclusive, participando de competições de padrão internacional, como a São Silvestre, em São Paulo.
Acostumada a deixar as concorrentes para trás, Marli enfrenta agora seu maior desafio: levantar da cadeira de rodas e voltar a caminhar.
Doença rara e causas variadas
A isquemia medular é uma doença rara. O médico neurologista Flamarion Freitas diz que a manifestação é semelhante à isquemia cerebral, embora muito menos comum. “As causas são as mais variadas e necessitam ser bem investigadas. Pode ser por um tumor, muitas vezes benignos, ou então uma inflamação. Também pode ser causada pela formação da estrutura medular, muito estreitinha e acaba sendo pressionada”, afirma Freitas.
Segundo o médico, o diagnóstico é necessário se comprovado por exames, como ressonância magnética. Caso contrário, a isquemia medular pode ser confundida com a esclerose múltipla, porque os sintomas e as consequências são os mesmos. “Precisamos recorrer ao diagnóstico diferencial, que é o que irá apontar o procedimento correto.”
Se as causas são variadas, a recuperação da isquemia medular depende de cada paciente, além da localização e do tamanho do local onde ocorre a diminuição do fluxo sanguíneo e, por consequência, do oxigênio. “A recuperação depende de uma série de variáveis, incluindo o histórico do paciente, como, por exemplo, se ele não tem diabetes”, completa Flamarion Freitas.
(Por Caldenei Gomes)