Violência no transporte e criminalidade geram debate
Com o plenário lotado por funcionários das empresas de transporte coletivo de Pelotas, a Câmara de Vereadores debateu, por quase três horas, o crescente número de assaltos que envolvem também violência física contra motoristas, cobradores e usuários, e que, somente em outubro atingiram a 22 ocorrências.
O ex-vereador Zequinha, que também presidiu o Sindicato dos Trabalhadores do Transporte Rodoviário de Pelotas, disse que os agressores “não levam só dinheiro, eles agridem, humilham, chegam a tirar os calçados pra ver se não tem dinheiro dentro. Já são mais de 50 funcionários afastados para tratamento psicológico, um colega levou uma bala no rosto. Como vamos convencê-los a continuar trabalhando se não temos segurança?”
Zequinha afirmou que o sistema de transporte coletivo é composto pelo Poder Público, os trabalhadores, as empresas e o público que utiliza o sistema. E criticou os empresários: “eles deveriam se preocupar e dar segurança aos trabalhadores e usuários. Os trabalhadores estão no limite. Vamos fazer toque de recolher pela vida se não podem oferecer segurança, porque não podemos dar nossas vidas pelo transporte”.
Em nome do Sindicato, Zequinha garantiu que a categoria vai cessar as atividades, diariamente, a partir das 19h ou 20h, para garantir a integridade física dos funcionários e passageiros.
A deputada Miriam Marroni (PT), vice-presidente da Comissão de Segurança Pública na Assembleia Estadual, disse estar “assustada” com os números da violência em Pelotas. “Mais de 80 homicídios, 22 assaltos a ônibus em um mês, não é justo que a vida das pessoas fique desta forma”.
Ela pediu aos vereadores que participem da votação do orçamento do Estado para 2016, para o qual foi apresentada emenda popular que garante mais recursos à área de segurança. Ela também pediu que parlamentares e trabalhadores do transporte coletivo se reúnam para pressionar o governo do Estado a chamar os concursados das polícias Civil e Militar a ocupar seus cargos, uma vez que em Pelotas menos da metade do efetivo está na ativa.
REPERCUSSÃO – O presidente do Legislativo, Ademar Ornel (DEM), disse que a situação é muito mais complicada do que se imagina. Além da violência do dia a dia sofrida pelos funcionários e passageiros de ônibus, “que a qualquer momento podem ser obrigados a entregar dinheiro e seus pertences sob a mira de um revólver, vamos assistir as escolas fecharem, o comércio fechar, porque o setor do transporte tem uma importância muito grande para a cidade”.
Nas manifestações dos parlamentares, a grande questão foi o descaso do governo do Estado com a segurança pública. O afastamento de policiais tanto civis quanto militares, por aposentadoria ou licenças de saúde cresceu vertiginosamente. O não pagamento de horas extras, cortadas no governo Sartori, diminuiu pela metade o que seria o contingente de homens nas ruas.
Segundo o major Rogério Vasconcelos, subcomandante do 4º BPM, a criminalidade aumentou em Pelotas com o crescimento do tráfico de drogas e dos usuários, que “alimentam os homicídios pela disputa de áreas, pelas dívidas”. Segundo explicou, a Brigada Militar trabalha no desarmamento e no combate ao tráfico com os recursos do Batalhão e o policiamento comunitário. Ele prometeu intensificar as ações nos fins de semana, mas também afirmou que “o ideal seria a prevenção, mas nos faltam recursos”. E completou: “desde o comandante Pitham até o último soldado, estamos todos na rua. Não falta vontade, mas há dificuldades conhecidas”.
ABASTECIMENTO – O delegado Guilherme Calderipe, titular da Delegacia Especializada em Furtos Roubos Entorpecentes de Pelotas, Defrec, foi enfático. O aumento da criminalidade em Pelotas está diretamente ligado ao tráfico de drogas “que abastece delitos como os dos ônibus, praticados por usuários de drogas”.
Ele também garantiu que a sua delegacia vem tentando fazer um trabalho preventivo, mas, muitas vezes, são chamados quando o crime já ocorreu. O delegado se ofereceu para debater a situação dos assaltos aos ônibus com o Sindicato.
Também se colocou à disposição para trabalhar em conjunto com a Brigada Militar, o diretor de segurança da Prefeitura, Adilson Mazin. Ele explicou que a Guarda Municipal tem poder de polícia e está pronta para ajudar a combater a criminalidade. “Hoje existe uma briga de facções na cidade. Cada executado leva 16 tiros. Se nós não funcionarmos, eles funcionam”.
Último a se manifestar, o secretário de Trânsito e Transporte, Cláudio Montanelli garantiu que “enquanto estiver à frente da Secretaria não medirei esforços para preservar a integridade de quem usa os ônibus e de quem trabalha”. Ele disse que o órgão realizou 1.400 abordagens a veículos entre quinta-feira e domingo para auxiliar no combate à violência e se colocou como parceiro das instituições policiais de Pelotas.
ENCAMINHAMENTOS – Propositor da audiência pública, o vereador Marcos Ferreira (PT) encerrou a reunião apresentando os seguintes encaminhamentos: a criação da Frente Parlamentar de Segurança Pública que se reunirá mensalmente para discutir o enfrentamento à violência no município; a audiência com o secretário de segurança pública do Estado, Wantuir Jacini; e a participação no debate sobre o orçamento estadual para 2016, visando emendas que aumentem os recursos para a segurança.