CANTO DE CONEXÃO : O nefasto genocídio de negros e negras
Sexta às 15h na Ocupação Canto de Conexão, debate sobre o racismo institucional e a violência contra a população negra
Por Carlos Cogoy
Em levantamento da Anistia Internacional há cinco anos, houve a verificação de 56 mil assassinatos no Brasil. Era 2012 e, desse total, trinta mil eram jovens, com idades entre quinze e 29 anos. Do montante, 77% eram negros, e apenas 8% dos casos chegaram a julgamento. Já estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), divulgado ano passado, e abrangendo o período entre 2005 e 2015, demonstra que a taxa de homicídios entre brancos caiu 12,2%. No entanto, entre os negros houve aumento de 18,2%. Os dados em âmbito nacional, proporcionalmente também são verificados na realidade local. Em Pelotas, que já registra 39 homicídios neste ano, anualmente a maioria tem sido de jovens negros.
Essa realidade é considerada como “genocídio”, e decorre da história de exclusão. Na trajetória brasileira, ao invés dos imigrantes europeus que receberam oportunidades e inserção no mercado de trabalho, os negros foram “libertados” da senzala para a favela. A questão é grave, delicada e urgente. Numa sociedade democrática, necessita ser plenamente debatida. Com esse intuito, amanhã acontecerá a roda de conversa “O nefasto genocídio de negros e negras”. Na Ocupação Canto de Conexão – esquina das ruas Benjamin e Álvaro Chaves -, estarão participando a professora Ledeci Coutinho – ex-secretária municipal de educação de Canguçu -, pesquisadora e professora Carla Ávila, e a estudante de psicologia Kizzy Lessa Coutinho Vitória (UFPel). Apoio: Conexão Mulher; Frente Negra Pelotense; Marrabenta.
GENOCÍDIO – A acadêmica Kizzy observa: “É importante salientar que a população negra está colocada nessa situação de vulnerabilidade social, desde a abolição da escravatura pois, ao ser liberta, ganhou como presente as mazelas de uma sociedade que não nos incluiu. E sistematicamente persistiu nos excluindo do processo de desenvolvimento econônimo, político, social e cultural deste País. E o genocídio não é praticado somente com armas de fogo, mas também de forma epistemológica, quando, nos trabalhos apresentados pelos pesquisadores brancos, nós negros, servimos somente como objetos. Além disso, diariamente somos vítimas do racismo, do preconceito e da discriminação, e isso pode ser considerado parte de um projeto que visa atacar nossa autoestima, acarretando a eliminação do sujeito negro na sociedade, seja de forma física ou psíquica”.
PELOTAS – Em relação à realidade local, Kizzy avalia: “Pelotas não está fora do Brasil. A maioria da população negra está localizada nas periferias. Então, vítima em potencial do uso de substâncias ilícitas. Dessa maneira, analisando também em âmbito nacional, podemos presumir que a violência chega primeiro aos locais mais pobres da sociedade. E, se a população negra já é perseguida pelas instituições que visam a suposta segurança da população, em Pelotas o Código de Convivência, se aprovado, só irá consolidar esse tipo de atitude. Afinal, tirar o lazer
dos jovens, e prejudicar as pessoas que têm nos bares noturnos seu sustento, não deveria ser a postura adotada pelo poder público, já que o problema que vai muito além de um copo de cerveja em determinados locais. O Código de Convivência é uma pauta que serve, única e exclusivamente, para uma higienização no centro da cidade”.