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ENTREVISTA COM ROGÉRIO ZIMMERMANN : “É possível e necessário evoluir”

ENTREVISTA COM ROGÉRIO ZIMMERMANN : “É possível e necessário evoluir”
21 dezembro
08:38 2015

O Brasil terá seu maior desafio deste período de ascensão – iniciado há três anos – na temporada de 2016.

O grupo é muito parecido com o dos anos anteriores. O técnico Rogério Zimmermann acredita que os jogadores podem continuar evoluindo.Até porque isso é necessário, principalmente para fazer boa campanha no Brasileiro da Série B.

O treinador alerta, porém, para os riscos do Gauchão. “Um campeonato curto e com índice alto de equipes que vão ser rebaixadas.” Por isso, ele defende a posição de que o Brasil deva jogar no Bento Freitas. Não gostaria de dividir o uso de um gramado, onde duas equipes tivessem jogando. “Qual gramado do mundo resistiria?”, questiona, citando o rigor do inverno gaúcho. Nesta entrevista ao DIÁRIO DA MANHÃ, Zimmermann aponta também os jogos mais importantes do Brasil na temporada de 2015 e aquela atuação que mais lhe agradou. Ou seja, aquela em que sua equipe esteve mais equilibrada. Afinal, para ele, o futebol é isso: equilíbrio. 

“O que está acontecendo com o Brasil é exceção.  E a exceção pode terminar de hora para outra”

“O que está acontecendo
com o Brasil é exceção.
E a exceção pode terminar
de hora para outra”

DM – O Brasil vem evoluindo desde 2012. Maiores desafios a cada ano, mas o grupo responde na proporção das necessidades. Para 2016, os principais jogadores permanecem no clube. Isso significa que existe confiança de que é possível evoluir ainda mais?

Zimmermann – Acredito que é possível e necessário. Tudo que a gente fez em 2015, que foi um ano de sucesso, talvez a repetição desse mesmo nível não seja suficiente em função das competições – algumas parecidas, como é o caso do Campeonato Gaúcho, mas o Brasil, pela campanha que vez, sendo olhado de maneira diferente pelos adversários; e uma Série B (Brasileiro) de nível técnico superior a todas as competições que a gente enfrentou até agora. Então vai ser necessário avançar. É possível avançar se a gente conseguir se manter mais ou mesmo no mesmo ritmo dessas últimas temporadas, pois os jogadores, de um ano para o outro, têm alcançado nível técnico melhor.

DM – Você tem alertado para os riscos do Gauchão. Um campeonato curto, de poucos jogos, e com 25% de chance de rebaixamento de uma equipe, excluindo à Dupla Gre-Nal da hipótese de queda para a segunda divisão. O Brasil não entra na competição com vantagem em relação aos concorrentes do interior pelo fato de manter praticamente o mesmo grupo das últimas temporadas?

“Quando as pessoas falam, vamos jogar em tal lugar... É como se o futebol fosse só definir quem vai ficar com o bar,  com a arquibancada, com  a social. O futebol se decide é no gramado”

“Quando as pessoas falam,
vamos jogar em tal lugar…
É como se o futebol fosse
só definir quem vai
ficar com o bar,
com a arquibancada, com
a social. O futebol se
decide é no gramado”

Zimmermann – É alto o índice de equipes que vão ser rebaixadas. Caem três de 12 equipes, tirando a Dupla Gre-Nal. O nível técnico é muito parecido, porque praticamente são os mesmos jogadores, que saem de uma equipe e vão para outra. E se são os mesmos jogadores, as dificuldades são muito parecidas com as do ano anterior. Poderia ficar um pouco mais tranquilo se fosse uma competição, a exemplo do Campeonato Brasileiro, que é pontos corridos, porque qualquer erro você tem como recuperar. Quando o número de partidas é pequeno, alguma vantagem que o Brasil poderia ter – por ter jogado mais, ter jogado partidas decisivas – talvez não apareça tanto. Como é uma competição muito equilibrada, o que pode mudar é uma boa pré-temporada e como as equipes vão se comportar nas rodadas iniciais, porque se não começar bem pode gerar uma pressão maior, um estresse… Então tem muita coisa assim subjetiva, que não se pode afirmar antes da competição que o Brasil levantaria vantagem, mesmo tendo esse sucesso dos anos anteriores. Então eu fico preocupado, porque eu sempre digo que equipes do interior não têm essa estabilidade dentro do campo normalmente. O que está acontecendo com o Brasil é exceção. E a exceção pode terminar de uma hora para outra.

DM – Você tem revelado a importância de o Brasil mandar seus jogos no Bento Freitas em 2016. Caso o Xavante não possa jogar em casa, qual será o tamanho da perda?

Zimmermann – Vamos falar da teoria. Na teoria, seria muito grande. Nós tivemos neste ano dificuldades jogando algumas partidas fora de casa, se nós jogarmos a maioria ou a totalidade de jogos fora, o prejuízo será muito grande. Todas essas preocupações que eu falei do Campeonato Gaúcho anteriormente, elas aumentariam. Nós perderíamos uma força que nós temos. Quando as pessoas falam, vamos jogar em tal lugar, vamos jogar aqui, ali… É como se futebol fosse só quem vai ficar com o bar, quem que vai ficar com a arquibancada, quem é que vai ficar com a social… Não, no futebol é no gramado que se decide. Nós temos que jogar num bom gramado. Qual gramado do mundo que resistiria duas equipes jogando no inverno, com chuva, com barro? Nós iríamos perder qualidade de granado. Isso reflete nos resultados. Não adianta a gente se preocupar só num bom teatro, num teatro legal, se no palco o som estiver ruim. Por mais que as pessoas tentarem fazer o melhor, se o som estiver ruim… A questão é o gramado. Às vezes a gente quer tomar as decisões, pensando só em quem está sentado na arquibancada. Só que quem está sentado na arquibancada, quer assistir um grande jogo e quer ver seu time vencer. Se você tirar os jogos do Bento Freitas, as chances de nós termos sucesso vão ficar reduzidas.

DM – O Brasil teve grandes jogos em 2015. Dá para citar a vitória contra o Grêmio na Arena; os jogos com o Flamengo pelo caráter histórico do confronto entre as equipes, depois de 30 anos; a épica virada diante do Londrina, com três gols em seis minutos; a classificação para as quartas de final da Série C em Juiz de Fora; e o acesso para a Série B no Castelão. Qual foi a partida que mais lhe marcou na temporada?

Zimmermann – Ah! É difícil. Foram tantos jogos. O jogo final, o jogo épico, que vai ficar marcado é o jogo contra 60 mil pessoas, porque dificilmente isso vai se repetir. Hoje, as arenas são para 50 mil pessoas. São poucos os estádios no País, com capacidade para mais de 60 mil pessoas. E se tiver capacidade para mais de 60 mil pessoas, poucos serão os jogos que vão ter motivação para levar mais de 60 mil pessoas. Nós tivemos o quarto melhor público do ano. E foi ainda o jogo do acesso. Isso marca muito. Só que para nós chegar ali no ponto final, nós tivemos outros jogos extremamente importantes e decisivos, que nos deram confiança. Vamos pegar o Campeonato Gaúcho. Nós vencemos o Grêmio na Arena. Isso é um marco. Depois você tem o jogo com o Lajeadense, no Aldo Dapuzzo, que nos deu a chance de chegar a uma semifinal e praticamente ao bicampeonato do interior. Tivemos jogos de Campeonato Brasileiro. Você vencer a Portuguesa de 4 a 1 é fantástico. Você vencer o Juventude no Alfredo Jaconi por 3 a 2… O jogo com o Tupi, que foi extremamente decisivo. Teve outros jogos, que não vencemos, mas jogando muito bem, como contra o Guarani, em Campinas; e a Portuguesa, no Pacaembu. Os jogos contra o Flamengo, aqui, com o estádio completamente lotado e com transmissão aberta para todo o País; o jogo no Maracanã… Então, é uma infinidade de grandes jogos importantes, porque um está ligado ao outro. Se talvez não tivéssemos vencido um desses jogos, não teríamos chegado ao de Fortaleza; e mesmo que tivéssemos chegado, talvez não com a mesma confiança que ganhamos em outros jogos anteriores.

DM – E qual a atuação que beirou a perfeição? Aquele jogo que pode servir de exemplo para o futuro?

Zimmermann – Eu acho o jogo contra o Grêmio, porque você tem que analisar também a qualidade do adversário. O jogo com o Fortaleza foi fantástico em termos táticos, em termos de marcação, mas faltou alguma coisa em termos de agredir mais, mas também não era necessário. Um jogo que a gente uniu essas duas coisas foi o primeiro jogo contra o Fortaleza. Nós adquirimos a vantagem, nós marcamos o gol com o Cleverson; e nós tivemos ainda mais umas duas, três chances – no segundo tempo com o Gustavo Papa, com o Nena… No primeiro tempo, com o Nena cabeceando uma bola, que bateu no poste. Nós produzimos muito, fizemos um gol que nos deu o acesso; e não sofremos gol. O Eduardo Martini teve intervenções, mas não se compara ao segundo jogo. Estou buscando o jogo em que nós fomos equilibrados, porque isso que é o futebol. 

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